Coração gasto por 120 minutos, mãos unidas em oração, olhar cravado na TV e o pensamento fixo: "pega, Grohe, pega, Grohe". Pegou! MilaGrohe! Grêmio bicampeão da Recopa! Quase acordei o prédio com o berro pelo título. O vizinho brasiliense que ainda não sabia, agora, sabe: no 410 mora um gremista feliz.
Lágrimas nos olhos, abracei minha mulher, Vanessa (também uma gremista feliz), pluguei na Gaúcha e bati no peito com a festa na Arena. Como é bom conquistar um título, ouvir o hino, ver o capitão levantar um caneco. Cenas que há um ano e meio pareciam improváveis.
Lembrei dos 15 anos de jejum e de como desejei reviver a epopeia "scolariana". O inverno me transformou em pessimista nato, torcedor fanático, mas sempre com medo que algo dê errado. Até o Grêmio de Renato, Romildo, Grohe, Geromel, Kannemann e Luan dar outro rumo à história. Copa do Brasil, Libertadores e Recopa.
Ao longo da quinta-feira, pensei nas cenas épicas da trinca de conquistas. E voltei a setembro de 2016, ao momento em que Weverton se preparou para cobrar o pênalti que nos eliminaria da Copa do Brasil. Quase resignado, mentalizei: "pega, Grohe, pega, Grohe". Pegou!
O Imortal eliminou o Furacão e arrancou para o penta. À época, um amigo lembrou que título chama título, e que o Grêmio abria um ciclo de vitórias. Um 2017 de ansiedade acabou coroado com o tri da América. E 2018 abre com a reconquista da Recopa em um jogo no qual a bola teimava em não entrar. Exorcizamos o fantasma dos pênaltis. Foi preciso acreditar até o final.
Nós, gremistas, merecemos curtir cada segundo desta fase, pois jamais cogitamos desistir do clube. Aliás, vejo em Marcelo Grohe a imagem da resistência. Reserva, titular, reserva, titular. Conviveu com críticas, muitas das quais endossei. Respondeu com trabalho e ficou no Grêmio.
Grohe acreditou como cada gremista. Com o ciclo de taças, mudou seu patamar. Já o Imortal reforçou o status copeiro e o torcedor mudou a forma de ver o time. Ficou mais confiante e menos ranzinza. Esse ambiente atrai novas conquistas.
No meu caso, espero que o modo pessimista de torcer tenha sido expurgado. A trilogia de taças ensina a perseverar. Que esse ciclo de conquistas se prolongue! Queremos mais copas!