Este ano foi Roger Machado o técnico que, no comando do Novo Hamburgo, tornou-se uma das grifes do futebol do Interior e, por isso, recebeu chance no Grêmio. Não que Clemer vá cumprir obrigatoriamente o mesmo destino e voltar ao Inter, de onde saiu após desentendimento com o preparador físico Gallo.
O episódio já está superado e, vamos combinar, não tem força para deslustrar uma trajetória de quatro anos como técnico nas categorias sub-17, sub-20, sub-23 e Inter B. Os títulos que agora faltam na base do Inter, estes Clemer conquistou nove em 11 decisões, além de treinar o time principal em 13 rodadas do Brasileirão de 2013.
O fato é que Clemer, 46 anos, atrairá olhares no comando do Glória, no Gauchão 2016. Ele está à frente de um projeto ousado, que obviamente ganhou holofotes desde a sua chegada a Vacaria. Não é todo dia que a cidade acolhe um campeão do mundo. Clemer não almeja permanecer na Série A, mesmo que só isso seja suficiente.
O Glória passou oito anos na fila até subir. A meta principal é chegar entre os oito que passam à fase dos matas. O ex-goleiro ganhou carta branca do presidente Decio Camargo, que não atrasa salários e ainda tem dinheiro para buscar reforços. Exatos 17 jogadores já foram contratados, todos com o crivo de Clemer.
Eles vieram do Nordeste, do Rio de Janeiro, do Mato Grosso e do interior paulista. A folha salarial é de R$ 150 mil. O veterano Alê Menezes é um nome para fazer a mescla com os mais jovens. Uma medida do que Clemer pretende está nos assuntos relativos ao estádio Altos da Glória.
Com os dirigentes, ele defendeu a tese de que o acesso tem de ser "esquecido", por assim dizer. Deitar nos louros da volta à elite poderia ser armadilha letal. Em vez de estacionar, um passo adiante. Assim, obras incluem a construção de 10 camarotes e um vestiário visitante novo, além de reformas nos da casa e da arbitragem. E, claro, o gramado:
- Eu falei: "gente, mas e o gramado, e essa grama de jardim, e esses buracos aqui?". Alguém brincou, mas falando sério: "ajuda a fazer o pressão, Inter e Grêmio vão sentir". Respondi na hora: "mas eles vêm um vez por ano e voltam a treinar em gramado bom, enquanto a gente vai ficar nos buracos o ano todo. Qual a nossa vantagem de treinar entre buracos? Como evoluir?". Foi a minha pergunta. Concluímos que tínhamos de trocar o gramado, e o clube entendeu. O esforço da comunidade tem sido incrível. É o salto que eu falo. O Glória não pode estacionar. Agora que subiu, tem de pensar mais alto.
Clemer está em plena pré-temporada, ainda trabalhando a parte física. Como seus jogadores vieram do país inteiro, é preciso tornar o grupo homogêneo para colocar em prática suas ideias. Engana-se quem espera um Glória acuado mesmo contra a dupla Gre-Nal. A ordem é não se acovardar, sobretudo na largada do campeonato, com vantagem no condicionamento. Daí a necessidade de um bom gramado em Vacaria:
- Vamos marcar pressão lá na frente, em casa e fora. Por isso exigi gramado impecável. Nós vamos jogar futebol - avisa Clemer, para em seguida sorrir, acomodado no hotel onde mora. - Estou gostando de como as coisas estão andando por aqui. Olha, acho que vai dar um caldo.
Encerro o meu papo com uma das grifes do Gauchão 2016 expondo algo que me intriga. Por que começar a vida de treinador principal pelo interior gaúcho tão cheio de dificuldades, se chegou a conversar com time das Séries A e B feito Náutico, Paysandu, Luverdense, Chapecoense e Goiás? Outra: Clemer e a família em nenhum momento pensaram em voltar para o Maranhão depois de sair do Inter? A resposta:
- Claro que o projeto e a liberdade de trabalho no Glória pesaram, mas ficar perto da família também. Adotei o Rio Grande do Sul. A minha casa é aqui. Posso sair e trabalhar fora, mas minha base será sempre Porto Alegre. A maneira com as pessoas me receberam foi incrível. Tomo chimarrão. Adquiri o hábito ao natural. E, claro, tem a relação forte com o Inter, que nunca vai morrer. Aliás, pode anotar aí: um dia eu volto para o Inter.
*ZHESPORTES