Mostramos nossas armas. E não são poucas. O Brasil venceu a Sérvia por 2 a 0, soube superar suas dificuldades em um jogo duro e apresentou ao mundo um padrão de qualidade que nos permite sonhar. Raphinha, Vini Jr., Paquetá e, claro, Richarlison, o Pombo, desequilibraram e fizeram a caminhada aqui no deserto começar da melhor forma possível. Na segunda-feira, uma vitória sobre a Suíça, no Stadium 974, em Doha, já nos coloca nas oitavas.
Foi espinhoso o primeiro tempo, como se previa que seria o jogo. A Sérvia tem um time alto, vigoroso na marcação, com obediência tática e alguns jogadores dotados de bola no pé. Principalmente Sergej Milinkovi-Savic, o 20, e Tadic, o 10. Eles amaciam o jogo, fazem ele ganhar velocidade e buscam sempre se posicionar de forma sorrateira às costas dos volantes.
Porém, a Seleção soube como neutralizá-los. Depois de um começo com os sérvios marcando alto e tirando as linhas de passe, o Brasil conseguiu jogar. No entanto, até a intermediária de ataque. A bola chegava ali e batia em um paredão de gigantes eslavos de vermelho. Como Neymar tinha todos os seus caminhos bloqueados, a saída era acionar Raphinha e Vini Jr.. Os dois não desapontaram. Levaram vantagem na marcação de perseguição longa dos sérvios e passaram a criar algum perigo.
As vitórias de Raphinha e Vini fizeram o técnico Dragan Stojovic dobrar a marcação. O 4-4-2 com linhas próximas virou um 5-4-1 cerrado. O Brasil trocava passes, de forma lenta, e mal encontrava os espaços. Tanto que Richarlison foi um espectador de luxo, ganhou ingresso para ver o jogo de dentro do campo. As poucas oportunidades saíram em lances individuais. Aos 12, Vini entrou como uma flecha pela esquerda, mas foi bloqueado quando cruzaria. No escanteio, Neymar tentou olímpico. Aos 20, Casemiro, sem ter a quem acionar, chutou de fora da área. O outro Milinkovic-Savic da família, Vanja, 2m2cm, defendeu com um sorriso no rosto.
Viva o centroavante!
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A Sérvia fazia seu jogo de sempre. Foi assim que chegou à Copa mandando Portugal para a repescagem. Alisson, de bigode, testando sua beleza, só foi trabalhar aos 25, em cruzamento para a sua área. A melhor chance, de fato, veio em troca de passes rápida, a única. Raphinha tocou em Paquetá no meio e correu para a única fenda na zaga sérvia. O chute, porém, foi fraco.
Assim, o primeiro tempo foi mais tenso do que palatável. Estava melhor o ambiente antes dele, com música e show de luzes. Esses catares são ousados. Em certo momento, tocaram até o funk aquele que diz "Ela é uma bagaceira, além de bonita, gostosa e solteira". A galera se animou. Mesmo quem nem imaginava que ela era gostosa e solteira. Foram, na verdade, os momentos de maior empolgação da torcida brasileira. Esses e quando eles reagiam ao gritos de "Sirbiá, Sirbiá", vindos do lado oposto, onde havia uma mancha vermelha nas arquibancadas.
Tite bancou Richarlison, que fez os dois gols, sem que isso representasse a ausência de Vinícius Jr.
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O segundo tempo, ao menos, começou melhor, com Neymar partindo para cima e sendo parado com falta. Ele, porém, cobrou na barreira. Em seguida, Raphinha recebeu livre na área, mas se demorou e, quando chutou, havia um sérvio de 2m fazendo sombra nele. Aos sete, Vini Jr. mostrou que de forma alguma Tite pode prescindir dele: arrancou pela esquerda, passou zunindo por dois e cruzou. Porém a zaga cortou. Logo depois, repetiu o lance. Raphinha arrematou mal. A torcida, a essa altura, havia esquecido o hit da bagaceira. Já entoava o bom e velho "Brasil, Brasil", um patrimônio do povo.
No campo, a Seleção correspondia mesmo. Tirando uma ou outra escapada bissexta da Sérvia, só se via jogador de amarelo com a bola. Aos 15, Alex Sandro recebeu de Raphinha e chutou forte, no poste. O gol estava chegando. E chegou. Aos 17. Neymar partiu para cima de Pavlovic, driblou, negaceou na sua frente. A bola escapou e Vini chegou chutando, sem pedir licença. No rebote, Richarlison fez o 1 a 0. Desde a fase de grupos da Copa de 2014, o Brasil não tinha gol de um camisa 9. Ele veio no momento mais importante. Uma tonelada saía das costas da Seleção a cada passo da dança do Pombo na comemoração.
Centroavante é tão importante que Dragan Stojkovic colocou mais um. Vlahovic, astro sérvio, entrou no lugar do marcdor Mladenovic. A Sérvia se abriu. E o Brasil se esbaldou. Vini arrancou, lançou de trivela e Richarlison não fez um gol, mas uma obra-prima. Ele dominou, a bola correu pelo seu tórax e subiu. Em um giro rápido, acertou um voleio plástico para fazer o 2 a 0.
Depois disso, Tite mostrou seu arsenal. Entraram Rodrygo, Jesus e Antony. O ponto de preocupação ficou com Neymar, que saiu chorando, depois de levar uma forte entrada no tornozelo. Jesus ainda acertou a trave. Ele havia entrado no lugar de Richarlison, o nome da noite. O cara que fez a torcida cair na dança. Na dança do Pombo. Pelo que se viu aqui na estreia, é bom você aprender. Ela tem tudo para ser o ritmo do presente de Natal que pode chegar do Catar.
BRASIL
Alisson; Danilo, Marquinhos, Thiago Silva e Alex Sandro; Casemiro e Lucas Paquetá (Fred, aos 30'/2º); Raphinha (Martinelli,aos 41/2º), Richarlison (Gabriel Jesus, 34'/2º), Neymar (Antony, 34'/2º) e Vini Jr. (Rodrygo, 30/2º). Técnico: Tite
SÉRVIA
Milinkovic-Savic; Pavlovic, Milenkovic e Veljkovic; Gudelj (Ilic, 12'/2º), Zivkovic (Radonjic, 12/2º), Lukic e Mladenovic (Vlahovic, 20'/2º); Sergej Milinkovic-Savic, Tadic e Mitrovic (Maksimovic, 38'/2º). Técnico: Dragan Stojkovic
GOLS: Richarlison (B), aos 17min e 28min do 2º tempo.
CARTÕES AMARELOS: Pavlovic, Gudelj, Lukic (S).
ARBITRAGEM: Alireza Faghani, auxiliado por Mohammadreza Mansouri e Mohammadreza Abolfazli (trio iraniano). VAR: Abdulla Al-Marri (Catar).
PÚBLICO: 88.103 torcedores.
LOCAL: Estádio Nacional de Lusail, em Lusail, no Catar.