Comecei a trabalhar na crônica esportiva na década de 1970. Jovem, vindo do Interior, assustei-me com o ambiente que envolvia a dupla Gre-Nal. Lembro que, na época, um grupo de ilustres torcedores do Grêmio, autodenominado de "Gremistas Vigilantes", distribuía panfletos em que listavam cronistas, hipoteticamente, colorados, expondo-os aos gremistas de espírito mais exacerbado.
Neste período, o Inter conquistou três títulos nacionais por efeito de uma das melhores equipes já formadas no Beira-Rio, mas quando se tratava de Gauchão, renomados porta-vozes do Grêmio debitavam na conta do trio ABC, iniciais dos árbitros Agomar, Barreto e Cavalheiro, benesses do apito que beneficiariam o Inter.
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Imagine, o time colorado derrotava as mais importantes equipes do Brasil, mas no Rio Grande do Sul, segundo estes gremistas, só ganhava porque estes três árbitros roubavam contra o Grêmio e em favor do Inter. Passados 40 anos, o discurso não se modificou. Permanece exatamente o mesmo. Está no DNA desta facção de torcedores que se eterniza no cenário gaúcho.
Romildo Bolzan Júnior, um dos melhores presidentes do Grêmio deste novo milênio, decepciona quando adota a mesma prática dos últimos 50 anos, atacando as arbitragens. Que Anderson Daronco, o melhor árbitro do Brasil, não cometa erro algum que contrarie o Grêmio. Se acontecer, o RS vai virar um cenário de guerra de provocar náuseas em quem venera o Gre-Nal como um espetáculo único e sempre inesquecível. Causa desgosto ver pessoas tão inteligentes e tão tacanhas quando se trata de arbitragens em Gre-Nais.
O medo de perder agudiza a necessidade de justificar a derrota. Espécie de vacina que fomentará manifestações cuja única pretensão será a de fugir das explicações de um mau resultado. O vice-presidente de futebol do Inter, Carlos Pelegrini, qualifica a polêmica gerada pelo presidente do Grêmio como sendo "velha e rançosa tentativa de condicionamento do árbitro". Não acredito. Prefiro pensar que seja, somente, uma mania que não se extingue. Até porque já foi mais do que provado que ataques antecipados aos árbitros produzem efeitos contrários aos interesses dos reclamantes.
Diz um velho samba: "Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão". Uma forma jocosa de exagerar dizendo que está todo mundo roubando. Gremistas lembraram, esta semana, que Anderson Daronco cometeu erro grave contra o Grêmio em jogo realizado no Serra Dourada, contra o Goiás. Aconteceu, mesmo. Mas já imaginaram se fossem vetados todos os árbitros que já erraram contra o Grêmio? E se os demais clubes brasileiros vetassem apitadores que já erraram em favor do Grêmio? Seria necessário importar árbitros da Macedônia. E se fossem defenestrados os goleiros que já falharam? Ou atacantes que desperdiçaram chances de gols? Ou dirigentes que contrataram errado? Não haveria mais futebol, certo?
Vamos, todos juntos, torcer para que Anderson Daronco tenha uma jornada feliz e a dupla Gre-Nal brinde os gaúchos com um grande jogo. E que no final do clássico prevaleçam os comentários sobre a partida, suas grandes jogadas, etc. Para a alegria geral da gauchada.
*ZHESPORTES