A torcida brasileira proporcionou a Brisbane, neste sábado (29), uma noite de puro futebol. Possivelmente, um dos maiores espetáculos que o esporte australiano já viu. Porém, para o azar do Brasil, a energia intensa das arquibancadas é menos efetiva do que uma bola aérea de qualidade. E, da forma mais previsível possível, deu França na partida pela na Copa do Mundo Feminina.
Desde o início da noite na Austrália, um mar verde-amarelo tomou conta das imediações do Estádio Lang Park. Um desavisado pensaria que era um bloco de rua do Carnaval do Rio de Janeiro, tamanha era a presença de torcedores do Brasil. Australianos? Alguns. Franceses? Quase nenhum. A superioridade numérica tornou-se um ambiente fértil para a imbatível criatividade brasileira.
— Passa amanhã! O pão de queijo é melhor que o croissant — cantavam.
Porém, eles descobririam mais tarde que mais imbatível ainda era o cabeceio da zagueira francesa Wendie Renard.
Dentro do estádio, a vibração dos brasileiros foi um show à parte. Durante a execução dos hinos, o sistema de som reproduzia a bela Marseillaise francesa, conforme manda o protocolo.
Na hora do hino brasileiro, no entanto, pouco se ouvia o que vinha dos altos falantes. Afinal, do "ouviram do Ipiranga" ao "pátria amada Brasil", quase todo o estádio cantou junto a letra a plenos pulmões.
O ambiente de entusiasmo das arquibancadas parecia o prenúncio de uma grande vitória brasileira. Porém, como diz o ditado, "faltou combinar com os russos". Ou melhor, com as francesas. Algoz do Brasil na Copa 2019, o time europeu pressionou durante quase toda a primeira etapa.
Mesmo que a imensa torcida brasileira reagisse efusivamente a cada defesa milagrosa da goleira Lelê, isso não foi suficiente para evitar o primeiro gol da França, marcado por Eugenie Le Sommer, de cabeça. Fundamento, aliás, que se revelaria o grande calcanhar de Aquiles do Brasil na partida – 1 a 0 para elas.
O gol francês, aliás, revelou uma grande surpresa. Havia torcedores franceses no estádio. E não eram poucos. Eles só estavam discretos e camuflados em meio aos gritos brasileiros. A abertura do placar, contudo, foi a deixa para surgirem no Lang Park vários gritos de Allez les Bleus.
O segundo tempo também começou preocupante para a Seleção. Além dos torcedores franceses terem dado as caras, as adversárias seguiam pressionando. Contudo, o futebol sempre apresenta surpresas. Apagada no jogo — e na Copa como um todo —, Debinha apareceu na hora certa e empatou, 1 a 1.
Nos minutos seguintes, time e torcida do Brasil se mobilizavam juntos para a reação. Enquanto a técnica Pia Sundhage neutralizava a estratégia do seu antagonista Hervé Renard, os brasileiros nas arquibancadas abafavam o repetitivo cântico francês Allez les Bleus com gritos muito mais fortes. Tudo se encaminhava ou para um empate, que era bom para o Brasil, ou, quem sabe, até para uma virada.
Entretanto, dentro de campo, a França também usou uma estratégia repetitiva. E que se mostrou letal. Aos 38 minutos do segundo tempo, as francesas fizeram aquela jogada que todo mundo sabia que ocorreria. E que ninguém foi capaz de evitar. Em uma cobrança de escanteio no segundo pau, a craque Wendy Renard subiu mais alto que toda a zaga brasileira e fez aquilo que sabe fazer melhor: gol de cabeça. França 2 a 1.
Nos minutos finais, a torcida brasileira seguiu dando show. Especialmente, com a entrada de Marta, a massa promoveu outro espetáculo, ovacionado as atletas a cada lance de ataque ou de bola parada e mobilizando a Seleção para conquistar o empate.
Foi um espetáculo de vibração, futebol puro e na essência. Porém, infelizmente para brasileiros e brasileiras, cânticos entusiasmados não são tão letais quando uma bola aérea de qualidade. E, ao final do jogo, toda energia da torcida do Brasil deu lugar à frustração. Pois, da forma mais previsível possível, deu França mais uma vez.
Durante a Copa do Mundo Feminina, GZH tem edições especiais do "Expresso da Copa" para repercutir a competição que ocorre na Austrália e na Nova Zelândia. O programa é realizado de segunda a sexta-feira, das 11h às 11h30min, no Youtube de GZH e no Gaúcha 2.