Apenas três times entram em campo sem objetivos nesta quarta-feira (20), na última rodada da primeira fase do Gauchão. O Grêmio não pode ser alcançado na liderança e tem garantido o primeiro lugar. No outro extremo da tabela, Avenida e Veranópolis já estão rebaixados e fazem seus últimos jogos na elite, pelo menos, até 2021.
Cada equipe enfrenta a queda à sua maneira: em Santa Cruz do Sul, o Avenida ainda lembra da euforia pelo jogo contra o Corinthians, pela Copa do Brasil, em meio às projeções para a disputa da Série D. Na Serra, a situação do VEC é cercada de mistério. Depois de 25 anos seguidos na Primeira Divisão, o Pentacolor sofreu seu primeiro rebaixamento – e a direção pede apoio da comunidade para que o clube tenha condições de disputar a Divisão de Acesso em 2020.
Decepção e expectativa
Cair no Gauchão não é novidade para o Avenida, que tem a tradição de mudar de divisão quase todos os anos. Desde 2008, foram quatro acessos e quatro rebaixamentos, o último concretizado com a derrota em casa por 3 a 1 para o São José, no domingo.
Nesta quarta (20), às 21h30min, o time de China Balbino vai ao Alfredo Jaconi enfrentar o Juventude, mas já de olho nos próximos passos: em maio, o clube disputa pela primeira vez a Série D do Brasileirão – está no Grupo A17, ao lado de Joinville-SC, Maringá-PR e Ferroviária-SP. A ideia é deixar de lado a decepção pela queda no Estadual e usar a experiência adquirida no confronto com o Corinthians para buscar, mais uma vez, destaque no cenário nacional.
– O rebaixamento já estava se desenhando há alguns dias, não foi no domingo que caímos – explica o diretor de futebol Guilherme Eich. – Desde o começo do ano, não jogamos como deveríamos no Gauchão. Fomos empurrando com a barriga, mas estourou no Estadual. Conhecemos bem essa realidade. Mas faz parte, nossa vida segue.
Não está tudo errado porque caímos. Temos condições de competir na Série D, e tenho plena convicção de que podemos buscar uma vaga na Série C – destaca o dirigente.
A opinião de Eich é corroborada por Alexandre. Ídolo do Avenida, o meia de 34 anos lamenta o mau desempenho no Gauchão, mas faz questão de lembrar que o clube tem outros objetivos pela frente.
– Sempre é ruim cair. As coisas não deram certo no Gauchão e chegamos na reta final com muitos desfalques. Não fomos completos para os jogos decisivos, e isso nos impediu de ter uma identidade, uma cara de time. Mas conseguimos resultados históricos na Copa do Brasil, com a vitória em casa sobre o Guarani e, depois, o jogo contra o Corinthians, em que fomos bem. Agora temos de pensar para a frente, pois vamos tentar nos recuperar na Série D – diz o veterano.
Mesmo com a projeção de jogar mais um campeonato nacional – as partidas contra Guarani e Corinthians foram as primeiras do Avenida por um campeonato além do Gauchão –, fica o gosto amargo de não conseguir se firmar na Série A do Estadual. Para Eich, o clube ainda precisa crescer para conseguir um lugar cativo na elite.
– O Avenida ainda não se firmou. Precisamos crescer um pouco mais, até mesmo na administração, para alcançar esses feitos. A Copa do Brasil serviu para nos projetar, e mesmo com o descenso, saímos fortalecidos do ano até aqui.
Futuro em dúvida na Serra
Se o Avenida está acostumado com a fama de "clube iô-iô", o Veranópolis viveu no final de semana uma situação inédita – e triste – na sua breve história. Fundado em 1992 e promovido à Primeira Divisão no ano seguinte, quando tinha Tite recém no início da sua carreira de técnico, o time da terra da longevidade se manteve durante 25 anos entre os grandes do Estado.
E com boas campanhas, com diversas semifinais disputadas e o terceiro lugar geral de 2007 como melhor resultado. A receita sempre foi a mesma: times montados apenas para o Gauchão e portas fechadas no segundo semestre, para não comprometer as finanças.
Pois a receita desandou neste ano. O Pentacolor largou mal no Estadual e, com pouco tempo para reagir, acabou afundando com seu primeiro rebaixamento. Por isso, o destino do clube ainda não está definido pela direção. O presidente Gilberto Generosi lamenta as "coisas do futebol" que derrubaram o VEC e faz questão de dar o alerta: para seguir viva, a equipe vai precisar de apoio da cidade.
– Nós tínhamos condições de vencer em todos os jogos. Até contra o Inter (empate em 1 a 1 no Antônio David Farina). Contra o Avenida, tivemos duas bolas na trave, e contra o São Luiz criamos chance atrás de chance. São detalhes assim que nos tiram da Primeira Divisão. Agora, se o VEC continuar, é com a ajuda de toda a comunidade, não só de cinco pessoas, como tem sido feito até agora. É um alerta muito grande: ou todo mundo ajuda, ou para. Neste momento recebemos uma saraivada de críticas, mas quando montarmos o projeto para a Divisão Acesso, precisamos da colaboração da indústria e do comércio, de gente que venha ajudar, que se associe. É um novo estudo que precisamos fazer. Se formos continuar, vamos ressurgir de forma diferente – admite Generosi.
Técnico do Veranópolis nas últimas três rodadas, Hélio Vieira – conhecido pelo papel de "bombeiro" no futebol gaúcho – diz que chegou ao clube sabendo da situação complicada que teria pela frente.
– Aceitei o convite de pronto, pelo histórico que tive nos últimos anos, de conseguir reverter quadros difíceis como este, e também porque já tinha trabalhado três vezes aqui. Mas não conseguimos. Minha sensação é de tristeza. O VEC é um ótimo lugar para trabalhar. É uma pena. Acho que não ter uma competição de segundo semestre é algo que dificulta para montar o grupo, mas também foi esse modelo que deu certo nos 25 anos anteriores – conclui Vieira.