— Vocês vieram à Austrália por causa da Copa do Mundo?
Em Brisbane, nesta quarta-feira (26), pela primeira vez um morador local abordou a reportagem do Grupo RBS para falar sobre futebol, cena que nunca havia ocorrido, por exemplo, em Adelaide, palco da estreia do Brasil contra o Panamá, na última segunda (24). Além da empolgação dos habitantes locais com o Copa do Mundo Feminina, os jornais locais dão muito mais espaço para a competição do que os diários de Sydney e Adelaide, por exemplo, onde o rugby e o críquete dominam o noticiário.
Uma rápida caminhada pela cidade, que é a base da Seleção Brasileira na Austrália há oito dias, é suficiente para entender o motivo. Confirmada como sede dos Jogos Olímpicos de 2032, Brisbane respira esporte e recebe incentivos do governo local para a prática de modalidades olímpicas, o que acaba favorecendo o futebol.
— O pessoal aqui está muito animado com a Copa, tanto os brasileiros quanto os australianos com quem convivo. Além disso, o governo local estimula muito que as pessoas assistam aos jogos. Há toda uma estrutura montada na beira do rio, com pufes e telões para o pessoal assistir às partidas. A galera aqui está entusiasmada — conta a engenheira civil goiana Tainara da Silva, 27 anos, que desde janeiro mora em Brisbane, onde trabalha como camareira do hotel onde a reportagem da RBS está hospedada.
Outro motivo que explica a maior empolgação dos habitantes de Brisbane com a Copa é o fato de a seleção australiana jogar na cidade nesta quinta (27), contra a Nigéria. Afinal, as Matildas, como são conhecidas, vem sendo um sucesso de público nos estádios australianos.
— Hoje, o futebol já é o esporte mais praticado por crianças em Brisbane. Entre a garotada, o futebol já passou o rugby e o críquete. Além disso, é interessante que os australianos valorizam mais o futebol feminino que o masculino. Isso provavelmente ocorre porque as Matildas (como é conhecida a seleção feminina) são muito melhores que os Socceros (nome da seleção masculina). Há aqui muito apoio ao futebol feminino — explica o gaúcho Matheus Spirandorello, 30 anos, natural de Porto Alegre e que mora há sete anos m Brisbane, onde trabalha como professor de futevôlei.
O fato de Matheus ter escolhido Brisbane para ensinar uma modalidade tão brasileira não é uma coincidência. A prática de esportes de uma forma geral é estimulada na cidade não apenas pela proximidade com as Olimpíadas, mas também pelas suas características geográficas.
Com 2,3 milhões de habitantes, Brisbane é cortada ao meio por um rio extenso e largo em formato de "s", e é todo contornado mas margens por ciclovias, pistas de corrida e parques. Essa peculiaridade proporciona ainda, além da prática esportiva, um visual único de integração entre natureza e espaço urbano.
— Isso é muito louco. De um lado do rio, você vê muitos prédios imponentes, de primeiro mundo. Do outro lado, você vê uma praia artificial e uma área toda verde. É muito legal esse contraste — completa Matheus.
— Quando pesquisei as cidades da Austrália para escolher onde eu iria morar, logo me chamou atenção a beleza das paisagens de Brisbane — concorda Tainara.
O formato e a extensão do rio, que leva o mesmo nome da cidade, impulsiona ainda o transporte fluvial. Se não conta com uma rede de metrô, Brisbane dá a seus moradores a possibilidade de se deslocar de barco entre praticamente qualquer ponto da região central.
Além disso, outras duas características de Brisbane atraem imigrantes, sobretudo brasileiros. Uma delas é o clima. Mesmo no inverno, a cidade registra uma temperatura quase sempre superior a 20 graus durante o dia, bem diferente da gélida Adelaide, por exemplo. Além disso, o custo de vida da cidade é mais baixo que o das principais metrópoles do país, Sydney e Melbourne.
— Normalmente, quem tem muito dinheiro escolhe morar em Sydney ou Melbourne. Já em Brisbane, as coisas não são tão caras, e por isso, nós, imigrantes, conseguimos juntar mais dinheiro. As pessoas de fora amam a cidade por isso e também pelo clima e pela bela combinação entre prédios e natureza — conta o indiano Shubham Sondhi, 28 anos, motorista de aplicativo que conduziu a reportagem de GZH ao treino da Seleção, nesta quarta (26).
Quem também gostou muito de Brisbane foi a Seleção Brasileira. Desde 18 de julho, a cidade é a base de treinos do time da técnica Pia Sundhage, que só deixa o nordeste australiano na véspera dos jogos disputados em outras sedes, retornando a Brisbane no dia seguinte.
Além da estreia contra o Panamá, em Adelaide, o Brasil ainda irá a Melbourne, na terceira rodada da fase de grupos, contra a Jamaica, no dia 2 de agosto. Já a partida do próximo sábado (29), às 7h (em Brasília), contra a França, será em Brisbane, cidade onde a Seleção Brasileira se sente em casa. E a maioria dos brasileiros também.