Aos 68 anos, Valdir Espinosa sente-se como um menino ao caminhar pelo gramado do CT Luiz Carvalho. De volta ao Grêmio após 30 anos, o treinador que comandou o clube em seu maior título, o Mundial 1983, repete a dobradinha com Renato, mas agora na condição de coordenador técnico.
Em entrevista a Zero Hora na manhã de sexta-feira, Espinosa rebate as críticas de que está desatualizado. Relembra sua relação de afeto com Portaluppi, a quem considera como um filho, e coloca o título da Copa do Brasil como principal meta nos três meses de contrato que tem pela frente na Arena.
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Também pede que os gremistas perdoem Henrique Almeida, que se indispôs com a torcida após um gesto obsceno durante o jogo contra o Atlético-PR. E fala sobre o efeito da política do clube dentro do vestiário.
O que te fez voltar ao Grêmio?
Era um sonho que eu tinha, sempre quis voltar. Se tivessem me convidado para varrer, eu viria. É a oportunidade de estar junto do Renato, que eu conheço desde 1978. No Grêmio, conquistei os dois maiores títulos (Libertadores e Mundial) e trouxe o maior ídolo do clube. Claro que é diferente de chegar no início do ano. Então, você precisa adaptar algumas coisas.
Como foi o convite?
Falei com o presidente Romildo e o doutor Adalberto Preis. Conversamos por telefone, queriam saber se eu tinha vontade de retornar. Depois, me apresentaram uma lista com cinco técnicos. E coloquei o Renato no topo. Senti que, se não acontecesse, seria pelo fato de ele não ter chegado a um acerto. Mas era uma preferência, não condicionei minha vinda à dele.
Como vocês encontraram o vestiário?
Anormal seria encontrar um grupo feliz. Time que disputou primeiro lugar e teve queda, se os jogadores estivessem alegres, teria algo errado. Vi que estavam muito sérios. Procuro sempre, quando o Renato está falando, ficar de frente para os jogadores para analisar o rosto de cada atleta, ver como é a reação de cada um. Eles estavam muito atentos às instruções dele.
O que você fará como coordenador técnico?
Em primeiro lugar, não sou executivo. Vou atuar no que eu entendo, que é de bola. Vou conversar com o Renato, sobre treinos, esquemas, jogo que virá, o que passou. No Vasco e no Fluminense, fui auxiliar dele. Me perguntaram se eu tive queda na carreira virando auxiliar. Respondi: 'quando um filho te pede alguma coisa, você nega?' Não tem vaidade entre nós.
Você será um tipo de guardião do Renato?
Ele não precisa de proteção. É conversar, trocar ideias. Quando a pessoa é mais experiente, dá conselhos. Mas a escolha é dele. O Renato terá liberdade de decisão. Podemos discutir quem entende mais de futebol, mas em experiência eu tenho mais do que ele. E neste aspecto, vem a facilidade, pelo entendimento que temos, de colocar as coisas para o Renato.
O Grêmio será mais defensivo ou ofensivo?
Em 1982, o João Saldanha (ex-técnico da Seleção) me deu um conselho: "Se o time for bom, ataque. Se o time for ruim, defenda". Neste primeiro jogo, achavam que o Renato colocaria três volantes. Mas não foi assim. Com três volantes, acham que você vai defender. Em 1989, fui campeão carioca com o Botafogo e tinha três volantes. Depende dos jogadores que você tem.
Em três meses, a cara do Grêmio vai mudar?
Tem que ser mudada. Não significa que as ideias anteriores eram erradas. Mas o resultado pode ser diferente. O fato é que você não tem tempo. No primeiro dia, já está mudando. Se o time brigou pela ponta no primeiro turno, não estava tudo errado. Mas houve uma queda. Não vamos inventar a bola. Ela mudou, mas ainda é redonda. Não vamos inventar, vamos corrigir.
Vocês já identificaram o motivo desta queda?
É muito mais fácil mudar um esquema do que, no primeiro dia, descobrir o motivo. Tem que ir com calma, são várias informações que você vai colher. Você vai ter uma visão, o roupeiro terá outra. A resposta dele também importa. Tanto quanto a do dirigente e do jogador. Você precisa analisar todas para chegar a uma conclusão. Para obter esta resposta, leva mais tempo.
O vestiário agora terá menos dirigentes?
Não podemos deixar o vestiário de portas abertas para qualquer um entrar. Eu mesmo, em alguns momentos, fico de fora. Poderia estar junto com o Renato no treino de hoje (sexta-feira), mas fiquei no banco. Não era necessário. Pode ser que em outros dias eu fique ali. Quando entra muita gente no vestiário, você não sabe quem está e quem não está ao seu lado.
A política do clube entra no vestiário?
Você precisa ter cuidado. Antes, a porta era menor, tinha menos gente. Era o presidente e o diretor, a comissão técnica era reduzida. Você precisa conscientizar a todos os envolvidos que ninguém vai fechar a porta porque tu é Pedro ou João. Mas sim pelo trabalho. Você pode deixar a porta aberta, mas tem que saber quem entra. O vestiário é um ambiente de confiança.
Como vocês lidaram com o caso Henrique Almeida?
Quando eu cheguei ao vestiário, já estava decidido. O Renato já tinha multado e ele pedido desculpas. Eu cheguei para o Henrique e disse 'você errou'. Ele já tinha proposto pedir desculpas para o torcedor. A minha preocupação foi dizer ao torcedor que ele é um garoto. O Renato também já errou. Eu cometi outros erros. E por isso vamos matá-lo? O assunto está resolvido.
Como você acha que a torcida reagirá no domingo?
Acho que o torcedor vai aceitar. Se você olhar nosso plantel, quem são os atacantes de área que temos? É ele. Até por inteligência, o torcedor precisa apoiar. É claro que a atitude dele não foi correta. Mas ele se arrependeu. Saber perdoar é importante. Acho que o torcedor vai mostrar a grandeza dele. E só perdoa quem é grande. No domingo, ele tem de ser apoiado.
Como você lida com as críticas de que está desatualizado?
Antes, eu ficava p. da vida. Agora, eu mudei. Quem diz que estou desatualizado é burro. Sou o único treinador que posta vídeos na internet e mostra suas ideias de graça. Pode até não concordar comigo, mas se disser que não sou atualizado ele é burro. Em todas as profissões, você adquire experiência e vai crescendo. Se me falam que sou desatualizado, digo para olharem meus vídeos.
Você teme que sua imagem e a do Renato sejam usadas na eleição?
Se for para o bem do Grêmio, podem usar minha foto como quiserem. Não tem problema. Eu tenho amigos em todas as chapas, vários dirigentes com quem trabalhei. Tenho muito respeito. A minha torcida é para que o Grêmio cresça cada vez mais.
Você pretende ficar mais do que três meses?
É uma etapa, temos um fruto para ser colhido. Se continuar, vamos colher frutos maiores. A colheita de três meses é uma, a de um ano é outra. Se fosse por mim, assinava por mais 50 anos.
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