Falar de Palmeiras e Grêmio equivale a entrar no túnel do tempo e desembarcar nos anos 1990. Válidas por Libertadores e Copa do Brasil, as partidas daquela época, cujas imagens ainda hoje encantam quando resgatadas no youtube, polarizavam as atenções do país inteiro. Como voltará a acontecer no jogo em que os dois clubes se reencontram, neste domingo, no Pacaembu, cujo resultado poderá aproximar o time gaúcho da liderança ou escancarar ao paulista as portas do título do Brasileirão.
Um dos personagens dos épicos confrontos entre as duas equipes em 1995 e 1996 volta ao cenário após 22 anos. Luiz Felipe Scolari, que, à época, treinava o Grêmio, agora encontra-se em lado oposto. Se depender do treinador, tão gremista quanto palmeirense, e admirador confesso de Renato Portaluppi, o encontro deste domingo ainda irá se repetir outra vez antes do final da temporada.
— Espero que a gente passe e o Grêmio também e possamos nos encontrar na final da Libertadores — afirma o técnico, flagrado, durante a semana, segurando nas mãos anotações sobre os desfalques gremistas no Pacaembu.
A história registra quatro enfrentamentos entre os dois comandantes deste domingo. Em três delas, Renato era jogador e Felipão, técnico. Na outra, ambos estavam na casamata. Houve uma ocasião, contudo, em que dois dos treinadores mais vitoriosos da história do Grêmio estiveram do mesmo lado. Dia 4 de julho de 1995, pela Copa dos Campeões Mundiais, disputada em Brasília, Felipão treinou Renato em jogo contra o Flamengo. O ponteiro atuou apenas por 33 minutos, o suficiente para fazer uma jogada típica de seus melhores tempos pelo lado direito e cruzar para Jardel marcar de cabeça o primeiro gol do jogo. Pouco depois, Renato deixou o campo para a entrada de Arílson e viu Jardel marcar mais um. Vitória sem sustos por 2 a 0 para mais de 24 mil espectadores.
Outro personagem também se mistura com a história recente dos dois clubes. No Grêmio, o técnico Roger Machado, hoje sem clube, assumiu em 2015 no lugar de um desgastado Felipão e montou a base que desaguou nos quatro títulos conquistados por Renato Portaluppi. No Palmeiras, apesar do aproveitamento de 66%, foi demitido em julho e substituído por Scolari.
— Pela instabilidade do momento, era necessária uma troca, apesar do desempenho. Sem dúvida nenhuma, fui pego de surpresa— admite Roger, ao falar sobre sua saída do clube paulista.
O ex-lateral-esquerdo orgulha-se de, como jogador, ter sido forjado por Felipão. Em maio de 2015, ao assumir em seu lugar como técnico, diz ter tirado proveito do trabalho prévio feito por ele com jogadores como Walace, Everton, Pedro Rocha e Luan, que, sob seu comando, chegariam ao auge.
Também amigo de Renato, de quem foi auxiliar técnico em dois momentos, Roger fica feliz quando recebe parte dos méritos do trabalho que resultou em títulos como o pentacampeonato da Copa do Brasil e o tri da Libertadores.
— Nessa construção de um ano e quatro meses, tenho certeza de que houve uma contribuição minha. Mas, cada treinador tem uma sistemática, uma forma de ver o jogo. Renato colocou a sua e o Grêmio tem obtido ótimos resultados — observa.
Titular de um meio-campo do Grêmio que também contava, nos anos 1990, com Dinho, Goiano e Arilson, este promovido a partir da lesão de Emerson, o ex-jogador Carlos Miguel vê hoje as duas equipes em condições de equilíbrio.
— O Palmeiras tem um grupo melhor e, em termos físicos, mais inteiro. O problema é que há muitos jogadores jovens. Já a força do Grêmio é o conjunto, a experiência. Mas é um time muito dependente dos 11 titulares — avalia.
Dos anos 1990, perduram lembranças "memoráveis", destaca Carlos Miguel, hoje com 46 anos. Sem saudosismo, ele traça a perspectiva do que virá a partir deste domingo.
— Se o Palmeiras ganhar, tira um rival do caminho e encaminha o título. Se a vitória for do Grêmio, a coisa muda. Renova a concorrência com o Palmeiras e o resultado terá reflexo até para o jogo de ida contra o River — projeta o ex-meia.
Como gremistas e palmeirenses, Carlos Miguel espera que este novo Palmeiras e Grêmio também produza histórias suficientes a ponto de ser lembrado pelas próximas gerações.