Ao recusar uma gorda proposta do Spartak Moscou, da Rússia, em agosto, ao final da janela europeia, Luan apostou todas suas fichas no tri do Grêmio na Libertadores. A dois jogos do título, o meia-atacante de 24 anos pretende repetir a trajetória de sucesso que seu técnico, Renato, também teve vestindo a camisa 7 em 1983. A final contra o argentino Lanús, é claro, não sai de sua cabeça.
E a possibilidade de enfrentar o Real Madrid de Cristiano Ronaldo no Mundial de Clubes o faz sonhar. Mas Luan está maduro e sabe esperar. Nesta entrevista ao Gaúcha ZH, mostra que a timidez ficou no passado.
À vontade, fala com desenvoltura sobre sua a renovação de contrato até 2020, as chances de disputar a Copa da Rússia pela Seleção de Tite, o relacionamento com a torcida e o sonho de conquistar a América e o Mundo vestindo a camisa 7 do Grêmio.
O quanto a perspectiva de título na Libertadores mexe contigo?
É uma competição diferente. Desde a minha primeira Libertadores, a gente sempre vinha batendo na trave. E, neste ano, poder disputar uma final é algo único. Como foram a Copa do Brasil e a Olimpíada. É inexplicável a sensação. Agora é manter a tranquilidade e focar para que a gente possa buscar este título.
O que vocês esperam deste Lanús que eliminou o River Plate com uma virada histórica?
A gente viu que é um time que não desiste. Mesmo quando estava perdendo, teve forças para virar. Temos de ficar atentos, eles têm seus méritos também por ter chegado a uma final, da mesma forma que a gente. O principal é que o Grêmio chegou. Agora é acertar os detalhes para ter o mínimo de erros possível.
Se for campeão, o Grêmio pode enfrentar o Real Madrid no Mundial. Tem como não pensar nisso?
Todos nós desejamos chegar lá. Mas a gente sabe que, se não jogar, não buscar o título contra o Lanús, isso não será possível. Então, temos de focar na nossa realidade de agora, que são estes dois jogos da final. Temos de entrar com tudo para levantar esta taça.
O Renato diz que você hoje é o melhor jogador do futebol brasileiro. Você concorda?
O principal foi que nossa equipe está muito bem neste ano. É muito difícil um clube grande como o Grêmio ter esse momento de sempre estar bem, disputando, sempre chegando. No individual, pude me sobressair. Jogar, ter regularidade, fazer grandes partidas e ajudar com gols e assistências. Isso eu deixo para ele (Renato), que é o treinador, falar. Ele é quem pode dizer isso.
É o melhor momento de sua carreira? Até superior em relação ao ouro na Olimpíada?
Vai ser melhor se nós conquistarmos a Libertadores. No ano passado, teve a Olimpíada, a Copa do Brasil. Aqui, estava uma pressão pelo fato de estar há tanto tempo sem ganhar. Então, o título tirou o peso. E, agora, ganhando também, serão os dois melhores anos da minha carreira.
Como foi atuar pela Seleção na Arena e ouvir a torcida chamando teu nome?
Vai ficar marcado como um momento inesquecível na minha estreia. Competição oficial pela Seleção e jogando em casa. Fiquei muito feliz de estrear aqui. Não é muito comum acontecer isso (torcida chamar pelo nome), mas fiquei muito feliz.
Você se enxerga em condições de estar na lista do Tite para a Copa?
Vou batalhar para buscar isso, é um sonho. O professor Tite já disse que não tem nada fechado. Então, tenho esperanças e muita vontade de estar nesta Copa. Vou procurar fazer meu trabalho aqui no Grêmio, dar o meu melhor. E, se tiver uma nova oportunidade, aproveitar bem.
Quando estava na Seleção, você recebeu aquela proposta do Spartak. Por que decidiu ficar no Grêmio?
A decisão foi totalmente minha. Eu senti que não era o momento de ir. Claro que a parte financeira, para quem começou com a vida humilde, acaba mexendo. Mas isso não é o diferencial para mim. Tenho o sonho de jogar uma Copa do Mundo, de ganhar uma Libertadores pelo Grêmio. E tenho o desejo de chegar lá, de buscar este título. Por isso, decidi ficar. Tanto que sempre falavam que eu iria, mas desde o início, já tinha em mente de que não iria.
Você até disse que só faltava perguntar para você.
Pois é, dei entrevista falando isso. Todo mundo falando que eu iria, mas ninguém me perguntou. Quem decide sou eu, e já estava decidido a não ir.
Mas é difícil recusar um caminhão de dinheiro assim, não?
É f..., balança, né. Mas senti que não era o momento. Não sou tão velho, vou ter outras oportunidades. Espero que, com o título, possa ter mais clubes. E, quando for o momento, eu sentir que devo ir, vou ir com cabeça boa.
A campanha na Libertadores foi o que mais pesou para você ficar?
Sim, até pelo que a gente vinha jogando. Este grupo merece um título. Ano passado, fomos coroados. E neste ano, tivemos regularidade e chegamos em todas as competições. Vocês (imprensa) disseram que era o time que jogava mais bonito no país. Isso pesou. Minha vontade de ganhar mais um título, também.
Como foi a negociação para renovar seu contrato? Qual a importância do Jair Peixoto, seu empresário, no acordo final?
Ele é meu empresário, tem de brigar por mim. Mas sempre respeitou as decisões do clube. É negociação, eles falam uma coisa, eu falei outra e chegamos ao meio-termo. Já tinha deixado a direção tranquila de que iria renovar. Não existia essa possibilidade, como muitos falaram, de eu sair de graça. Sou muito grato ao Grêmio pelas oportunidades que me deu. Era questão de tempo, na hora que tivesse mais tranquilo, a gente sentaria e acertaria tudo naturalmente.
Incomodava ouvir que você seria um "novo Ronaldinho" e sairia de graça da Arena?
É que as pessoas não sabem o que o jogador pensa, o que ele está fazendo. Eu não dava entrevista, não falava para ninguém. Quem sabia mesmo era eu, a direção e meu empresário. Nós estávamos tranquilos. Aí as pessoas ficam pensando "Está acabando o contrato, vai renovar, não vai, quer sair de graça...". Eles não me ouviram falar, né? Eu já tinha dado a minha palavra ao Grêmio, estava tranquilo.
E sua lesão? Você chegou até a jogar cinco minutos contra o Botafogo. Era difícil segurar a ansiedade para voltar à equipe?
Aquele jogo foi f... Eu tinha feito um exame um dia antes e estava com a lesão ainda. Os médicos disseram que eu era doido de querer ir para o jogo, estar lá. Eu ainda sentia dor, e assumi o risco. Eles me deixaram bem ciente, e eu disse que ia até o meu limite. Queria ajudar, era um jogo decisivo. Precisava estar ali, de qualquer forma. Isso acabou atrasando um pouco a recuperação. Mas pude voltar bem e ajudar o Grêmio a chegar a esta final.
E seu relacionamento com os torcedores? Há um tempo, pegavam no seu pé e agora te reverenciam.
Já me xingaram muito aqui, está louco. (risos) Mas sempre falei que isso não ia interferir dentro de campo. Claro que a gente não tem como jogar todas as partidas bem. Um ou outro, a gente fica um pouco abaixo. Mas é normal, o torcedor quer ver seu time ganhar. Já fui torcedor, entendo esse lado. Se eles tivessem aqui, iriam entender o lado do jogador. A gente escuta, mas deixa de lado para que não atrapalhe.
O quanto o Renato teve importância neste seu crescimento?
Ele é um cara que entende a gente, conversa muito conosco. Dá conselhos pelo o que ele viveu. Ele ajuda todo mundo, não só eu. Todos os treinadores que passaram aqui me ajudaram a evoluir. O Renato brinca com a gente e dá liberdade para manter o ambiente leve. Ele é um paizão para todos, brinca e dá conselhos. Quando tem de cobrar, cobra na hora certa.
Você usa a mesma camisa 7 com que Renato fez história. O quanto ele serve de espelho para você?
Serve bastante. É o clube em que comecei, também quero fazer história com a camisa 7. Ele brinca "Quer fazer história com essa camisa, olha meu DVD". Quero ganhar um pouco dos títulos que ele ganhou aqui. Mesmo depois de todos esses anos, é um ídolo. Então, temos que ganhar para ficarmos marcados. Ele diz que não conta se o time só jogar bem, tem de ganhar. Precisa ter o quadro na parede para mostrar para as pessoas. E eu quero ter este quadro de campeão.
Você se imagina fazendo um gol tão importante quanto o que ele fez no Mundial, em 1983?
Imagino, por que não? Estar lá fazendo o gol, entrando para a história, jogando uma Libertadores e um Mundial. A gente sonha, mas também precisamos ter consciência da realidade, que agora é focar nesta final para buscar este título.