Por se dar o direito de expor um problema psicológico, a meio-campista Kika Brandino revelou, no início deste ano, que daria uma pausa na carreira para cuidar da saúde mental. À época no Atlético-MG, a jogadora de 30 anos usou as redes sociais para comunicar que, naquele momento, sua prioridade seria outra.
— Hoje eu vejo o quão forte eu fui, porque consegui de julho do ano passado a março deste ano continuar no meio esportivo com tanta pressão, com o mental totalmente fragilizado. Fui para o Atlético-MG para ver se realmente era o ambiente. Mas era eu. Quando percebi que não era a cor da camisa, nem as pessoas que estavam fora de campo, e sim eu comigo mesma, pedi ajuda. Criei coragem para expor que estava me afastando das atividades esportivas profissionais para cuidar do que é mais valioso, que é a minha vida — contou Kika Brandino em entrevista a Zero Hora.
Criei coragem para expor que estava me afastando das atividades esportivas profissionais para cuidar do que é mais valioso, que é a minha vida
KIKA BRANDINO
ex-meio-campista de Grêmio e Inter
O processo de começar a sofrer com a depressão até ter coragem de pedir ajuda foi extenso. Era o sonho de uma vida toda tendo de ser colocado de lado por um motivo (ainda) maior.
— Foi uma decisão muito difícil, que eu demorei tempo para tomar porque, de um lado, era tudo que eu sabia fazer, tudo que eu mais amava e, do outro, eu tinha que tomar a coragem de abrir mão disso para que eu não perdesse a minha vida. Na minha cabeça só vinha besteira, eu só pensava em acabar com essa tristeza que não tinha fim — relembra Kika.
Ela recorda como foi o momento em que pediu ajuda:
— O pessoal do Atlético me deu todo o suporte, queria muito que eu não "desistisse". Mas um dia eu cheguei em casa, fechei a porta do apartamento, sentei na cama e falei: "O que estou fazendo em BH? Não estou feliz, estou vazia". Foi quando pensei, mais de uma vez, em tentar algo contra a minha própria vida. Então, peguei meu telefone, liguei para o meu irmão, que foi a primeira pessoa que eu pedi socorro. Falei "vem me buscar que eu não consigo mais sozinha. Eu não aguento mais".
De um lado, era tudo que eu sabia fazer, tudo que eu mais amava e, do outro, eu tinha que tomar a coragem de abrir mão disso para que eu não perdesse a minha vida
KIKA BRANDINO
sobre o momento que optou por dar uma pausa no futebol
Kika voltou para sua cidade natal, em Conchal, no interior de São Paulo, para iniciar o tratamento junto à sua família. Escondeu as chuteiras, e tudo que a lembrasse do futebol. Até conseguir voltar a bater bola foram cerca de dois meses. Neste período, também dedicou-se aos estudos na área de Educação Física, focando nas especializações da CBF.
— Hoje, eu posso dizer que sou uma nova Kika, ainda no processo, ainda assimilando tudo. Estou me cuidando, não me sinto 100%, mas também tenho a certeza que nunca vou chegar a 100%. Quanto mais próximo da leveza, da minha paz, da felicidade e de estar num ambiente que me faz bem é o que eu mais priorizo pra mim.
Sobre o futuro, a meio-campista que já defendeu as cores de Inter e Grêmio deixa em aberto um possível retorno aos gramados.
— Ainda não decidi meu futuro, se vou retornar ao futebol, se vou parar, mas tenho certeza que muito em breve meu destino já vai ser bem direcionado. Tenho um pingo de esperança que, talvez, minha carreira não precise terminar assim — resume Kika.
Como pedir ajuda?
O Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviços 24 horas por dia para aqueles que precisam de apoio emocional. Os contatos podem ser feitos dessas formas:
- Pelo telefone 188: ligação gratuita, disponível 24 horas por dia;
- Chat: todos os dias da semana em horários definidos (veja aqui);
- E-mail: pelo apoioemocional@cvv.org.br ou preenchendo o formulário no site.
Os atletas que estiverem precisando de ajuda também podem entrar em contato com a Associação Brasileira de Psicologia do Esporte por meio das redes sociais. A entidade conecta jogadores com psicólogas associados que possam prestar o serviço.