As areias brancas e fofas em que turistas se refestelam são as mesmas que moldaram os pés de Geyse. Foi nas praias paradisíacas de São Bento, povoado de Maragogi-AL, que a atacante da Seleção Brasileira e do Barcelona conheceu o futebol, em uma época em que tinha de driblar dificuldades bem maiores que seus adversários.
Adversários, no masculino mesmo. Era com e contra os meninos que ela tinha de jogar nas sua primeiras incursões pelo esporte. Quase todos os dias, a mãe dela ia até a praia para ver a filha jogar, mas não necessariamente pela estética do futebol em um cenário paradisíaco. Mais nova de uma família de seis irmãos, Geyse sempre via a progenitora se aproximar do campo de jogo. Mãe solteira, Maria Cristina ia, na verdade, buscar a filha para ajudar nos afazeres domésticos.
Talvez na mistura do medo pela reprimenda com a vontade de mostrar que era boa de bola, fazia com que a presença da mãe fosse um estímulo para jogar ainda mais ou, talvez, para resolver a pelada o quanto antes. Eram naqueles minutos sob o olhar de dona Cristina que seu melhor futebol aparecia. Algumas jogadas depois, a bola era substituída pela vassoura ou pelos pratos que a esperavam na pia de casa.
— Minha família é muito importante, principalmente a minha mãe. Foi ela quem me deu educação. Foi ela que fez quem sou hoje. O que faço hoje é pensando nela e nos meus irmãos. É a melhor mãe do mundo, o melhor pai também — contou à CBF TV.
Até que teve um momento em que as areias do caribe brasileiro não eram mais o palco adequado para ela. Aos 17 anos, Geyse foi para a União Desportiva Alagoana, na capital Maceió. A rotina daqueles tempos fazem com que os quase 16 mil quilômetros que separam Maragogi de Brisbane, onde o Brasil estreará na Copa do Mundo, serem quase nada. Todos os dias, ela percorria 130 quilômetros para ir treinar e mais 130 para voltar para casa. Em pouco tempo, percorreu milhagem maior do que a distância até a Austrália. O trajeto era feito ou de carona ou de ônibus, com dinheiro emprestado para pagar a passagem.
Nenhum dos tantos empecilhos a impediu de chegar a São Paulo, primeiro no Centro Olímpico e depois no Corinthians. Logo cruzou o Atlântico para jogar no Benfica antes de fincar raízes na Espanha. A primeira parada na terra de Cervantes foi Madrid CFF até aportar no Barcelona para fazer história logo em sua primeira temporada na Catalunha.
Há quatro anos, Geyse foi uma coadjuvante na Copa da França. Sua participação dessa vez deve ser diferente. Agora, ela faz parte de um seleto grupo de brasileiras. Junto com sua conterrânea Marta, Cristiane e Rosana, ela forma o quarteto de jogadoras nascidas no país a vencerem a Champions League feminina.
A atacante foi uma das expoentes do Barcelona no título desta temporada, com quatro gols e cinco assistências na campanha do título. Na Oceania, quer ingressar em um grupo desabitado. Ninguém conseguiu vencer o torneio continental e a Copa do Mundo feminina no mesmo ano.
Em abril, pela semifinal da Champions, a atacante foi assistida por 72.262 pessoas no Camp Nou, o quarto maior público da história do futebol feminino. E dizer que tudo começou nas fofas areias de Maragogi, quando sua mãe a assistia jogar não por sua qualidade, mas pela necessidade de a filha voltar para casa e ajudar nos afazeres domésticos.