No dicionário dos treinadores de futebol, bom problema significa contar com mais de uma alternativa qualificada para cada posição da equipe. No Grêmio, é Jailson quem, no momento, cria essa dificuldade de escolha para Renato Portaluppi. Em sua melhor fase desde o surgimento, em 2016, o volante firma-se ao lado de Arthur e ganha pontos na disputa com Maicon e Michel.
Em 2018, Jailson esteve presente nas 12 vezes em que o técnico escalou força máxima. Em sete, atuou por 90 minutos. Nas outras cinco, só foi substituído quando o Grêmio precisou recorrer a um esquema mais ofensivo.
Os últimos jogos têm mostrado um jogador com mais autoridade para realizar a transição entre meio-campo e ataque. E com maior acerto nos passes, o que era apontado como sua principal deficiência.
— Jailson é rápido, diminui os espaços para o adversário — pontua Renato, questionado sobre sua opção pelo jogador nascido em Caçapava do Sul e que teve passagem pela Chapecoense antes de retornar ao Grêmio no começo de 2016.
Jailson viveu um 2017 irregular, embora a venda de Walace ao Hamburgo, no início do ano, tivesse lhe aberto a perspectiva da titularidade. Só no início de outubro, logo após a cirurgia de Michel, firmou-se como parceiro de Arthur. Aproveitou bem a chance e manteve-se na equipe até o final da temporada. Das 79 partidas disputadas pelo Grêmio no ano, esteve presente em 44.
O crescimento dentro de campo é fruto das cobranças de Renato. O treinador, que já rigoroso ao exigir atenção na marcação, insiste cada vez mais para que o passe saia caprichado. Contra o Avenida, Jailson só acertou menos nesse item do que o insuperável Arthur.
— Ele é um operário da bola. Trabalha para o bem da equipe. Técnico nenhum abre mão desse tipo de jogador. Corre muito, ocupa espaços, não é grosso — elogia o ex-volante Luiz Carlos Goiano.
Uma das virtudes destacadas em Jailson pelo parceiro de Dinho na lendária equipe do Grêmio bicampeã da Libertadores, em 1995, é a disposição para marcar.
— Hoje em dia, a maioria dos volantes só fica fechando o espaço e não desarma. Jailson é diferente. Rouba a bola e torna mais rápida a transição — observa Goiano.
A vida fora dos gramados também tem peso decisivo para a melhora de Jailson. É o chamado jogador que vai de casa para o CT Luiz Carvalho e vice-versa. Não dispensa a companhia da namorada, Simone, e da mãe, Maria Enedina, que trouxe de Caçapava do Sul para morar com ele em junho passado, em um apartamento no bairro Lindóia, zona norte da Capital.
Antes, Jailson morava no Menino Deus com o zagueiro Denilson e o sul-africano Ty, hoje no Figueirense, e sofria, entre outros problemas, com a falta de maior controle nas refeições. Sem falar no pouco cuidado com o sono.
— Ele é um garoto de apenas 22 anos, que precisava de um acompanhamento. A melhora é resultado do forte suporte emocional e das chances que recebe de Renato — analisa o advogado Rodrigo Severo, responsável, junto com o conselheiro Ben Hur Marchiori, pela vinda do volante para testes no Grêmio, no final de 2013.
Os elogios também são bem administrados. Jailson capricha para seguir os passos de Arthur e um dia atuar em um clube da Europa.
— Ele sabe que não pode se deslumbrar. Ainda tem muita coisas por vir na carreira _ diz Severo, que confirma sondagens de Hoffenheim e Schalke, ambos da Alemanha, embora não considere este o momento certo para dar andamento a qualquer tratativa.