Eu, assim como muitos outros pelotenses, nasci longe das grandes grifes do futebol. Mas nós escolhemos abraçar o caminho mais "difícil", amando um clube da cidade. Óbvio que alguns conterrâneos, como em outras cidades, escolheram o caminho mais fácil, das grandes decisões pela TV, dos títulos, escolheram um time entre a dupla Gre-Nal.
Mas, em Pelotas, eles estão tão deslocados que acabam saindo de contexto, ficando à margem.
Assim como outros xavantes, muito viajei pelo país seguindo o Brasil. Coisa de torcedor que não tinha disponível assistir a seu time na TV. Talvez por isso a torcida tenha pego tanto gosto pela estrada. Dentro do Estado, ir a Porto Alegre é como fazer um deslocamento para a Praia do Laranjal. Cada curva para Caxias do Sul já é decorada.
Bem, isso tudo para salientar como é impressionante a forma afrontosa que soa nossa existência nos ouvidos da maioria dos torcedores da dupla Gre-Nal.
Não admitem nada que saia da dualidade. Para estes, a vida é binária, é colorada ou tricolor. Se ofendem com nossa audácia em desafiar, em acreditar que é possível vencer, mesmo frente a um abismo colossal que distancia as duas realidades. Imaginem Madri ficando tão incomodada com gaúchos, porque estes planejavam "acabar com o planeta"? Me parece ser este o sentimento dos grandes da Capital. Mas, afinal, como se mede grandeza? São os títulos? A estrutura? O dinheiro? Cotas da TV? Bom, nisso estamos bem atrás, mesmo.
No Estadual, a dupla da Capital recebe cerca de 10 vezes mais recursos da FGF do que o Brasil. No campeonato nacional, essa diferença aumenta. O patrocínio estatal segue a mesma linha.
Mas, então, como nos atrevemos a competir? Ah, amigos, é a nossa essência. E pegamos mais gosto pelo desafio, porque incomoda. Nesse momento, os grandes ficam do nosso tamanho, nos dão importância surreal, respondem, corneteiam e rivalizam com um pequeno clube do sul do sul do Brasil.
Domingo, 8 de abril de 2018, é dia de celebrar a vida, a amizade e a nossa existência. Vou ao Bento Freitas esperando uma vitória, para coroar o campeonato, para celebrar nosso crescimento, nossa sina de Davi, de Asterix, de espartanos. Mais do que a vitória, que pode vir ou não, continuaremos cultivando o paralelo, a terceira via, a afronta ao lógico. Continuaremos orgulhosamente xavantes.