A discussão se renova a cada partida do Grêmio, sempre mais acalorada. Pressionado a justificar o alto investimento feito para trazê-lo do Sport, em março, André desperdiça oportunidades para fazer gols e vê crescer a sombra de Jael, uma reivindicação de boa parte da torcida.
Até mesmo eventuais erros de Jael são encarados com maior tolerância pelos torcedores. A compensação, explicam, vem na forma de doação ao time e em assistências precisas, algo que André não consegue fazer.
Os números são amplamente favoráveis ao Cruel, conforme dados de Marcos Bertoncello, colunista de GaúchaZH. Em 28 jogos, ele marcou seis gols e deu oito assistências. Participação direta, portanto, em 14 vezes em que o Grêmio chegou às redes adversárias. André, nas 18 vezes em que foi escalado, fez três gols e não contribuiu com assistências.
Ao marcar um dos gols da vitória por 2 a 0 contra o Atlético-MG, dia 18 de julho, no reinício do Brasileirão, André parecia ter se livrado do trauma. Até o técnico Renato Portaluppi pensou dessa forma.
— Quando o jogador tem qualidade e não está rendendo o que sabe, você tem que passar confiança. Falamos antes da Copa que faríamos uns treinamentos específicos. Fizemos e já vinha melhorando. Ele é goleador, é um jogador dedicado, tem qualidade. Faltava um gol, para tirar o peso das costas — disse o treinador, na ocasião.
André, porém, voltou a sofrer críticas contra Vasco e Flamengo, pelo Brasileirão, e na terça-feira, diante do Estudiantes, no jogo de ida das oitavas de final da Libertadores.
Jael transita na contramão. Sábado, na vitória dos reservas contra o Flamengo, teve personalidade para recuperar-se de um pênalti desperdiçado, fez um gol e serviu um passe açucarado para Marinho marcar o segundo. Para muitos, não há mais justificativas para ser preterido.
Solidário, Jael preocupa-se, também, em defender seu concorrente.
— Eu mesmo sofri um pouco para me adaptar a maneira de o Grêmio jogar. Vejo entrega de parte dele, todo mundo vê. Daqui a pouco ele vai começar a fazer gols — afirma.
O debate faz aumentar a expectativa quanto ao jogo de domingo, contra o Vitória, em que o Grêmio usará time reserva. Se o centroavante for André, é sinal de que ele perde espaço. Se o escolhido for Jael, é sinal de que o técnico segue firme em suas convicções, ainda que elas contrariem a torcida.
A opinião de ex-atacantes
Os dois são grandes atletas. Sorte do Renato Portaluppi de ter dois jogadores com essa qualidade. Hoje é uma função carente no futebol brasileiro, mas ele tem duas opções excepcionais. Acredito que o Grêmio vai chegar forte nas três competições. Ele conhece bem a função, tem o grupo na mão e tem o dia a dia para saber qual peça escalar".
Guilherme Alves
"Quando o Grêmio contratou o André, pensei que esse seria o centroavante que iria se encaixar bem no sistema do Grêmio. Mas o cara não está conseguindo jogar. Futebol é momento, e o do Jael é melhor. O jogo provou. Achei que começaria com o Jael na Argentina, que é jogador de contato. Acho que próximos jogos deve ser com o Jael. Todos esperam que o André dê uma resposta, mas ele não está conseguindo. Está sem confiança e a outra opção está nas graças da torcida. O momento é do Jael".
Gilson Cabeção
"O Jael é centroavante mais de área, finalizador. Depende da característica de toda a equipe. É uma escolha difícil do Renato, que tem feito boas escolhas. Ele já foi atacante e sabe o que é melhor pra equipe. Como Jael é muito finalizador, pode ser colocado posteriormente, para atender as necessidades da partida. É uma escolha difícil, isso é. O Renato tem crédito pra escolher o que é melhor".
Baltazar
"Embora o André tenha uma qualidade técnica melhor o Jael tem aproveitado bem as oportunidades com mais empenho e incomodando mais os adversários mas ambos são importantes para a sequência do Grêmio acho ainda que não faz tanta diferença que entra jogando e sim quem aproveita melhor o momento dentro de campo. A sequência será desgastante e terá oportunidades até para quem nem está como opção no momento".