Foi uma estreia com vitória indiscutível de 2 a 0, bem ao contrário do empate morno em 1 a 1 com a Suíça, na Rússia, há quatro anos. Dois gols de Richarlison, ambos como centroavante clássico. Tite deve estar muito feliz. Jogar com a figura do centroavante foi uma aposta pessoal. O “Pombo” não é nem de longe o mais aparelhado tecnicamente. Aqui e ali, já se ouvia aquela ideia de acomodar os melhores de qualquer maneira, passando Neymar para falso 9 — e sacando o patinho feio. Tite o manteve o nome da mecânica e de uma ideia. Deu-se muito bem.
No primeiro gol, oportunismo. Neymar e Vini Jr. rabiscaram, coube a ele apenas empurrar. No segundo, não. Aí foi de placa. De voleio, rede estufada, de virada. Passe de Vini Jr., que o achou na área. Prêmio bucha. Mas não foi fácil. No primeiro tempo, o Brasil criou pouco. Não sofreu na defesa, mas não impôs seu jogo. A posse de bola chegou a se manter em 50% em 50%. A Sérvia abriu mão de Mlahovic, um baita atacante de 22 anos, da Juventus, em nome de mais volante marcador.
A linha de cinco sérvia funcionou até Tite destravá-la no intervalo sem substituir ninguém. Ele apenas adiantou Paquetá na fase ofensiva. Posicionou cinco entre os cinco da Sérvia. Foram eles, da direita para esquerda: Raphinha, Paquetá, Neymar, Richarlison e Vini Jr. Cheque mate. Uma pequena mudança para uma enorme transformação. A Sérvia perdeu a sobra. Faliu. Podia ter sido de goleada.
Seu técnico até tirou o sumido astro Mitrovic para não se atrapalhar no saldo. Restou se encolher e recuar, rendido à qualidade brasileira. Vini Jr. se escalou. Não sai mais do time. Raphinha não foi tão bem na direita, mas não é da natureza de Tite sacar um jogador só por ir mal em uma partida. Paquetá pareceu peixe fora d’água como volante posicionado, ao lado de Casemiro, mas quando recebeu permissão para ser meia-direita, quase na mesma linha de Neymar pela esquerda, ele melhorou. Em relação a si mesmo e ao time.
Só não foi melhor pela lesão de Neymar. O Eduardo Gabardo, repórter da Rádio Gaucha, disse que o tornozelo dele parecia uma bola de futsal. Inchou muito.
— Neymar! Tudo bem aí? — perguntou o Gabardo no campo.
Neymar piscou o olho e fez sinal de positivo. Mas preocupa. O intervalo entre os jogos é mais curto nessa Copa. O tempo de recuperação é quase zero. Segunda-feira (28) já tem jogo com a Suíça. Se não estiver 100%, que Tite o poupe. Eis aí uma diferença boa em relação a 2014. Neymar não é mais uma andorinha solitária. Agora tem Vinícius, Raphinha, Paquetá. E tem o Pombo. Que não é estrela. Não é cisne. Mas é sua excelência, o centroavante.
Eles são nossos
Não são apenas os sauditas, com o ponto em comum da desgraça Argentina. Encontrei Faissal Abdulah na rampa de acesso do Lusail Stadium. Ele é do Kuwait.
— Amo o futebol brasileiro — disse-se Abdulah, emocionado.
Foi a primeira vez que Abdulah torceu para a seleção do seu coração ao vivo. Ele comprou ingressos para todos os jogos da primeira fase. A imagem dele, sozinho, pontuando o branco da kandura com o verde-amarelo nos ombros, nos oferece a dimensão do que significa a Seleção Brasileira. Há muitos Abdulahs aqui no Catar. Eles são nossos. Isso ficou muito claro na vitória do Brasil. O Lusail, com 88 mil pessoas, parecia o Maracanã.