Em boa hora para a torcida do Grêmio, Jael e Alisson mostraram poder de fogo e construíram, junto com André, os 4 a 0 frente ao Botafogo, sábado. Até então, Everton, goleador do time na temporada, com 15 gols, impunha-se como única alternativa confiável no ataque. Convocado para dois amistosos da Seleção Brasileira, o atacante não atuará contra Santos, quinta, na Vila Belmiro, e Inter, domingo, no Beira-Rio. Como o melhor ataque brasileiro da temporada compensará o peso de sua ausência?
O ex-atacante Paulo Isidoro, que desenvolve atualmente um projeto social com garotos carentes na cidade de Confins, vizinha a Belo Horizonte, confia que o estilo de jogo da equipe será mantido — independentemente do substituto escolhido pelo treinador.
— Dá gosto ver o Grêmio jogar — empolga-se o jogador que foi peça decisiva na conquista do Brasileiro de 1981, o primeiro obtido pelo clube gaúcho, sob o comando de Ênio Andrade. — Renato montou um esquema que vale para qualquer estádio. Não tem esse negócio de time retrancado, medroso, como muitos que a gente vê por aí.
Seja quais forem as peças escolhidas para o ataque, Renato valoriza o poder de fogo de sua equipe. No Brasileirão, o Grêmio, com 29 gols, é o quinto melhor ataque, atrás de Atlético-MG (37), São Paulo (35), Palmeiras (33) e Flamengo (32). Em compensação, tem a melhor defesa, com 11 gols sofridos.
— O Grêmio é o time que mais fez gols no Brasil na temporada. É mais uma prova de que jogamos para dentro do adversário — comemora o treinador.
No melhor ano de sua carreira, Everton é o responsável por 18% dos 83 gols feitos pelo Grêmio em jogos oficiais — a estatística não inclui o amistoso contra o Corinthians, durante a Copa do Mundo, no qual o time de Renato foi derrotado por 2 a 1. Os efeitos da chamada "Evertondependência" foram diminuídos no sábado pelos dois gols e a empolgante atuação de Jael, complementados pelo oportunismo de Alisson, que já havia marcado de cabeça contra o Estudiantes de La Plata, forçando a decisão nos pênaltis que levou o Grêmio às quartas de final da Libertadores. Credenciais que fazem dele o substituto de Everton.
— Eu não gosto do bê-á-bá no futebol. Quando Maicon pediu para sair, eu poderia ter colocado um volante. Mas sou um treinador adepto do futebol ofensivo. Alisson entrou muito bem — explicou Renato.
Paulo Isidoro também vê no ex-cruzeirense uma boa solução.
— A torcida pode ficar tranquila com ele. Alisson está jogando com muita personalidade. Evoluiu muito desde que saiu do Cruzeiro. O futebol do Sul fez bem a ele.
O crescimento de Jael também diminui o peso da influência de Everton sobre o rendimento do ataque. Embora Renato valorize o fato de André também ter marcado gols nas últimas duas partidas e, com isso tenha recuperado sua autoestima, é o Cruel o novo centroavante titular. Na última segunda-feira, em entrevista ao canal ESPN, ele disse já ter vivido outras boas fases. Mas confia que o momento atual é o ponto de partida para consolidar o melhor momento de sua carreira.
Com bom humor, Renato pede cautela aos que se empolgam com o crescimento de Jael. No primeiro semestre, após o centroavante marcar gol de falta à moda Zico em um Gre-Nal na Arena, o técnico pediu que não se criasse um monstro. Agora, vai na mesma linha:
— Menos, menos. Eu corto o mal pela raiz e vocês colocam adubo na raiz.