O jogo entre Boca Juniors e Grêmio estava por se iniciar na Bombonera, na noite fria de 13 de junho de 2007, quando o gremista Jaime Johnson desceu de um táxi acompanhado do filho Arthur.
Feliz por ter desembarcado a poucos metros do estádio, nem lembrou que ambos vestiam camisas do Grêmio e haviam sido deixado em meio a dezenas de torcedores do Boca. Resultado: precisaram correr feito loucos para escapar "das pedradas e tijoladas".
Muito mais amena foi a situação vivida em 22 de julho de 1983 por João Carlos Zago Júnior, 56 anos. Ele fazia parte de um grupo de milhares de torcedores gremistas que lotaram mais de 50 ônibus e carros e, após se encontrarem no Chuí, invadiram o Uruguai para assistir ao primeiro jogo da final contra o Peñarol, em Montevidéu.
– Naquele dia, unimos gaúchos de tudo que era lugar – emociona-se.
Histórias de felicidade, em sua grande maioria, mas algumas de pânico, como a de Johnson, são lembradas por torcedores que se fizeram presentes nas quatro finais disputadas pelo Grêmio, nas edições de 1983, 1984, 1995 e 2007. Pessoas que levarão consigo, para sempre, sensações que se preparam para reviver amanhã, na Arena, e dia 29, em Lanús.
– A decisão de 1983 foi insuperável em emoção. Eu vim de Taquari com um grupo de amigos e fiquei na última fileira das sociais, naquele murinho, bem na frente onde César fez o gol do título – recorda o advogado João Saraiva, 60 anos, que assistiu a todas as finais em que o Grêmio esteve presente. – Naquela noite, fizemos nosso upgrade como clube, deixando para trás em definitivo o período de supremacia do Inter.
Na final de 1984, ano em que o Grêmio perdeu o título para o Independiente-ARG, Saraiva estava tão convencido de que seu time seria bicampeão que diz ter tido "uma ideia infeliz".
– Fui ao Olímpico com três queridos amigos colorados. Mas perdemos o jogo de 1 a 0. Na partida de volta, tivemos uma atuação memorável na Argentina, mas só empatamos e perdemos o título – conta.
É possível afirmar que os torcedores gremistas foram a Buenos Aires em 1984 apenas para não desperdiçar o dinheiro gasto com as passagens e a hospedagem.
– Já chegamos meio desacreditados em Avellaneda (local em se situa o estádio do Independiente). Estávamos meio anestesiados. E aconteceu de o time jogar muito melhor lá do que aqui. Renato, Osvaldo e Guilherme Macuglia tiveram chances claras de fazer gols. Poderíamos ter virado – acredita ainda hoje Zago.
Derrotado por 3 a 0 pelo Boca Juniors no primeiro jogo da final de 2007, o Grêmio precisaria de um milagre para reverter a situação no Olímpico contra o time em que Riquelme despontava como a maior estrela. Se a tarefa era inglória para o time, em nada diminuía a convicção dos torcedores na virada.
– É paixão, não é? Tínhamos de fazer 4 a 0 e nosso time não era grande coisas. Mas a esperança é a última que morre. Sem paixão, não existe futebol – entende Jaime Johnson, hoje com 63 anos.
É o amor pelo clube que o fará voltar à Argentina, onde viveu a amarga experiência de ter sido perseguido por torcedores do Boca. Desta vez, porém, não vestirá a camisa do Grêmio na chegada ao Estádio La Fortaleza, mesmo que os ônibus com os torcedores contem com escolta da polícia argentina. E também não terá companhia.
– Meu filho ficou traumatizado. Desta vez, ele não vai – sorri.
A final de 1995, o ano do bi, com Felipão & Cia., foi muito mais fácil do que se previa. O Grêmio venceu o jogo de ida por 3 a 1, no Olímpico, e comemorou o título ao segurar o empate em 1 a 1, em Medellín. Uma cidade que só algum tempo depois o advogado João Saraiva iria conhecer.
– Depois de Porto Alegre, Medellín deve ser a cidade do mundo com mais camisas do Grêmio. Certa vez, fui assistir a um jogo de futebol de salão e um time estava todo uniformizado com nossas camisas – diz.
Milhares de gremistas aguardados amanhã na Arena não haviam nascido em 1983. Na noite de 28 de julho daquele ano, ao fazer o cruzamento que César, de cabeça, completou para a rede e decretou o 2 a 1 contra o Peñarol, Renato Portaluppi iniciava uma história que pretende ver concluída neste 2017. Ele poderá ser o único brasileiro campeão da Libertadores como jogador e técnico.
– O Peñarol tinha um cano de time, tinha sido campeão da Libertadores e mundial no ano anterior. Para falar a verdade, o Renato achou aquele cruzamento. O que eu sei é que Porto Alegre parou naquela noite – diz Zago, já preparado para novas emoções neste 22 de novembro.
TODAS AS DECISÕES TRICOLORES
1983 (campeão)
- Peñarol 1x1 Grêmio
- Grêmio 2x1 Peñarol
1984 (vice)
- Grêmio 0x1 Independiente
- Independiente 0x0 Grêmio
1995 (campeão)
- Grêmio 3x1 Atlético Nacional-COL
- Atlético Nacional-COL 1x1 Grêmio
2007 (vice)
- Boca Juniors 3x0 Grêmio
- Grêmio 0x2 Boca Juniors