Antes de sair acusando o árbitro Anderson Daronco de estar mal-intencionado, como já andei lendo nas fogueiras das redes sociais, ou de afirmar que o Gauchão 2018 está "manchado por erros de arbitragem", seria legal que o pessoal que está aí para jogar lenha na fogueira começasse pelo básico: juízes de futebol erram desde sempre, e seguirão errando.
Existem falhas históricas contra o Grêmio, a favor do Grêmio, contra o Inter, a favor do Inter, no Brasileirão, no Gauchão, na Libertadores e por aí vai. Eles erram porque são humanos e erram por estarem mal preparados ou por pertencerem uma categoria que deveria ser profissionalizada, em um universo que movimenta milhões de reais, todos os meses, como é o futebol.
Aqui, um parêntese: recomendo a leitura da sempre atual, e excelente, matéria do colega Sérgio Villar, aqui de GaúchaZH, publicada em 2015, sobre as agruras da vida de juízes "amadores" em um esporte milionário e profissionalizado. Joga luz sobre uma profissão complicada, cobrada por todos, mas que recebe um investimento ridículo.
Voltando ao tema que gerou esta coluna, o debate sobre o lance que culminou na expulsão de Éder Sciola, na vitória do Grêmio sobre o Brasil-Pel, neste domingo (1º) na Arena, ouvi especialistas que entendem muito mais do riscado do que este jornalista. Diori Vasconcelos, por exemplo, crava que a expulsão foi justa, e que Éder deu uma joelhada em Luan. Márcio Chagas, ex-árbitro, comentarista da RBS TV, afirma que a expulsão foi demasiada, mas, observem, respeita a decisão de Daronco em outros dois momentos de sua fala: quando diz que ele já havia avisado que não permitiria o rodízio de faltas em cima de Luan e quando diz que tudo não pode entrar na conta de Daronco.
Até aí, tudo certo, os dois especialistas pensam diferente e trazem bons argumentos para sustentar suas teses. O que não dá para admitir é a radicalização, para dizer o mínimo, de alguns que desrespeitam Daronco ou a Federação Gaúcha, falando de complô ou outras bobagens, como a lamentável entrevista do presidente do Brasil, dizendo que "fizeram de tudo para o Grêmio ganhar". Não, presidente, não fizeram de tudo. O Grêmio venceria igual, seria campeão igual, contra o bom time do Brasil, que atuou bem ontem.
Aliás, presidente, o senhor e o bom técnico Clemer deveriam, além de reclamar da arbitragem, que é direito de vocês, questionar a atuação do próprio Éder. Afinal, um zagueiro profissional, que já tem cartão amarelo, em uma final de Gauchão, precisa entrar no lance daquela maneira? Um lance que não traria nenhuma consequência. Ora, no mínimo, ele deveria ter se preservado, ainda mais que Daronco já havia avisado que não deixaria impune o rodízio sobre Luan, como não deixou no Gre-Nal, aliás.
O senhor se sentiu prejudicado? Imagino que sim, e é justo que se sinta, sua indignação encontra sustentação em várias opiniões qualificadas. Mas, prometer uma guerra e dizer que fizeram de tudo para o Grêmio ganhar, presidente, é pequeno de sua parte, enquanto presidente de um importante time do Interior. Uma pena. Essa, e outras manifestações, em nada contribuem para acalmar os ânimos em uma situação como esta.