Depois de dirigentes, treinadores e atletas manifestarem preocupação com a pandemia de coronavírus, a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) reuniu representantes dos clubes da primeira divisão na manhã desta segunda-feira (16) e anunciou a paralisação do Gauchão de 2020 após a terceira rodada do segundo turno.
Esta, no entanto, não será a primeira vez que o torneio estadual foi interrompido. Ao longo da história, por situações diferentes, três edições (1918, 1923 e 1924) tiveram seus jogos suspensos. Nestas ocasiões, nenhum clube foi decretado campeão.
A situação deste ano segue em aberto. Por enquanto, a suspensão é de apenas duas semanas — mas o presidente da FGF, Luciano Hocsman, admitiu que existe a possibilidade de a competição ser cancelada.
1918: Gripe Espanhola
Uma situação semelhante impediu que o primeiro Campeonato Gaúcho fosse disputado no ano de fundação da FGF. A ideia era confrontar os campões das ligas municipais já existentes. Assim, participariam: Cruzeiro-RS (campeão porto-alegrense), Brasil-Pel (campeão pelotense) e 14 de Julho (campeão santanense). No entanto, a pandemia de Gripe Espanhola chegou ao Estado naquele ano, o que impediu a realização do evento. Estima-se que até 5% da população mundial tenha sido vitimada à época.
No ano seguinte, com a recuperação da saúde pública, o torneio finalmente saiu do papel, e o Xavante conquistou o primeiro título estadual ao vencer o Grêmio. Em 2018, dirigentes dos três clubes procuraram a FGF para pedir que fossem reconhecidos como os campeões de cem anos atrás. O pleito, porém, não foi levado adiante.
1923: Revolução de 1923 (chimangos e maragatos)
O Gauchão chegaria a sua quinta edição. O Grêmio vinha de dois títulos consecutivos, em 1921 e 1922, quando foi declarada uma guerra civil no Rio Grande do Sul. Conhecida como Revolução de 1923, o movimento armado envolveu adeptos do Partido Republicano Rio-Grandense — do então presidente do Estado, Borges de Medeiros — e adeptos do Partido Federalista, que apontavam fraude nas eleições estaduais e acusavam o governo de exercer o poder de maneira ditatorial.
Os adesistas de cada lado também ficaram conhecidos pelos nomes de ximangos e maragatos, respectivamente. Os combates se iniciaram no final de janeiro de 1923, em cidades do Interior, como Passo Fundo e Palmeira das Missões, e se encerram somente em dezembro, a partir da assinatura do Pacto de Pedras Altas. Por conta disso, o torneio não foi disputado naquele ano.
1924: Coluna Prestes
Com o encerramento da Revolução de 1923, o campeonato estadual seria retomado no ano seguinte. Entretanto, outra guerrilha impediu que o torneio fosse disputado. Ao longo da década de 1920, eclodiram no país inúmeras rebeliões militares organizadas por oficiais de baixa e média patente, como a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 1922, e a Revolta Paulista, em São Paulo, em 1924. Estes incidentes receberam o nome de "movimentos tenentistas".
Em outubro de 1924, liderados pelo capitão Luis Carlos Prestes, que comandava o 1º Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo, militares do noroeste do Rio Grande do Sul aderiram à Coluna Prestes e começaram a marchar em direção a Santa Catarina e Paraná, entrando em conflito armado por cidades do Interior.
Em 1925, enfim, o Gauchão voltou a ser disputado. Na ocasião, o Grêmio Bagé (campeão da Região Sul) conquistou o título estadual em um torneio que reuniu os seguintes componentes: Grêmio (campeão da região Metropolitana), Grêmio Santanense (região Fronteira), Guarany de Cruz Alta (região Noroeste) e Juventude (região Serra).