Michel deveria ficar atento ao que dizem os astros. Em 22 de outubro de 2017, ele voltou a desfilar seu futebol elegante pelos gramados menos de um mês após passar por uma artroscopia no joelho esquerdo. Precisamente um ano depois, os astros voltaram a se alinhar para que o volante comemorasse uma nova volta aos campos, após cinco meses de batalha contra duas lesões.
As coincidências não param aá. Em 25 de outubro do ano passado, foi também em um jogo de ida de uma semifinal de Libertadores, então em Guayaquil, contra o Barcelona, que Renato Portaluppi o colocou em campo, no lugar de Jailson. Na noite de terça-feira, 23, Michel devolveu com juros a confiança do técnico ao marcar, de cabeça, o gol que praticamente empurra o Grêmio para uma nova decisão de Libertadores.
Além de coincidências, a história de Michel com a camisa do Grêmio também é feita de superação. No dia 13 de junho, quando o Brasileirão foi interrompido pelo início da Copa do Mundo e os jogadores do Grêmio foram liberados para um período de férias, tudo indicava que ele já havia curado a lesão muscular sofrida em maio, contra o Monagas, na Venezuela. Por tudo isso, era possível prever que ele teria condições de voltar a campo em julho, na retomada do campeonato.
As dores, contudo, ressurgiram já no primeiro treino após a parada, dia 25 de junho. Para surpresa dos médicos, o resultado dos exames por ele solicitados apontou que o problema muscular, em vez de sumir por completo, havia se agravado. Respeitou-se o direito à privacidade de um profissional em férias. Ficou, no máximo, uma desconfiança de que a lesão tenha voltado por conta de um esforço mais forte nos dias de repouso.
Na prática, em vez de voltar a campo, Michel precisou retomar a estafante rotina de dois turnos diários de fisioterapia, em uma nova parada que se estendeu por 70 dias. Dia 5 de setembro, enfim, foi escalado pelo técnico Thiago Gomes no time de transição em partida contra o Inter-SM, no CT de Eldorado do Sul, pela Copa Wianey Carlet. O que parecia ser o final de um drama converteu-se em outro. Desta vez, o volante precisou sair de campo no intervalo, por conta de uma lesão no tornozelo direito.
Por tudo isso, o jogo contra o América-MG, sábado, em Belo Horizonte, pode ser considerado um marco. Michel permaneceu o tempo todo em campo, observado com especial atenção por Renato, que já projetava utilizá-lo em Buenos Aires.
— Passa um filme na cabeça. A luta das lesões. Foram três seguidas — comove-se o jogador.
O gol de cabeça contra o River Plate, ponto culminante de uma atuação praticamente perfeita, foi oferecido por Michel como presente de aniversário ao primo Levi Barbosa da Silva, que completou 39 anos no dia do jogo. Segundo uma previsão sua, a vitória do Grêmio se originaria de um cabeceio do volante, como, de fato, ocorreu.
— Ele me mandou mensagem porque era meu aniversário. Aí eu disse: "Já que tu lembrou de mim, faz um gol hoje de noite. Dedica pra mim. E esse gol vai ser de escanteio, você vai subir e fazer de cabeça". E foi bem assim que aconteceu — comemorou Levi.
Segundo o primo, que mora no Rio, esta foi a segunda vez que um pedido de gol seu foi atendido por Michel. A primeira teria sido contra o Botafogo, no primeiro turno do Brasileirão. E ele também teria adiantado que o jogador marcaria de cabeça. Levi explica que o porte físico e a altura do volante contribuem para este tipo de jogada.
— Nós somos muito chegados, falamos quase todos os dias. Ele é um guerreiro, está sempre lutando. Perdeu a mãe com dois anos, todos conhecem a história dele. Crescemos juntos na comunidade da Penha, no Rio de Janeiro. Todo mundo aqui o conhece e dá apoio. É um cara humilde, merece — diz Levi.
— Michel foi um jogador muito importante nas nossas conquistas no ano passado. Ele voltou bem, no momento certo. E vai continuar nos ajudando muito — aposta Renato.
Gustavo Fogaça, comentarista da Rádio Gaúcha e analista de desempenho, saúda a volta de um jogador que, por seu comprometimento tático e execução das estratégias coletivas, assegura a boa execução de um modelo de jogo.
— Michel pode segurar mais o posicionamento e liberar o maestro Maicon para chegar mais perto da área, onde suas assistências se tornam perigosas. Ou pode ele subir e levar intensidade na transição e um bom chute de fora da área — entende Fogaça, que elogia a excelente leitura de jogo do volante, capacidade física para o desarme e o bom passe.
Em 2017, quando voltou da artroscopia, Michel teve o dissabor de ver Jailson ocupar o seu lugar à frente da área, ao lado de Arthur. Pelo menos nesse caso, não haverá coincidência com o ano passado. Pelo que jogou em Buenos Aires, a vaga no time passa a ser sua, ao lado de Maicon.
As dores de Michel
30/9/2017 - Passa por artroscopia no joelho esquerdo
15/5/2018 - Contra o Monagas-VEN, em Maturin, sofre lesão muscular na coxa direita
5/9/2018 - Volta em jogo do time de transição contra o Inter-SM, pela Copa Wianey Carlet, sofre lesão no tornozelo direito