O mais comprometedor e ao mesmo doloroso para o Grêmio, enquanto instituição, é ver o mesmo filme se repetindo há anos. Se fosse um filme bom, tudo bem. Já assisti Blade Runner mais de dez vezes. A Vida de Brian, então, perdi as contas. Assim como Ivan, o Terrível ou O Gabinete do Dr. Calegari. Mas filme ruim dá vontade de sair no meio da sessão. Imagine vê-lo ano após ano, acreditando que um dia o final mudará? É o roteiro do torcedor gremista. A eliminação para o Independente Santa Fe é ainda mais grave.
Não há reparos à vitória colombiana por 1 a 0. De novo o Grêmio recuou demais (pode se defender, não há problema, só não precisa abdicar de jogar). De novo começou com marcação forte, e de novo foi cedendo espaço à medida que o tempo passava, como o lutador que caminha para trás e, nas cordas, começa a ser esmurrado até o nocaute. De novo a derrota veio no segundo tempo. De novo o Grêmio perdeu o gás. De novo se lamenta aquele gol perdido. De novo se diz que reforçando aqui e ali vai melhorar.
De novo, de novo, de novo. Há mais de dez anos é assim no Grêmio.
E o que muda de verdade? Nada.
A solução é sempre a mesma. De parte dos dirigentes, demitir o treinador oferece uma resposta imediata ao torcedor, que se enche de revolta a cada tropeço monumental, como sair da Libertadores para o Santa Fe depois de encarar uma primeira fase sem ganhar do Huachipato. Melhor livrar o pescoço oferecendo a cabeça de outro numa bandeja, sangrando. De parte da crítica (parte dela, bem entendido), culpar o técnico resolve dois problemas de uma só vez: garante uma média com a galera e evita o esforço de pensar sobre o que está errado de fato.
Luxemburgo e seu mundo atribulado não servem, assim como não serviram Paulo Autuori, Celso Roth, Julinho Camargo, Renato Portaluppi, Caio Jr e outros. Quem serve, então? Se nenhum resolve, o problema central não estará em outro lugar? Eventuais problemas de vestiário - agora não é apenas pai de Marcelo Moreno que reclama, mas o também o irmão de Barcos - indicam que o clima no vestiário não é bom. Souza disse que falta "brio" e "aparecer mais para o jogo". Discutiu com Barcos durante o jogo mais de uma vez. A TV captou. Se alguém teve brios a menos valendo vaga na Libertadores, algo está muito errado. Barcos saiu reclamando ao ser substituído por Welliton (no que estava coberto de razão, aliás: Barcos por Welliton precisando marcar gol é dose). Seu irmão desancou Luxemburgo no Twitter. Alta tensão.
Estas questões podem explicar o fracasso de Luxemburgo, mas não o do Grêmio dos últimos 13 anos sem títulos. O roteiro é sempre o mesmo. Troca o treinador, que quando chega exige uma penca de jogadores. A direção os contrata. Passam-se os meses. O resultado não vem: pouco para entrosar tanta gente. A torcida, impaciente, exige a demissão. A direção atende. O novo técnico chega e exige uma penca de jogadores. A direção os contrata. Passam-se os meses...É o filme repetido. Os treinadores pedem isso e aquilo por que os dirigentes, estes e aqueles, deste ou daquele grupo político, permitem. Aceitam mudar a fotografia do grupo com espantosa regularidade, abrindo mão da manutenção de uma memória de vestiário. Cedem aos caprichos do chefe do vestiário. Permitem que ele escale os de sua preferência e condene ao desterro quem estiver ocupando o lugar destes, independentemente do investimento feito, por exemplo, em um Marcelo Moreno, um Kleber.
Só mudar de treinador e entregar tudo para o seguinte, e depois para o próximo, não funciona. É o que mostram os últimos 13 anos de Grêmio, e não só um ano de Luxemburgo. Talvez seja preciso mudar a mentalidade do gabinete de futebol do Grêmio. Do contrário, será sempre o mesmo filme manjado e ruim.