Mais do que nunca, o Vamo Dale Football Club precisa fazer do significado do seu nome uma realidade para superar desafios. A expressão "vamo dale", do vocabulário informal gaúcho, significa incentivo, apoio, um chamamento coletivo, isto é, vamos fazer acontecer. E é disso que precisa o time de futsal porto-alegrense.
Impactado nos mais diferentes setores pela tragédia climática no Rio Grande do Sul, o clube luta por mais tempo de recuperação até o início da Série Prata — equivalente à segunda divisão das competições organizadas pela Federação Gaúcha de Futebol de Salão (FGFS). O campeonato está suspenso, mas tem o retorno previsto para 15 de junho.
De acordo com o presidente da equipe, Rodrigo Paines, cerca de 15 atletas do elenco — de um total de 20 —, além de integrantes da comissão técnica e da direção, como ele, precisaram deixar suas casas em função da enchente. Quem conseguiu sair dos abrigos, ainda está nos lares de amigos ou familiares.
Quando foi devastada pela inundação, a equipe se preparava para viver o sonho de disputar a Série Prata, após chegar à final da Bronze no ano passado. Para isso, Paines diz que o clube investiu R$ 40 mil em melhorias no ginásio do Sest Senat, no bairro Humaitá. Assim como toda a zona norte de Porto Alegre, o local foi engolido pela água. Até esta quinta-feira (30), não havia condições de entrar para a avaliação dos danos.
— A gente teve que raspar o último dinheiro do caixa para fazer o nosso uniforme novamente. É a única coisa que temos, um jogo de uniforme, porque o resto se perdeu na enchente. É quase uma súplica que estamos fazendo para não jogar agora. Esperamos que a federação tenha esse olhar para nós. Não temos cabeça para jogar. Precisamos de pelo menos mais um mês para as coisas melhorarem — destaca o presidente.
O outro local que o Vamo Dale tem para mandar seus jogos é a Arena Paroquial, no bairro Passo das Pedras, onde disputou as partidas da Série Bronze. Para o campeonato deste ano, a infraestrutura do espaço não condiz com o exigido pela FGFS — há um banheiro a menos, segundo Paines. Mesmo assim, o Vamo Dale enviou ofício com a solicitação para voltar à antiga casa. Ainda não houve resposta da entidade.
A última vez que o time se reuniu para treinar foi em 2 de maio. Ao retornar para Canoas, onde vários jogadores residem, os primeiros transtornos provocados pela chuva já eram sentidos no trânsito, conforme lembra o goleiro Marlon Forgiarini, de 37 anos, morador do bairro Mato Grande, na cidade vizinha à Porto Alegre.
— Fui buscar minha mãe e minha vó para minha casa. Também levei meu pai. Achei que minha casa não iria ser afetada. Em menos de 10 minutos, a água invadiu e eles foram resgatados de barco e jet ski no dia seguinte. Meu irmão e eu saímos a pé. Desde então, estou na casa de um amigo. No andar térreo da minha casa, tudo foi perdido. Dá uma tristeza de ver — conta o jogador.
O que diz a Federação
Procurado por GZH, o presidente da FGFS, Ivan Rodrigues dos Santos, diz que o Vamo Dale pode postergar o início da sua participação na Série Prata. Para isso, de acordo com o dirigente, basta que os adversários concordem em adiar as partidas.
Rodrigo Paines afirma que já contatou informalmente as direções de AVF, de Manoel Viana, Real Alegrete e AERFS, de Faxinal do Soturno, os três primeiros adversários. Todos teriam aceitado a remarcação dos jogos. Porém, o presidente espera que a definição pelo adiamento parta da Federação Gaúcha e não seja uma responsabilidade apenas do clube, a parte mais frágil do processo.
Ou seja, a indefinição que paira sobre milhares de famílias gaúchas neste momento também atingiu o futsal da Capital. Eles estão sem ginásio, sem treinamento, com pouco dinheiro — empresas patrocinadoras foram igualmente afetadas —, e sem uma orientação firme sobre como proceder. A dura verdade da vida gaúcha reflete-se nas águas e no caminho do Vamo Dale em 2024.