A perda da vaga para a final da Libertadores foi mais dolorosa porque veio no final paradoxal de uma partida sob controle: num velho esporte que se joga com os pés, os dois lances cruciais foram protagonizados pelas mãos; na nova era em que a tecnologia desfaz as injustiças que o olho humano não vê, os olhares eletrônicos só foram capazes de corrigir um dos erros.
O bug no sistema encaminhou a tão sonhada final argentina — o Boca Juniors já tinha aumentado sua vitória contra o Cruzeiro na Bombonera depois de o VAR interferir para que Dedé fosse injustamente expulso. Enquanto isso, uma interface antiquada permitiu que Boca e River escalassem jogadores inscritos irregularmente sem sofrer punição. A palavra isonomia (igualdad, em espanhol) não consta no dicionário da Conmebol.
Idiossincrasias sul-americanas à parte, nenhum time disputa uma semifinal tão complicada desfalcado de seus três melhores jogadores impunemente. Sem Luan nos dois jogos, com Kannemann só na partida de ida e Everton em meio tempo na volta, seria muito difícil vencer o River Plate, que é melhor do que o Grêmio.
Falta de sorte à parte, porque Paulo Miranda estava perfeito e teve que ser substituído, o time muito bom do segundo semestre de 2018 é o pior Grêmio da era Renato: o campeão da Copa do Brasil, com Douglas e Maicon em forma e Luan de falso 9 jogava mais; o campeão da Libertadores, com Edilson e Barrios, e Luan em grande fase, era ainda melhor; o campeão gaúcho e da Recopa, com o formidável Arthur, gastava a bola.
Neste clima de fim de festa, é preciso dizer que o Grêmio de 2018, se cometeu erros de avaliação no elenco, também foi punido pela grandeza. Em condições normais de temperatura e pressão, o time do melhor treinador do país venceria pelo menos o Brasileiro, mas o calendário esdrúxulo e a desfaçatez da CBF ao convocar Everton pra passear com a Seleção foram muito prejudiciais.
Pensando para a frente, apesar de a noite que encaminharia o tetra ter se tornado tétrica pelas bandas do Humaitá, é possível vislumbrar um grande 2019 com a manutenção da base, a ascensão de Matheus Henrique, a contratação de um centroavante e uma pré-temporada decente, que depende da obtenção de uma vaga direta para a Libertadores. O tetra escorreu pelas mãos, mas 2018 ainda não terminou.