Tite está leve e tranquilo. Ficou nítido na entrevista coletiva oficial da Fifa que o técnico da Seleção está de coração aberto para essa decisão contra a Croácia. Por cerca de 30 minutos, ele tratou de diversos temas, das dancinhas à resiliência da Croácia, passando pela definição do time. Nesse ponto, mais uma vez, não tergiversou. Danilo ocupará o lado esquerdo da defesa, com Militão mantido na direita. Mesmo que Alex Sandro dê resposta positiva no treino da tarde desta quinta-feira, no Grand Hamad Stadium, a formação será mantida. Aliás, a impressão é de que o encaixe foi tão bom que Alex Sandro, em caso de semifinal, seguirá vendo tudo de fora.
Tite até tentou despistar. Ao ouvir a pergunta, de uma repórter brasileira, pegou o fone da tradução e levou ao ouvido. Em seguida, tirou-o e brincou:
— Me atrapalhou (a pergunta), iria ouvir a tradução, ganhar tempo. Alex Sandro treinará, veremos se tem disponibilidade de ir para o jogo. A tendência é de não participar, não houve trabalho muito forte. A lesão dele foi diferente das outras (de Neymar e Danilo). Dependerá desse trabalho para ir ao jogo.
Tite fez mais do que definir a equipe. Apontou para o restante da Copa, caso tenhamos, a manutenção de uma ideia consolidada de jogo com Lucas Paquetá no meio-campo. Não foi objetivo, mas mandou o recado para liquidar um debate que virá caso confirme a semifinal, contra Holanda ou Argentina.
— A identidade dessa Seleção, de uma geração que saiu agora. Mesmo correndo risco de a carne ser cortada, é nesse futebol que acredito. É para frente que só vamos, é isso que buscamos. Mesmo com risco de perder e ter a carne cortada ali adiante — avisou.
O técnico só foi mais enfático ao ser questionado sobre as danças dos jogadores na comemoração dos gols. Uma dança, aliás, em que até ele entrou, no terceiro gol contra a Coreia do Sul, ao ensaiar os passinhos da "Dança do Pombo", marca registrada de Richarlison. Tão registrada que os setoristas da Seleção aqui em Doha já se referem a ele como "Pombo Richarlison". Tite fez questão de defender as danças dos atletas enfatizou que se trata de uma expressão da cultura brasileira. Evitou polêmicas, quando um repórter estrangeiro mencionou o comentário de Roy Keane, que condenou a atitude dos jogadores.
— Não é minha Seleção, é a Seleção Brasileira da qual tenho responsabilidade de ser o técnico. Lastimo muito e não vou fazer comentário de quem não conhece a forma, a cultura do Brasil — disse.
Em seguida, ele emendou explicando a conexão que precisou criar com um grupo jovem e cuja marca é a extroversão. Citou um recado de uma professora de São Paulo, que exaltou as danças e contou que estava usando essa manifestação dentro da sala de aula, como forma de explicar nossa construção aos seus alunos.
— A conexão do meu trabalho, de quem se identifica comigo, da consagração da minha história. Minha postura é discreta, continuará sendo. Respeito a cultura, o jeito que sou e a Seleção que comando. A cultura brasileira é essa, vai sair gol e terá dança. É a nossa forma de ser. Em termos culturais, ajudamos na formação desses garotos (estudantes) — ressaltou, lembrando que sua entrada na dança foi algo espontâneo e uma forma de falar a língua de um grupo no qual muitos poderiam ser seus netos.
Em seguida, o vovô Tite se levantou, autografou uma camisa do Brasil a pedido de um jornalista estrangeiro e tomou o caminho do treino. Leve como havia entrado. E feliz a pouco mais de 24 horas da decisão contra a Croácia.