O dia 18 de dezembro de 2022 marcará o fim de um dos capítulos mais importantes da história da televisão brasileira. Narrador titular da TV Globo em todos os jogos da Seleção Brasileira desde a Copa de 1990, Galvão Bueno fará a sua despedida da TV aberta neste domingo, na decisão do Mundial 2022, entre Argentina e França.
Às vésperas do seu "último ato", o locutor conversou com a reportagem de GZH no Catar sobre a emoção de encerrar uma era tão marcante para diversas gerações de torcedores e telespectadores brasileiros.
— Vou sentir falta. A adrenalina já está sendo grande nestes dias. Tive a oportunidade de narrar 53 jogos seguidos da Seleção em Copas, 94 gols e três finais consecutivas, com dois títulos do Brasil. Sou um profissional realizado. Não sei o que vou pensar no dia 18, mas confesso que vou sentir falta disso tudo — revelou.
Após narrar 13 Copas do Mundo, sendo 11 pela TV Globo, Galvão deixa em aberto seu futuro na comunicação após o Mundial. O que se sabe, porém, é que, depois do apito final de Argentina x França, neste domingo (18) o narrador se despedirá definitivamente das Copas na TV aberta.
— Quero deixar claro que estou virando uma página, mas não estou fechando um livro, pois trabalhar é a coisa mais importante na vida. Ao final do jogo no dia 18, essa página vira. E sim, vou sentir falta — declarou.
A GZH, Galvão Bueno comentou o legado que deixa para a comunicação e para a narração esportiva após quase 50 anos de televisão.
— O maior legado que eu posso ter deixado é ter ajudado a melhorar o nível de posicionamento e importância dos narradores na transmissão. O Cléber Machado me emocionou esses dias com uma declaração que ele deu dizendo que eu sempre lutei por melhorias e maior valorização para os narradores e sempre trouxe todo mundo junto comigo. Ele disse: "O Galvão foi para a prateleira mais alta ao lado de atores e estrelas do entretenimento e levou todo mundo junto com ele". E também quando vejo alguém começando na narração dizendo que se inspira em mim. É o maior legado que eu posso ter deixado — disse.
Primeira mulher a comentar uma Copa do Mundo na TV aberta e parceira de Galvão Bueno em todas as transmissões da Seleção no Catar, a comentarista da Globo, Ana Thaís Matos, elogia a humildade do narrador no contato com jornalistas e fãs e se sente privilegiada por estrear em Mundiais justamente na despedida do maior ícone das transmissões esportivas.
— Está sendo um privilégio e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade muito grande. O Galvão narrou todas as Copas que eu assisti quando criança e adolescente. Aí hoje, do nada, estou comentando a última Copa dele na Globo. E estamos nos dando muito bem, pois essa parceria começou já na Copa do Mundo feminina (em 2019, na França). Ele é um cara extremamente disposto. Tira foto com todos e faz resenha de futebol com todo mundo. Está sendo especial acompanhar isso. E é um ciclo que se encerra para ele nesta Copa ao mesmo tempo em que se inicia um novo, com a primeira mulher comentando um jogo da Seleção masculina em TV aberta — exalta Ana Thais.
Todos os passos de Galvão Bueno na sua última Copa pela Globo serão eternizados em umdocumentário, que será exibido no GloboPlay em fevereiro. Inclusive, a entrevista concedida pelo narrador a GZH foi registrada pela equipe responsável pela produção do material.
— O documentário usará a Copa no Catar como uma linha para contar a toda a história da carreira do Galvão. Como ele é durante os jogos, todos os brasileiros sabem. Mas iremos mostrar como ele é antes e depois das partidas, onde ele come, onde ele vai... O Galvão é um cara que está sempre muito ligado em tudo e gosta de tudo perfeito. Estamos cobrindo todos os movimentos e bastidores da vida dele no Catar durante o Mundial. Costumo dizer que não estou cobrindo a Copa no Catar. Estou cobrindo o Galvão na Copa do Catar — conta Vanessa Santilli, produtora do documentário.
Após se despedir das narrações em TV aberta, Galvão promete viajar com mais frequência ao Rio Grande do Sul, onde tem diversos negócios ligados ao vinho e à agropecuária.
— Hoje sou meio carioca e meio gaúcho, pois os meus negócios fora da televisão estão todos no Rio Grande do Sul. Tenho produção de vinho, criação de angus, criação de cavalos crioulos, que sou apaixonado. Vivo por lá. Quero agora, com mais tempo, ficar cada vez mais perto de Bagé e de Porto Alegre, onde tenho muitos amigos — finalizou.
Confira a íntegra da entrevista de Galvão Bueno a GZH:
Como está a emoção e o coração para transmitir o seu último jogo em Copas do Mundo na TV aberta?
Quero deixar claro que estou virando uma página, mas não estou fechando um livro, pois trabalhar é a coisa mais importante para mim na vida. Comecei a trabalhar com 16 anos e vou fazer 50 anos de TV. É uma coisa muito importante, pois, desde a estreia do Brasil na Copa de 90, só eu transmito os jogos da Seleção em Copas do Mundo. São 53 jogos seguidos da Seleção em Mundiais e 94 gols. Tinha esperança de nesta Copa chegar a 100, mas infelizmente não vai ser possível. (A despedida) Será marcante. Ao final do jogo no dia 18, essa página vira, vou sentir muita falta. Sinto já a adrenalina. Por conversar tanto tempo com dezenas de milhões de brasileiros e pela felicidade de transmitir três finais de Mundiais uma atrás da outra, e com dois títulos brasileiros sou um profissional realizado. Não sei o que vou pensar na hora, mas vou sentir falta.
Que legado você deixa para a narração esportiva?
O maior legado que eu posso ter deixado é ter ajudado a melhorar o nível de posicionamento e importância dos narradores na transmissão. O Cléber Machado me emocionou com uma declaração que ele deu dizendo que eu sempre lutei por melhorias e por uma maior valorização para os narradores e que eu sempre trouxe todo mundo junto comigo. Ele disse: "O Galvão foi para a prateleira mais alta com atores e estrelas do entretenimento e levou todo mundo junto com ele". Sendo isso verdade, é o maior legado que eu posso deixar. E também quando alguém diz que começou no futebol por minha causa ou começou na narração se inspirando em mim... esse é o maior legado.
A sua carreira sempre foi marcada por bordões que eternizaram os principais momentos da história do esporte brasileiro. Você tem algum bordão preparado para a sua despedida, na final da Copa no domingo?
Eu nunca trouxe um bordão pronto de casa. Os meus bordões sempre surgiram na medida em que eu ia me envolvendo no jogo. Digo sempre que eu sou, ao mesmo tempo, um vendedor de emoções e um equilibrista. Para vender emoções, eu preciso me emocionar. Mas também preciso ser um equilibrista porque, de um lado, tem a emoção para ser vendida. De outro, tem a verdade dos fatos, e você não pode se omitir. Quantas vezes o equilibrista cai? Mas, se sair algum bordão novo na última transmissão, certamente vai sair na hora.
Como surgiram os seus principais bordões?
Os bordões sempre foram saindo ao natural. O Taffarel, por exemplo, é um querido amigo e, para mim, é o maior goleiro da história da Seleção Brasileira. Numa hora, fiquei brabo porque eu achava que ele não saía do gol. Ele só pegava as bolas embaixo da baliza. Aí eu pensei: "Sai que é sua, p...". E aí saiu o bordão. Ele sabe disso e morre de rir. Tanto que ensinou o seu segundo papagaio a falar "sai que é sua Taffarel". O primeiro morreu e ele ensinou o segundo. Já o "quem é que sobe" foi assim: uma vez, a bola subiu e eu pensei: "ninguém vai subir na p... dessa bola". Tem também o "haja coração". Mas esses bordões sempre saíram na hora.
Infelizmente, a sua despedida não será com a conquista do hexa pela Seleção Brasileira. Que avaliação você faz do desempenho do Brasil nesta Copa?
Eu confiava muito no hexa. Mas não fizemos uma grande Copa neste ano, como não fizemos uma grande Copa em 2018. Olhando pelo lado otimista, tivemos alguns bons momentos contra a Sérvia e um bom primeiro tempo contra a Coreia do Sul. E só. Os jogadores tinham qualidade. O Tite insistiu muito nesta mistura. Do meio para trás, o time era cascudo e duro. A defesa era muito boa, sofreu apenas três gols em cinco jogos. E, do Casemiro para frente, tinha o Neymar, fora de série, e a garotada. Eu acreditava, mas confesso que esperava mais. O lado negativo foi a forma que perdeu. Para a França, em 2006, dava para ganhar ou perder. Para a Holanda, em 2010, dava para ganhar ou perder. Para a Bélgica, em 2018, a mesma coisa. Agora, para a Croácia, não era para perder. A diferença entre os dois times era muito grande.
O que faltou para o Brasil vencer a Croácia?
Taticamente, não fomos bem. O jogo todo da Croácia era baseado naqueles três jogadores do meio-campo (Modric, Brozovic e Kovacic), e o Casemiro estava perdido entre aqueles três. E, mesmo assim, eles só deram um chute a gol. O do gol. No segundo tempo, tivemos quatro oportunidades de gol e poderíamos ter definido. Aí, na prorrogação, pesa o aspecto psicológico. Teve o belíssimo gol do Neymar, mas, com 1 a 0 ao final do primeiro tempo, o jogo tinha que ter acabado.
Faltou malandragem para a Seleção Brasileira segurar aquele resultado de 1 a 0?
Com 1 a 0, faltando quatro minutos para acabar, você marca, tira espaço, faz falta, dá porrada, fura a bola, vai expulso, mas jogo não tem mais. Faltavam quatro minutos para o jogo acabar, estávamos classificados. Tem só um meio-campista na cabeça de área e ninguém faz uma falta? Entra de carrinho, cai no chão, berra "quebraram meu joelho", faz falta no Modric, dá porrada em alguém, vai um expulso. Isso faz parte do jogo. E o Brasil estaria na semifinal com a Argentina. E, com a Argentina, se pode ganhar ou perder, mas aí seria normal. Pelo menos estaríamos garantidos até sábado. Aí, os seis anos do Tite teriam justificativa. Mas foi muito triste a forma como a Seleção foi desclassificada.
Você tem negócios no Rio Grande do Sul. A partir do ano que vem, veremos você com mais frequência no Estado?
Hoje sou meio carioca e meio gaúcho. Os meus negócios fora da televisão estão todos no Rio Grande do Sul. Tenho produção do vinho, criação de angus, criação de cavalos crioulos, que sou apaixonado. Vivo por lá. Quero agora, com mais tempo, ficar cada vez mais perto de Bagé, de Porto Alegre, da Bela Vista, onde tenho muitos amigos. Neste ano, estive também na praia do Cassino, com a minha mulher, Desiree, e amigos, onde me diverti muito. Até churrasco na praia a gente fez.