Quando a Divisão de Acesso de 2020 deu seu pontapé inicial no início de março, o regulamento previa que a competição se estenderia até 14 de junho, rebaixando os dois últimos colocados de cada grupo à terceira divisão estadual e subindo os dois finalistas à elite do futebol gaúcho. Contudo, duas semanas depois, o torneio teve de ser interrompido por conta da pandemia do coronavírus, tendo apenas três rodadas disputadas.
Em um primeiro momento, o presidente da FGF, Luciano Hocsman, argumentou que calendário não seria problema, já que o campeonato poderia ser retomado no decorrer do ano. Porém, os 16 clubes têm mostrado preocupação quanto a outras demandas, como definição de um calendário, extensão dos contratos e sobrevivência dos clubes sem a renda da bilheteria. Neste sentido, a entidade irá promover uma reunião com os dirigentes na próxima semana e, por videoconferência, ouvirá cada um deles para chegar a um consenso sobre o futuro do certame.
Calendário
Em princípio, alguns clubes se posicionaram favoráveis à manutenção do campeonato, desde que os torcedores fossem impedidos de ingressar nos estádios. Alguns, inclusive, mantiveram os treinos. Porém, com o avanço dos casos de contágio, já se estuda uma prorrogação do prazo inicial de 15 dias dado pela FGF.
— A Divisão de Acesso já vem em dificuldade de muitos anos. O aporte financeiro que recebemos da federação é muito baixo, mas mesmo assim ajuda em alguma coisa. Então, temos de proteger as vidas dos atletas. Até quinta (19) ou sexta-feira (20), a gente deve dispensar os jogadores e funcionários para voltarem em um futuro próximo — argumenta o presidente do Inter-SM, Jauri Daros.
O debate agora é quando a competição seria retomada, já que o objetivo inicial era destinar o segundo semestre às disputas da Copa FGF e da Segundona (equivalente à terceira divisão estadual). Por isso, há quem defenda o encerramento da competição, considerando o atual posicionamento das equipes na tabela de classificação.
— Essa situação merece toda nossa preocupação e cuidados. Tratam-se de vidas. Só que é um fato que nos inviabiliza financeiramente. Diferente talvez da maioria dos 15 clubes do Acesso, o São Paulo-RG não tem patrocinadores que garantam a folha de pagamento. Somos um clube de massa e vivemos em uma cidade que passa por uma grave crise financeira e que depende 90% da bilheteria. Sinceramente, entendo que não há condições de prosseguimento da competição em 2020. Imagino que, se o Caxias for declarado campeão gaúcho, o São Paulo-RG deve ser homologado campeão do acesso por ter tido a melhor campanha — argumenta Deivid Pereira, presidente do clube de Rio Grande, que lidera o Grupo B, com sete pontos.
Caso esta demanda seja aceita, o São Paulo-RG subiria para a primeira divisão junto do Glória de Vacara, líder do Grupo A. Mas e os rebaixados? Hoje, Bagé e Cruzeiro-RS ocupam as lanternas de suas chaves.
— Eu também quero ser decretado campeão. O bom senso nos leva a crer que o campeonato seja disputado no segundo semestre, ali em setembro. Quando tudo passar, tomara Deus. Agora a gente aguarda o jurídico da Federação para nos ajudar na questão dos contratos, senão acaba quebrando todos os clubes. Então, queremos, por motivo de calamidade maior, uma suspensão dos contratos e reativá-los em agosto. Ou então outra medida — argumenta Rafael Alcalde, presidente do time bageense que, nesta quarta, dispensou todos os atletas inclusive dos treinamentos.
Contratos
A preocupação com o fim dos contratos é unânime. Edison Cantarelli, mandatário do União Frederiquense, revela que o vínculo dos atletas com seu clube vão até o dia 15 de junho. Portanto, caso o campeonato seja adiado para o segundo semestre, teria de prorrogá-los.
— Se colocarmos uma média de 40 pessoas, entre jogadores, comissão técnica e demais pessoas ligadas ao futebol e multiplicar pelos 16 clubes, estamos falando de cerca de 650 famílias que dependem da Divisão de Acesso. E isso nos preocupa porque, se a competição for adiada para retomar em setembro ou outubro, o que vai acontecer neste período sem jogos? Como os clubes darão condições a estes atletas? Hoje, nenhum dos clubes conseguiria manter os salários. Então, vamos ter que encontrar uma solução para isso — comenta ele.
Além da situação financeira, há também a questão técnica. O atacante Samuel, que pertence ao Grêmio, apostava nesta temporada em que foi emprestado ao Lajeadense para retomar o condicionamento físico depois de uma cirurgia no joelho direito.
— É complicado. Fiquei o ano passado parado e pude voltar só esse ano aos gramados. Acontecer uma coisa como essa, de repente, é claro que eu não gostaria, mas é necessária essa paralisação — declara o jovem de 18 anos — Nós jogadores temos que entender, porque é um surto que prejudica a todos. É o momento de ter consciência e pensar no próximo. Todos temos família e temos que pensar neles — completa ele.
Novo regulamento
Uma parada mais longa também acarretaria em mudanças de fotografia dos elencos ou disparidade física. Por isso, outro argumento levantado é que o regulamento do campeonato precisa sofrer alterações quando for retomado.
— Nós optamos pela paralisação dos treinos, até ver como vai ficar a situação. Nossa ideia é que não se dispute nenhum tipo de jogo, nem com portões fechados. Há risco de contágio no vestiário, nos treinos, então, a gente fica temeroso de que possa acontecer alguma coisa — explica o presidente cruzeirista, Dirceu de Castro — Somos favoráveis a paralisar tudo agora, dispensarmos os jogadores e voltarmos só em setembro com uma fórmula diferente, onde ninguém cai e ninguém sobe. Daqui a pouco, subir dois da Segundona para o Acesso, e que não se faça a Copinha. As vagas para a Copa do Brasil e Série D ficariam com os clubes do Acesso — opina ele.
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