No auge da lua de mel de torcida e imprensa com Roger, durante o ano passado, um dos mais comuns elogios ao time era a forma com que controlava o jogo através das longas trocas de passe. Falava-se em uma versão gremista do "tiki-taka" espanhol. Valorização da bola, triangulações e aproximação dos setores se transformaram em marcas da equipe, o que lhe dava sustentação e regularidade de atuações.
Nos maus desempenhos, porém, reclamava-se da falta de objetividade. Em suas piores jornadas, o Grêmio era paciente demais. Trocava passes até entediar o torcedor, mas não infiltrava, não criava chances. Desde o início do ano, Roger tenta fazer ajustes que minimizem essa dificuldade. Mas as últimas rodadas indicam que a busca por mais contundência pode ter virado o fio. A equipe deixou de fazer o que consolidou sua identidade.
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Desde Chapecó, o Grêmio não consegue fazer a bola rodar com precisão. Tem volume de jogo em algumas situações, mas com outro estilo. Busca ser mais vertical. Diante da Chapecoense, houve momentos em que repetiu o "tiki-taka", como no gol de Jailson, mas foram situações esporádicas. Mesmo no bom jogo diante do Cruzeiro, viu-se alguma dificuldade na trama paciente que deu sustentação à boa campanha de 2015.
Não há motivo único para o problema. A ausência de Maicon em três das quatro partidas pode ter sido importante. Lá de trás, o volante é fundamental para o modelo consolidado por Roger. Seu passe preciso faz com que uma longa inversão de lado encontre os pés do companheiro sem muito esforço. É dos principais comandantes das trocas de passe.
Diante do Cruzeiro, porém, ele estava lá, e o primeiro tempo foi sofrido. Isso porque os mineiros repetiram o que a maior parte dos adversários gremistas tem feito: marcar, com dedicação, os volantes. A dupla à frente da área dá início às jogadas. Por seu posicionamento recuado, é frequentemente esquecida pela marcação e, com isso, tem espaço e tempo para pensar o jogo. Hoje, porém, quem enfrenta o Grêmio sabe que tem de vigiar os volantes. Bem marcados, apressam a saída, e a bola chega "picotada" nas regiões mais próximas ao gol. Nessas circunstâncias, seguir trocando passes é inviável.
A busca de Roger por um time mais vertical também entra na conta. O uso de formações sem peças capazes de desacelerar o ritmo e controlar a bola dificultam a retomada do Grêmio cadenciado de 2015. Diante do Atlético-PR, por exemplo, a opção de escalar Bobô na frente fez com que a linha de meias tivesse Giuliano, Luan e Everton. Quem, desses três, prefere rodar a bola a partir para a definição do lance?
O Grêmio do ano passado precisava ser mais contundente, mas sem esquecer do que o fez competitivo e regular. O risco do atual momento gremista é justamente o abandono do modelo que o consolidou como um dos times mais sólidos do Brasil.
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