Foi na Divisão de Acesso que o comerciante Ricardo Fonseca assumiu o desafio de mudar a história do Brasil-Pel. Sob o comando do presidente, o clube de Pelotas obteve ascensão impressionante, saltando para a Série B do Brasileirão, retornando a uma final de Gauchão após 63 anos e atingindo o status de terceira força no Estado, atrás somente da dupla Gre-Nal.
Hoje com 48 anos, Fonseca lembra bem do quadro de penúria que o Brasil-Pel enfrentava quando tomou posse no final de 2011. Ainda sob o impacto do trágico acidente de ônibus em janeiro de 2009, que matou o ídolo uruguaio Cláudio Milar, o zagueiro Régis Gouveia e o preparador de goleiros Giovani Guimarães, era necessário reorganizar a gestão do clube para retomar o protagonismo no cenários estadual e nacional. Os cofres, no entanto, estavam raspados. Sem a verba dos direitos de TV que sustenta as equipes que disputam a Primeira Divisão, o jeito foi apelar para a paixão e a fidelidade da torcida.
— Pegamos o clube em uma situação muito difícil. Na Divisão de Acesso, não há dinheiro. Dependíamos de nós mesmos e dos nossos torcedores, sobretudo dos sócios. Tínhamos de fazer uma grande mobilização em cima do grupo de jogadores para obter resultados. A gente só poderia recuperar a parte financeira do clube seguindo em frente. Em 2013, se a gente não tivesse obtido o acesso à Primeira Divisão do Gauchão, estaríamos inviabilizados — lembra Fonseca.
Sob o comando do técnico Rogério Zimmermann, o título da Divisão de Acesso em 2013 foi um marco do reerguimento do Brasil. A partir daí, o clube não parou de subir. Em 2014, com mais dinheiro, foi possível montar uma equipe competitiva, que terminou o Gauchão em terceiro lugar, obtendo o título de Campeão do Interior. A vaga na Série D também estava garantida e, no segundo semestre, o clube terminou como vice-campeão e com um lugar na Série C.
Em 2015, outra campanha sólida no Gauchão rendeu novo terceiro lugar e a décima conquista do título no Interior. Aquele ano ainda reservaria novo acesso no cenário nacional como terceiro colocado na Série C, o que vitaminou a arrecadação e colocou o clube entre os 20 melhores do país.
— A parte financeira ainda não está totalmente recuperada. Mas meio caminho está andado, o Brasil, hoje é administrável e está estruturado — conta Fonseca.
Depois de se manter-se na B em 2016, o Brasil iniciou 2017 sob turbulência. A má campanha no Gauchão e a fraca largada no campeonato nacional fizeram com que Rogério Zimmemann, que ficou cinco anos como treinador da equipe, tivesse de ser demitido. Na hora de substituí-lo, o presidente e o então executivo de futebol, Armando Desessards, decidiram apostar em Clemer para comandar o vestiário.
— Vimos que, naquele momento, ele poderia dar tudo o que a gente queria ao time. O Clemer foi um vencedor como atleta, como treinador na base e tinha um perfil sanguíneo que era necessário naquele momento. Estávamos mal na Série B e terminamos em oitavo – lembra o presidente.
– No meu começo aqui, o clima não era dos melhores. A equipe não estava correspondendo em campo e veio a desconfiança. Passei a agir nos principais problemas, mudar a metodologia foi difícil no começo. Jogadores com características diferentes, jogo com muita ligação direta. Gosto de trabalhar com a bola no chão, ver o time jogar e se movimentar. A gente foi mudando isso durante a competição e, apesar da cobrança, as coisas foram acontecendo – conta Clemer.
Campeão do Mundo e da América como goleiro do Inter, Clemer também colecionou títulos como técnico nas categorias de base do Beira-Rio. Antes de chegar ao Bento Freitas, também teve experiências comandando o Glória de Vacaria e o Sergipe.
— Sempre falo que todo treinador, quando quer começar a carreira, precisa passar pela base. Ali você aprende tudo, pode estudar com preparadores físicos e auxiliares. A experiência de atleta, com conhecimento de futebol no campo, somada à teoria e a prática. Isso dá alicerce para que, quando você assume como profissional, tenha um leque de conhecimentos – explica Clemer.
Para formar o grupo ainda no final do ano passado, o treinador, com a diretoria, buscou jogadores que já conhecia. Do Inter, vieram nomes como Alisson Farias, Artur e Valdemir por empréstimo. O meia-atacante Calyson, formado no Grêmio e com quem Clemer havia trabalhado em Sergipe, também foi contratado. Novos talentos aliados a jogadores experientes como Leandro Leite, Marcelo Pitol e Leandro Camilo formaram uma equipe de qualidade.
— Buscamos jogadores dentro das características do que a gente entende como futebol. Isso também passou pela questão financeiras e as condições do clube. Se tivesse uma situação melhor, a gente traria atletas com um pouco mais de exigência do que a gente pede — diz Clemer, antes de completar:
– Foi pelo conhecimento que a gente tinha dos atletas, informações de treinadores. Os que foram oferecidos a gente correu atrás para ver o histórico não só em campo, mas também fora. Isso foi importante para fazer um grupo forte. Alguns foram questionados e hoje são unanimidade. As escolhas foram bem feitas, dentro das nossas condições.
O resultado da formação do grupo foi o retorno a uma final de Gauchão depois de 63 anos. Com uma campanha sólida na fase de classificação, o Brasil terminou como primeiro lugar na tabela, obtendo o troféu da Taça Centenária da Federação Gaúcha de Futebol, em alusão aos 100 anos da FGF. Nas quartas de final, a equipe de Clemer eliminou o São Luiz com um empate fora de casa e vitória no Bento Freitas. Na semifinal, sofreu um pouco mais ao decidir a vaga nos pênaltis contra o São José. Um dos principais fatores para a grande campanha no Estadual foi a força do time em casa. Neste ano, foram sete partidas no Bento Freitas e nenhuma derrota. Mesmo que o título do Estadual não venha na final contra o Grêmio, o novo sonho é obter uma vaga na Série A em dezembro.
— Temos condições de obter mais este acesso. O Brasil precisa dar mais este passo à frente. O importante é estarmos cientes da condição em que poderemos ir para uma Série A, precisamos ir para ter continuidade — avalia o presidente.
Outros planos da gestão Ricardo Fonseca são terminar a reforma do Bento Freitas, que terá mais 2,8 mil lugares com a construção de novas arquibancadas até maio. Ao total, o estádio terá capacidade para 13 mil torcedores. Construir um CT também está entre as prioridades, mas o que faz o olho do presidente brilhar é o quadro social. Hoje com 4,2 mil sócios, o desejo é chegar a 7 mil.
— O torcedor é o maior patrocinador do Brasil, além dos que temos na nossa camisa. Não só o nosso clube, mas todos do país. Temos que chegar a 7 mil sócios, aí seremos menos dependentes da cota da TV, que ajuda muito, e nos dará capacidade de fazer novos investimentos financeiros — sonha Fonseca, o homem que reergueu o Brasil-Pel.