O mês de dezembro não foi como Arthur esperava. O plano era estar em Abu Dhabi na preparação para enfrentar o Real Madrid. Mas desde a lesão no tornozelo esquerdo, que o tirou do Mundial, o volante de 21 anos teve uma foto com a camisa do Barcelona vazada, comentou um jogo do Grêmio ao lado de Galvão Bueno e agora retorna a Goiânia para curtir alguns dias de descanso. Abaixo, o próprio jogador tenta explicar o seu intenso fim de 2017.
Qual o sentimento de não participar do Mundial?
Para falar a verdade, parecia que a ficha ainda não tinha caído nos primeiros dias. Coloquei o gesso e fui de férias para Goiânia no início desta semana. Aí foi complicado de aceitar, mas estou mandando força para a rapaziada
Quando ficou sabendo da gravidade da lesão?
Foi no dia seguinte na chegada a Porto Alegre. O médico olhou o exame e disse que não teria condições de jogar, que tinha rompido os ligamentos do tornozelo e que precisaria de 30 dias até estar recuperado. Quando o médico me disse que foi uma lesão de grau 3, não acreditei. Meu exame clinico era bom, mas o exame de imagem mostrou que rompi totalmente o ligamento.
O que passou na sua cabeça?
Na hora doeu muito, mesmo no calor do jogo. Normalmente tiramos a chuteira para melhorar a circulação quando vamos para o intervalo. O médico me disse para fazer isso e eu respondi não. Se tirasse a chuteira, não conseguira colocar de volta pelo inchaço. Ali achei que era sério. Mas depois foi só clima de festa. Nem estava pensando nisso, era campeão da Libertadores. Marcamos o exame e fui fazer com a esperança de poder jogar.
Consegue manter contato com os companheiros?
A gente tem um grupo no Whatsapp, falamos bastante por ali. Dei parabéns depois do jogo contra o Pachuca. Estavam todos muito felizes. Meu contato é pelo celular mesmo. Falo mais com o Ramiro, Edilson, Geromel, Kannemann, Maicon e Fernandinho, mas tenho contato muito bom com todos.
Como foi participar da transmissão da Rede Globo?
O Galvão é um ícone da televisão, crescemos escutando ele narrar. Quando recebi o convite, no dia da premiação dos melhores do Brasileirão, fiquei muito feliz. Foi gratificante ter este reconhecimento. Queria estar junto no vestiário, é muito bom o ambiente. Mas quando fui convidado, me senti dentro do jogo. Vidrado ali na transmissão, uma experiência única, torcendo e comentando.
E como fez na comemoração do gol?
Era o meu maior medo, estava comentando, mas era um torcedor a mais. Na hora da emoção, talvez fale uma bobeira ou outra. É uma coisa muito legal falar na televisão, com todos assistindo. Foi uma das coisas que contive. Quando desligava o microfone, desabafava, batia na mesa, levantava e pulava. Querendo ou não, é uma emoção muito grande.
É mais difícil ver o jogo de fora?
Muito mais. Quando saí do jogo contra o Lanús, foram os 40 minutos mais angustiantes da minha vida. Queria muito, muito jogar. Estava vivendo um sonho de jogar a final de uma Libertadores e tive que sair. Olhava o cronômetro de cinco em cinco segundos e o tempo não passava no banco de reserva (risos).
Com tanta coisa acontecendo, como está o final de ano?
Sinceramente, foi um ano muito melhor do que esperava. Comecei sem muito prestígio, com as coisas sem caminhar como eu desejava. A angustia de estar no profissional, mas não jogar. Foi tudo acontecendo, o Renato me deu oportunidade e o grupo me abraçou. Invés de reclamar, tenho que agradecer pelas muitas coisas boas que aconteceram. Foi um ano maravilhoso, só tenho a agradecer.
Quem te ajudou a ficar no Grêmio quando você não tinha oportunidades?
Na época o Júnior Chávare era diretor, com quem tinha trabalhado na base. Ele sempre conversava comigo, me falava da minha qualidade e que me acompanhava desde pequeno e que sabia que minha hora iria chegar. Não tinha muito contato com o presidente Romildo, mas nas poucas vezes que falamos, ele me disse que o Grêmio apostaria em mim também. Estes dois me mantiveram no Grêmio, garantiram minha permanência. Meu pai, que sempre me aconselhou bastante. e meu empresário também. São sete anos de clube, tenho uma vida aqui e aprendi a ser gremista. No futebol, às vezes, precisa dar um passo para trás para dar dois para a frente. Pensei em sair emprestado para jogar, mas permaneci e deu tudo certo.
Quais os pontos fortes do Real Madrid?
O Real Madrid tem um contra-ataque muito forte. Tem que neutralizar o poder ofensivo deles, esse será o segredo. Ter humildade para saber que o Grêmio terá que marcar bastante, e tentar sair um pouco no contra-ataque também. Não podemos nos acovardar, precisa respeitar o Real Madrid, mas temos qualidade. Não chegamos a uma final de Mundial à toa. Humildade para reconhecer nossas limitações e explorar nossas melhores armas. A virtude do nosso time é a cumplicidade dentro da campo, somos uma família. O Renato é muito experiente, não poderia ter um treinador melhor do que ele nesta situação para saber o que fazer dentro de campo.
É a favor da construção da estátua?
Sou a favor, pô (risos). Se for preciso, eu mesmo faço a estátua. Painato, né. Como não dar uma estátua pra ele.
O que aconteceu no dia da foto com a camisa do Barcelona?
Meu empresário me disse que alguns diretores do Barcelona viriam a Porto Alegre me conhecer. Sempre fazem este primeiro contato, mas é de boa fé. Nada para esconder do Grêmio. No meio do almoço, me ofereceram uma camisa do Barcelona. Quem não quer uma camisa deles, vestir a camisa deles e jogar no Barcelona? Foi uma foto que não deveria ter vazado, mas vazou. Tudo já foi esclarecido. O Grêmio tem os direitos econômicos. Se surgir uma proposta oficial, eles terão que conversar com o Grêmio para acertar com o Grêmio. Se for bom, conversam comigo para acertar também. Até agora não tem nada de oficial.
Dá orgulho saber que um clube como o Barcelona está interessado?
Com certeza. Todos jogador sonha com isso. Primeiro se firmar em um grande clube do Brasil, criar uma identidade. Meu sonho era vestir a camisa do Grêmio como profissional, por tudo que passei aqui. Quando as coisas dão certo e outros grandes clubes do mundo se interessam, é muito gratificante. Uma virtude minha é reconhecer e ser agradecido, ter cumplicidade por tudo que passei. Não esqueço da minha origem, como as coisas não davam certo e quanto trabalhei para dar certo. No começo do ano era incerto se daria certo ou não, uma angustia grande.
Como foi a reação da torcida pela foto com a camisa do foto?
Não acho que afetou minha relação com a torcida. Recebi algumas críticas, mas no calor do momento. Tenho mais elogios do que críticas, uns 5% de torcedores me criticou. O resto foi mensagens de apoio no meu instagram, com muitos parabéns pela conquista da Libertadores e por como ajudei o Grêmio. É gratificante ter grandes clubes europeus, não só o Barcelona, interessados em você. Tiro como positivo a relação com torcida. Jamais sairia do Grêmio pela porta do fundo. Se for bom para mim e para o Grêmio, a torcida só terá a agradecer também. Sou gremista. Sempre que puder, vou ajudar o clube.
A torcida se ressente pelo que aconteceu com o Ronaldinho...
Não vai acontecer comigo. Tinha um contrato longo e fiz questão de renovar com o Grêmio. Foi uma coisa bonita, difícil no futebol. O clube quis me dar um reconhecimento. Tinha contrato até 2019, aumentamos dois anos. A renovação foi por cumplicidade, não por tempo de contrato. Tenho um relacionamento muito bom com o Grêmio. Jamais sairia pelas portas do fundo, e o clube tem segurança com o meu contrato.
Garante que vai estar no Grêmio no ano que vem?
Não tem como dizer, o futebol é muito imprevisível. Olha tudo o que aconteceu este ano (riso). Não tem como dar certeza que estarei aqui ou não.
Você acertou algum tipo de acordo com o Barcelona no almoço?
Não foi discutido nada. A gente não comentou nada de salário. Não me fizeram proposta. Vieram mesmo para conhecer minha família.
Que tipo de impressão você acha que deixou para os dirigentes do Barcelona?
Acho que saíram com uma boa impressão, também fiquei. Me trataram muito bem. Foram muito carinhosos com todos.
A reta final do tratamento no pé machucado será na Espanha?
Que nada, pô. É no Grêmio. Tenho contrato com o Grêmio. Só se surgir uma proposta e o Grêmio aceitar e resolver com todas as partes.