A Seleção deu baile. E bailou também. Até mesmo o professor entrou na dança. Tite entrou na roda e fez — ou tentou fazer — a Dança do Pombo. Para alegria da gurizada e um risco para o joelho do professor, castigado pelas cirurgias que o fizeram encerrar a carreira de jogador aos 28 anos. Na entrevista coletiva, o Eduardo Gabardo, de GZH, questionou o técnico sobre a razão para deixar de lado a formalidade.
— A gente tem de se adaptar às características do grupo de atletas. Tento me adaptar à linguagem deles. A linguagem deles é de dança, brincadeiras. Aprender a dança deles é duro, é difícil. Estávamos brincando, não sei o que aconteceu com o Richarlison, e digo: "'E essa dança aí? Se fizer um gol, pode vir que eu vou dançar'" — explicou Tite.
Houve um receio do técnico de que a dança pudesse soar como desrespeito à Coreia do Sul. Por isso, preferiu que os seus jogadores o rodeassem na tentativa de encobri-lo, sem sucesso.
— Tenho muito cuidado com os maldosos, que entendem como desrespeito. Sei da visibilidade, não queria que tivesse outra interpretação a não ser no sentido de alegria pelo gol, pela equipe, pela performance, desempenho, resultado. Tenho respeito ao Paulo Bento (técnico da Coreia do Sul) desde os tempos de Cruzeiro — ressaltou o técnico, se referindo à passagem de dois meses do português pelo clube brasileiro em 2016.
Na verdade, essa é uma Seleção que dança e canta. Tudo acaba em pagode e batucada. Na chegada da delegação para cada jogo, já virou praxe a Fifa registrar no circuito interno do estádio a festa dos jogadores. Principalmente no momento em que eles pulam e testam os amortecedores do veículo. Dali, saem para jogo.
No dia a dia, a música está sempre presente. Os jogadores registraram mais de uma vez o pagode no vestiário do Grand Hamad Stadium, CT da Seleção aqui. Alex Telles, que viu o jogo das cadeiras, era um dos percussionistas e dono do rebolo. O próprio Tite já disse, em conversa informal com GZH ao final de uma coletiva, que ficava impressionado com a musicalidade do grupo. Principalmente dos mais jovens:
— Tudo acaba em pagode com eles, cara, é impressionante.
Na zona mista ao final da partida, Lucas Paquetá contou bastidores das dancinhas. A escolha é feita na concentração, quando estão escutando música. Logo sai a escolha para coreografar a comemoração e a combinação de como fazer. Tudo parte do quarteto Vini e Paquetá, afinados desde os tempos de Flamengo, Neymar e Raphinha, que ficaram muito próximos desde a chegada do gaúcho ao grupo, no final de 2021. Numa das primeiras entrevistas concedidas aqui em Doha, Raphinha revelou que o repertório de danças é grande.
— Temos umas 10 ensaiadas. Tomara que precise de mais do que 10, a gente ensaia e leva para o jogo, sem problema — sorriu.
A dança, na verdade, é também uma amostra de brasilidade dos jogadores. Ainda mais depois que Vini Júnior foi alvo de uma manifestação racista de um jornalista espanhol depois que ele comemorou com passinhos um gol pelo Real Madrid. Os jogadores, na ocasião, se erigiram em apoio ao colega e trouxeram para a Copa esta bandeira. Que é da alegria, mas é também do orgulho de ser brasileiro.