Mais uma vez, neste sábado (25), o Grêmio deve ter a presença do volante Michel atuando como zagueiro. Diante do Atlético-MG, na Arena, pela sexta rodada do Brasileirão, será a nona partida do Tricolor em 2019 com uma improvisação na posição. As lesões de Marcelo Oliveira, Paulo Miranda e, mais recentemente, Kannemann, têm obrigado Michel a atuar mais atrás do que ele está acostumado. Mas, afinal, tem tanta diferença assim para um volante jogar como zagueiro?
Um dos casos mais emblemáticos no futebol brasileiro relacionado a esta troca de função ocorreu com Wilson Piazza. O volante do Cruzeiro era capitão da Seleção Brasileira nas Eliminatórias e se preparava para a disputa da Copa do Mundo de 1970, no México. O técnico João Saldanha foi demitido, e Zagallo assumiu em seu lugar. O novo comandante começou a recuá-lo em treinos, depois em amistosos e, quando José de Anchieta Fontana se lesionou, ele assumiu de vez a posição e foi campeão mundial na zaga.
Do alto de seus 1m76cm, Piazza garante que a principal diferença dentro de campo é a exigência física. Segundo ele, os volantes se sacrificam e correm mais. Por isso, entende que jogar como zagueiro é mais fácil:
— Mais à frente, como volante, você atua como um facilitador da defesa. Sempre dá os primeiros combates. Já o zagueiro tem de estar mais pronto para antecipar a jogada. Se não conseguir, deve saber cercar. Pelo alto, se não dá para ganhar, precisa atrapalhar. Não pode deixar o atacante cabecear fácil, mirar.
O mineiro de Ribeirão das Neves, hoje com 76 anos, ainda disputou a Copa de 1974, na Alemanha Ocidental. Na ocasião, voltou a atuar como volante. Piazza avalia que seu sucesso como zagueiro no Mundial anterior se deve à sua capacidade de antever as jogadas. Como dica para quem é deslocado para a defesa, inclusive, ele diz que é preciso "se casar com o atacante".
— Zagueiro que se preza nunca anda sozinho. Precisa estar casado ao adversário. Se fica sozinho, está errado. Quando o defensor não consegue antecipar, precisa ter paciência, cercar e tentar ficar o mais próximo possível da área, para não deixar buracos — orienta o campeão mundial.
Outros casos de volantes recuados para a zaga com sucesso apareceram na Copa do Mundo de 2002. Anderson Polga, que virou líbero com o técnico Tite no Grêmio, além de Edmílson e Gilberto Silva, companheiros de Polga na conquista do Mundial na Coreia do Sul e no Japão. Os três atuaram nas duas funções e chegaram à Seleção Brasileira, um indício de que bons volantes também podem ser bons zagueiros.
Mas esse não é um caso unicamente do futebol brasileiro. No Barcelona multicampeão sob o comando de Pep Guardiola, o argentino Javier Mascherano virou defensor. Com o mesmo Guardiola, o espanhol Javi Martínez também foi recuado.
O inverso também pode ocorrer. Os zagueiros brasileiros David Luiz, do Chelsea, e Marquinhos, do Paris Saint-Germain, já jogaram como volantes em suas equipes. Outro que passou por isso foi Adilson Batista, capitão do Grêmio na conquista da Libertadores em 1995.
Defensor habilidoso, atuou mais à frente quando o Tricolor não tinha Dinho ou Goiano. Para ele, o volante tem mais facilidade de atuar como zagueiro do que o contrário.
— Digo isso porque comecei no meio e depois fui jogar atrás. Acho muito mais fácil. Mais atrás, você tem uma visão mais ampla, uma colocação melhor. No meio, o jogador precisa correr mais, se desgasta mais, participa mais — avalia.
Com improviso na zaga, porém, os números do Grêmio não são bons. O time disputou oito partidas, sendo duas vitórias, duas derrotas e quatro empates — 41,6% de aproveitamento. No caso específico de Michel, Adilson pondera que a questão não se dá apenas pelo recuo.
— O Michel já havia jogado de quarto zagueiro (pela esquerda) antes de chegar o Grêmio. Então, para ele, acho que a dificuldade ainda maior é quando precisa jogar de central (pela direita), pelo cacoete de atuar pelo outro lado — argumenta o Capitão América gremista.
Grêmio com duplas de zaga improvisadas em 2019:
- 8 jogos
- 2 vitória
- 2 derrota
- 4 empates
- 13 gols marcados
- 8 gols sofridos
- 41,6% de aproveitamento
- Pelotas 0 x 2 Grêmio (Michel e Marcelo Oliveira)
- Juventude 0 x 6 Grêmio (Michel e Marcelo Oliveira)
- Grêmio 0 x 0 Juventude (Rômulo e Marcelo Oliveira, depois Cortez na vaga de Oliveira, que saiu machucado)
- São Luiz 0 x 0 Grêmio (Michel e Kannemann)
- Avaí 1 x 1 Grêmio (Geromel e Michel)
- Grêmio 4 x 5 Fluminense (Michel e Kannemann)
- Ceará 2 x 1 Grêmio (Michel e Geromel)
- Juventude 0 x 0 Grêmio (Michel e Geromel)