O Rei do Rio festeja aniversário entre seus súditos. Por coincidência, será na cidade que escolheu como sua, há três décadas, que Renato Portaluppi irá comemorar 55 anos neste sábado, 9 de setembro. O jogo contra o Vasco, em São Januário, pelo Brasileirão, serve como mais uma oportunidade para confirmar o retrospecto que ainda hoje sustenta o apelido, recebido há 22 anos.
Foi depois do gol de barriga pelo seu Fluminense contra o Flamengo, em vitória por 3 a 2 na decisão do campeonato carioca de 1995, que Renato, então com 32 anos, virou Rei do Rio. A festa do título, comandada pelo atual treinador do Grêmio, estendeu-se em uma churrascaria até 6h do dia seguinte.
Ao chegar em casa, o atacante que rasgava as defesas adversárias com dribles planejava dormir o máximo possível. Ele próprio lembra, contudo, que, uma hora depois, jornalistas de O Globo bateram na porta de sua casa com roupa de rei, cetro e coroa para a confecção da foto que entraria para a história.
Ouça a mensagem de aniversário de Zico para Renato
Sua primeira coroação, na verdade, havia ocorrido bem antes. Em 1988, uma pesquisa realizada pelo Ibope apontara Renato como o melhor e mais querido jogador do país na temporada anterior, quando havia ajudado o Flamengo a ganhar o título brasileiro em decisão contra o Inter. Vascaíno, o apresentador Chacrinha, cujos cem anos de nascimento são lembrados neste mês, desculpou-se com os torcedores do clube de coração e pediu que uma de suas chacretes pusesse uma coroa na cabeça de Renato, durante seu programa na Globo.
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– Aquela era uma época diferente, de mais brincadeiras no jornalismo. E Renato estava bem, fez por merecer o título de Rei do Rio. Aliás, dizer que ele está bem é chover no molhado – sorri Valdir Espinosa, que firmou Renato como jogador em 1983 e, até o início do mês de agosto, foi coordenador técnico do Grêmio.
No Rio, ainda que seja uma celebridade, Renato desfruta de uma privacidade que lhe falta na capital gaúcha. Mistura-se a outros famosos e pode frequentar todos os locais sem provocar correria ou parar a todo momento para selfies. Para Espinosa, é fácil entender:
– Renato andando pela rua em Porto Alegre é como se Francisco Cuoco chegasse aqui. No Rio, as pessoas estão acostumadas a ver esses caras toda hora, encontram-se com eles na praia.
Atual comentarista do canal SporTV, o jornalista Lédio Carmona ajudou a executar a pauta do Rei do Rio. Apelido justificado, em sua avaliação, pelo envolvimento que Renato teve com todos os clubes da cidade - foi jogador de Flamengo, Fluminense e Botafogo e treinou o Vasco. Lembra que o agora técnico soube preencher bem o espaço que se abriu quando Zico e Roberto Dinamite encaminharam o encerramento da carreira. Assumiu a condição de carioca e foi aceito pelos moradores, que se encantaram com sua irreverência.
– Ele é uma figura que faz bem ao futebol. Para nós, é o mais carioca dos gaúchos. Tanto que, diferentemente de vocês, o chamamos de Renato Gaúcho. Merecia um público maior no dia de seu aniversário – diz Lédio, ao lamentar que o jogo em São Januário seja com portões fechados, pela punição imposta ao Vasco.
Que ninguém perca tempo em telefonemas de parabéns para Renato neste sábado. Surge aí o inesperado lado tímido do técnico, avesso a esse tipo de cumprimentos e que sequer atende a ligações quando imagina que o objetivo seja homenageá-lo.
Os 55 anos ele irá comemorar da forma que mais gosta. Como sábado é dia de jogo, reservará a folga do domingo para o futevôlei com os amigos nas areias de Ipanema, em frente à Rua Vinícius de Morais. Quando está no Rio, deixa o apartamento, na Prudente de Morais, por volta de 11h, caminha um quarteirão e logo chega à praia, onde fica até o meio da tarde, com uma pausa para almoço no bar Garota de Ipanema, seu favorito.
– Ele não entende nada de chope, pede o dele sem colarinho – brinca o amigo e assessor de imprensa Diogo Aída.
Os dois se conheceram em 1996, quando o jornalista cobria o Fluminense por O Dia. Passaram a trabalhar juntos em 2008, ano em que Renato, contra a vontade do jornalista, mas para atender a um pedido do presidente Roberto Dinamite, aceitou assumir o Vasco, que acabaria rebaixado.
– Eu conheço o Renato que poucas pessoas conhecem. As pessoas nem fazem ideia de quantas pessoas ele ajuda. Tem todo o respeito pelos profissionais de imprensa que agem de forma leal com ele – comenta Diogo, que, curiosamente, fez o caminho inverso do treinador, ao trocar o Rio por Porto Alegre.
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Os números favoráveis de Renato como treinador no Rio animam os torcedores do Grêmio para vitórias contra Vasco, neste sábado, e Botafogo, dia 13. No primeiro caso, três pontos são indispensáveis para que o Grêmio se mantenha próximo do Corinthians no Brasileirão. No segundo, representarão a arrancada dos sonhos nas quartas de final da Libertadores.
Neste ano, o Grêmio bateu o Fluminense dentro do Maracanã pela Copa do Brasil e Brasileirão. Na Ilha do Governador, derrotou o Flamengo. Só foi derrotado uma vez no Rio, pelo Botafogo, no Engenhão, partida em que utilizou jogadores reservas. O saldo também foi positivo nas passagens anteriores de Renato pelo clube, em 2010 e 2013.
– O Grêmio tem se dado bem no Rio, mas não podemos nos apegar ao que passou. Desta vez, é outro adversário, e o Vasco está em situação um pouco delicada no Brasileirão – afirma Renato.
O lado brincalhão, porém, aflora quando o treinador é indagado se o título de Rei do Rio é merecido:
– Quanto a isso, não tem dúvida alguma.
O Rei em seus domínios
2017
Fluminense 0 x 2 Grêmio (Copa do Brasil)
Fluminense 0 x 2 Grêmio (Brasileirão)
Flamengo 0 x 1 Grêmio (Brasileirão)
Botafogo 1 x 0 Grêmio (Brasileirão)
2013
Vasco 2 x 3 Grêmio (Brasileirão)
Botafogo 0 x 1 Grêmio (Brasileirão)
Fluminense 1 x 1 Grêmio (Brasileirão)
2010
Botafogo 2 x 2 Grêmio (Brasileirão)
Vasco 3 x 3 Grêmio (Brasileirão)
Fluminense 2 x 0 Grêmio (Brasileirão)
60% de aproveitamento
5 vitórias
3 empates
2 derrotas
15 gols marcados
11 gols sofridos