Todos de mãos para cima, gremistas e colorados, homens e mulheres, centenas de braços erguidos lado a lado. Só que os gremistas exibem os dedos do meio, furibundos, enquanto os colorados batem palmas, sorridentes.
Geromel foi expulso. E Aránguiz se prepara para a falta.
- Vão tomar o primeiro, vão tomar! - provoca a namorada, de vermelho.
- Nhenhenhé, nhenhenhé! - debocha de volta o companheiro, de azul e branco.
É o 18º minuto do segundo tempo, e só agora os colorados se soltam na torcida mista. Até aqui, talvez por receio, talvez por respeito, não se ouviu muito a gritaria vermelha no setor mais colorido da Arena. Tudo muda quando Geromel vai para o chuveiro.
- Ôôôô, vamo, vamo, vamo, Inter!
Os gremistas se entreolham. Fazem cara de "era só o que nos faltava", recusam-se a aceitar a provocação das namoradas, dos filhos, dos pais e dos amigos, que agora berram mais alto.
Tomam ar para abafar os rivais:
- Vamo, vamo, vamo, Tricolor! Vamo, vamo, vamo, Tricolor!
E a coisa vira um duelo, uma briga de rugidos:
- Ôôôô, vamo, vamo, vamo, Inter!
- Vamo, vamo, vamo, Tricolor...
- Ôôôô, vamo, vamo...
- Vamo, vamo, vamo...
Todos cantam "vamo, vamo", cada um a seu modo, e todos xingam o juiz ao mesmo tempo - o que parece estranho, já que o juiz costuma favorecer um lado ou outro, nunca os dois. Mas, logo no início do jogo, quando o lateral Marcelo Oliveira caiu na área, a torcida mista inteira invocou a mãe de Anderson Daronco.
Os gremistas queriam pênalti. Os colorados queriam amarelo por simulação. Quando se deram conta de que estavam unidos contra o árbitro, amigos, pais e filhos começaram a rir.
Bruno Bozzetti, Joanna Fraga e os filhos foram à Arena em um dos ônibus da torcida mista Foto: Carlos Macedo
A integração começou quatro horas antes, no pátio do DC Shopping, onde a simpática Banda da Brigada Militar recebeu a torcida mista com os hinos do Grêmio e do Inter.
Viu-se colorados, meio constrangidos, cantando baixinho a suprema canção rival. E gremistas fazendo o mesmo na hora do hino colorado.
Depois, subiram todos em 15 ônibus. A reportagem entrou em um deles, presenciou um clima pacato com direito a bebê mamando, sem qualquer cantoria ou grito de guerra.
- Por mais que eu goste de tocar uma flauta, não é o momento de provocar - avaliava o colorado Bruno Bozzetti, 28 anos, sentado na poltrona com a mulher, a gremista Joanna Fraga, 32, e com os dois filhinhos, Benjamin (que é colorado), de três anos, e Caio (que a mãe jura ser gremista), de sete meses.
Houve um único momento tenso: quando o ônibus ingressava na Arena - ao contrário do que ocorreu no trajeto inteiro, com as pessoas aplaudindo a torcida mista -, um gremista, do lado de fora, jogou cerveja em Bruno Bozzetti ao ver sua camisa vermelha.
Do lado de dentro, colorados e gremistas vaiaram o bobalhão. Juntos, em uníssono.
*ZHESPORTES