Apesar da derrota vexatória da Argentina para a Arábia Saudita na estreia na Copa do Mundo, nesta terça (22), uma cena positiva me chamou atenção no lado dos hermanos no pós-jogo: a postura de Lionel Messi. Bem diferente do que vimos há quatro anos, quando os argentinos foram eliminados pela França no Mundial da Rússia, desta vez, o camisa 10 teve uma atitude de líder.
Na zona mista do Lusail Iconic Stadium, Messi parou a centímetros do local onde eu estava. Me chamou atenção o semblante firme e o tom amigável com que o atacante respondia aos questionamentos, apesar do indisfarçável abatimento pela derrota. Bem diferente do jogador que vivia às turras com os jornalistas e saía sem dar explicações aos torcedores após os resultados negativos.
Messi com certeza percebeu o sotaque brasileiro quando perguntei a ele sobre o impacto da derrota e a oportunidade que ela poderia dar à Argentina para se fortalecer ainda mais nesta Copa. Sublinho isso porque muitas vezes os jogadores argentinos só respondem as perguntas dos seus conterrâneos. Mesmo assim, o camisa 10 respondeu a minha pergunta de forma afável, clara e desarmada.
— Foi um golpe duro para todos, para nós e para a torcida. Mas o nosso grupo sempre se destacou pela união. Agora, é o momento de estarmos mais unidos que nunca e de demonstarmos força. Não esperávamos estrear desta maneira, mas agora só depende de nós dar a volta por cima — disse.
Este Messi que vi hoje de perto é bem diferente daquele jogador que havia convocado uma greve de entrevistas contra a imprensa em 2016. Bem diferente também daquele atacante que havia ameaçado "pular da barca" da seleção argentina após perder o pênalti decisivo na derrota para o Chile, na final da Copa América Centenário, também em 2016. E, principalmente, bem diferente daquele atleta que saiu da Arena Kazan sem dar explicações, após a queda da Argentina na Copa 2018. Desta vez, eu vi um líder de verdade.
Após a derrota para a Arábia Saudita, os jogadores da Argentina deixaram o estádio em Lusail todos juntos, em bloco. Sabedor de que seria o mais visado pelos jornalistas, Messi parou em vários pontos da zona mista e respondeu a diversos questionamentos, enquanto a maioria dos companheiros mais jovens deixava o estádio sem ser "importunada" pelos repórteres. Ou seja, além de se expressar bem, o craque blindou os seus colegas.
Mas não elogio Messi apenas pela disposição em dar a cara para bater. O atacante fez, acima de tudo, um discurso que levantou o moral dos abatidos torcedores argentinos. Os jornalistas hermanos vibram muito com a sua seleção e sofrem muito com as suas derrotas. Pois percebi que as palavras de Messi reestabeleceram a autoestima dos colegas, como aliás deve ter ocorrido com boa parte dos torcedores argentinos também. Afinal, este é o poder de um verdadeiro líder.