Luan estava radiante quando entrou no 15º andar do Hotel Aloft, no luxuoso bairro de Punta Carreras, em Montevidéu, na última quarta-feira, para receber o prêmio de Rei da América. Sétimo brasileiro a ganhar aquela que é considerada a principal premiação do continente, promovida pelo jornal uruguaio El País, o camisa 7 gremista estava dando mais um passo que parecia para ele próprio inimaginável.
Nascido em São José do Rio Preto, no interior paulista, Luan teve momentos difíceis em sua vida, como a perda do pai. A mãe, Márcia, ficou como única provedora precisou criar sozinha Luan e o irmão. O futuro craque gremista começou a mostrar seu potencial aos oito anos, quando passou a jogar futsal.
O campo só chegou à sua vida em 2012, quando foi jogar no Tanabi-SP. No ano seguinte, fez uma boa Copa São Paulo de Juniores pelo América-SP, na qual marcou seis gols e chamou a atenção do Grêmio, onde desembarcou depois de uma breve passagem pela Catanduvense.
A partir dali, estava aberto o caminho para a carreira de Luan decolar. Após a chegada ao Grêmio e a estreia como profissional, em 2014, foram 221 jogos, 59 gols, três títulos (Copa do Brasil, Libertadores e Recopa) e uma medalha de ouro olímpica, algumas convocações para a Seleção, além de prêmios individuais como duas Bolas de Prata da Revista Placar, uma presença na lista do Prêmio Craque Brasileirão da CBF, a eleição de melhor jogador da Copa Libertadores da América de 2017 e o título de Rei da América.
Em Montevidéu, ele foi a grande estrela gremista. Na véspera da partida contra o Defensor, os jornais já davam destaque à presença do Rei da América e destacavam: "Ahora es el turno de Luan".
A dias de completar 25 anos, em 27 de março, Luan concedeu mais de uma entrevista coletiva e respondeu sobre diversos temas. No final, quando todos já haviam deixado o local de premiação, o craque gremista foi avisado de que um menino uruguaio o aguardava na porta do hotel para ganhar um autógrafo e tirar uma foto. Nesse momento, pediu ao assessor de imprensa, Guilherme Araújo, que descesse ao hall e conduzisse o pequeno Juan Ignacio, 11 anos, até seu quarto. Lá atendeu o fã, que estava acompanhado pela mãe.
Logo após receber o prêmio, Luan falou sobre a satisfação de ser eleito o melhor do continente, as conquistas em apenas quatro anos como profissional, a relação com Renato, o Grêmio, a amizade com Neymar, o futuro da carreira e, claro, Seleção Brasileira.
Como você se sente recebendo um prêmio que já teve Romário, Ronaldinho e Neymar como vencedores?
Só craque ganhou esse prêmio. Fico muito feliz por ser mais um a vencê-lo,. Pelo ano que a gente teve, pelo título. Ganhar esse prêmio individual aqui foi para coroar um ano que, para mim, foi maravilhoso.
Já são três grandes títulos pelo Grêmio e um ouro olímpico. Como tem sido isso pra você?
Tenho quatro anos como profissional. Muito pouco tempo, mas consegui ganhar esses títulos, uma medalha com a seleção que ninguém tinha ganhado até então. Títulos com o Grêmio - Copa do Brasil, Libertadores, Recopa - depois de tantos anos. Em um ano e três meses, a gente vencer esses três títulos é para ficar na história. Então está acontecendo tudo muito rápido na minha vida. Agradeço meus companheiros, porque, sem eles, não seria possível. Ganhar um prêmio individual coroa mais um ano de evolução. Espero poder estar aqui novamente.
Você imaginaria que, em apenas quatro anos, conquistaria tanto assim?
Não imaginava. Não me imaginava nem jogador. Porque eu não tinha em mente me profissionalizar. Comecei meio tarde, cheguei ao Grêmio com quase 19 anos. Então, às vezes, a ficha demora para cair de tudo que conquistei no Grêmio, a medalha com a Seleção. Só tenho de agradecer a Deus por esses momentos.
O Renato sempre fala que é preciso vencer para marcar no clube.
Ele fala, tem de ter o quadro, a foto na parede. Para ficar marcado na história, tem de ganhar títulos. E o nosso grupo vem mostrando que pode chegar bem em qualquer competição. É preciso manter foco, humildade e concentração para que a gente pode conquistar todos os nossos objetivos.
No começo, em alguns momentos, você teve uma relação difícil com parte da torcida. Foram muitas cobranças. Como você trabalhou isso?
É verdade. Eu não estava acostumado com isso e, do nada, veio um monte de gente cobrando. Mas como sempre tive cabeça boa, me mantive tranquilo. Aprendi muito, antes do futebol. Então, levo isso para a vida. A minha conduta, eu não mudo. Não ligo para o que os outros falam. Claro que ouvir elogios é sempre bom, mas as críticas eu absorvo e vejo o que tenho de melhorar. Não me deixo abater por nada, acho que tenho uma cabeça boa e nada disso nunca vai me atrapalhar. Mantive a cabeça boa para jogar e ajudar meus companheiros e deu certo, com títulos e prêmios individuais.
Como é a relação com o Renato?
A gente tem uma relação muito boa. Ele tem uma boa sintonia com todos os jogadores. Nisso, ele é fenômeno, para conduzir o grupo. Não tem o que fica com birra porque não tá jogando. Ele procura ser justo com todos. Isso é muito importante. Não é fácil conduzir um grupo de 30 jogadores ou mais. O Renato faz isso muito bem. Fora de campo, é amizade o que ele tem com a gente. Ele dá essa liberdade para a gente brincar, ele também brinca. É uma ótima relação.
E jogar com a 7 que foi dele, Renato?
Sobre jogar com a 7, ele sempre fala pra eu olhar os DVDs dele. Mas sempre assim, de forma sadia. Sempre passa conselhos, o que é importante pra mim. É bom ouvir os mais velhos, aprendendo. Então, ele tem essa relação comigo e sempre brinco que estou chegando perto dele. Espero fazer o que ele fez aqui no Grêmio, de poder conquistar grandes títulos e ser lembrado pra sempre. Seria um sonho.
Mas esse DVD do Renato existe ou é conversa?
Mostrar, ele não mostra, não. Mas ele fala pra gente ver os lances dele. Esses dias, eu pude ver uma reportagem, mostraram alguns lances dele pra mim.
E ele jogava bem?
Jogava bem, jogava.
Teria vaga hoje?
Teria. A gente arrumaria uma vaguinha pra ele ali. A gente sempre brinca quanto a isso. A gente sabe dos títulos que ele conquistou, da história que ele tem no Grêmio. Quero chegar perto, chegar ao que ele conquistou.
Na eleição dos jornalistas de toda a América, você foi bem, fez quase 50% dos votos e ganhou a premiação. Mas agora tem uma eleição mais apertada, que é a do Tite. Como serão os próximos meses pra convencer ele de que você merece ser eleito?
Seria muito bom, né, ter essa vaguinha. É um sonho que eu tenho de defender a Seleção, de pode estar participando. Vou trabalhar aqui no Grêmio, fazer o meu trabalho. Ele disse que estava vendo o Grêmio. Temos de dar o nosso melhor aqui. Ele que decida. Claro que a gente fica na expectativa de ter uma vaga, de estar ali no meio, de fazer parte deste grupo.
Você chegou a falar com o Neymar, depois da lesão do final de semana passado ? Afinal, vocês têm um relação muito boa...
Não, não procurei falar com ele agora nesse momento. Deve ter muita gente... deve estar com a cabeça somente nisso. Preferi dar um tempo. Eu falei com ele antes, um pouco antes do jogo. Estava tudo normal, né? Mas acho que isso não vai atrapalhá-lo para a Copa. Ele vai voltar rápido, a gente espera que volte o mais rápido possível, porque tem de estar nessa Copa.
O que você pensa do futuro?
Eu tenho de pensar aqui no Grêmio. É o momento, a gente pensa jogo a jogo como um grupo. Procuro não pensar lá na frente. O futuro não tem como saber, como planejar. Eu tenho que fazer o meu agora para melhorar sempre a cada dia.
Deixa um recado para a torcida do Grêmio
Neste ano, tem muita coisa boa para a gente. Esse grupo merece muito e está trabalhando forte pra isso. E que a torcida nos apoie nesses jogos, que a gente vai buscar mais títulos com certeza.