Se o principal animal a ser visto no Oriente Médio é o camelo, saiba que a seleção da Arábia Saudita mostrou a todos que a zebra pode ser mais interessante. E como é vizinha do Catar, aposto que a torcida veio montada em várias delas, só pode!
Dia de estreia da Argentina no Mundial. Uma das seleções favoritas. Expectativa gigantesca. Invasão hermana. Despedida da lenda planetária do futebol — sim, essa deve ser a última Copa de Lionel Messi. Ainda que muitos não queiram acreditar.
— Acho que ele pode jogar mais uma Copa, como fará Daniel Alves — disse um argentino.
Sim, de fato, pode. O ídolo argentino está com 35 anos, o lateral-direito do Brasil tem 39, o jogador mais velho do Brasil em Copas. Por enquanto, ele mesmo disse durante uma entrevista já aqui no Catar que quer aproveitar o momento.
Os argentinos estavam aproveitando esse dia, alegres, divertidos. Cantavam pelo metrô, se abraçavam no entorno da arena Lusail, soltavam gritos inflamados. Uma torcedora veio para o estádio sem ingressos, com mais seis amigos. Conseguiu na hora os tíquetes para entrar:
— Estou muito feliz de estar vivendo esse sonho. Vamos ganhar por 3 a 0.
O jogo de estreia da Argentina foi um banho de água fria. E não foi nem de mangueira, foi de Kanno. Esse é o nome de um dos volantes da seleção árabe. E eu não poderia deixar passar essa! E pensar que o Cano argentino estava a poucos metros. O goleador do Brasileirão pelo Fluminense estava no Lusail. E não pode em nada, porque não foi convocado.
Não me venha com favoritismo
Em copas, essa foi a primeira vitória da Arábia Saudita contra um time sul-americano. E também a primeira derrota da Argentina para um asiático.
A Arábia Saudita mirou na Argentina e deu a vida para conseguir apagar aquela festa toda. Chegaram mais quietos, tímidos e foram se soltando. Um torcedor chegou a me dizer:
— Vamos perder, por um a zero.
Mas ele, assim como outros desacreditados, se surpreendeu. Não saberia dizer se tinham mais Argentinos ou Sauditas no estádio, seria capaz de errar. Mas posso afirmar que lá dentro, no momento do empate, o grito dos árabes foi mais alto. E dali em diante não parou mais. Na virada, a torcida se agigantou! O recado tava dado: "Não tentem nos subestimar".
"Ah, vai te Catar"
Uma explosão de emoções. Os torcedores do emirado vizinho passavam enrolados em suas bandeiras e eram só orgulho ao deixar o estádio. Conversei com quatro amigos, aqueles mais animados, e perguntei qual era a sensação após a vitória.
A plenos pulmões, um deles me disse:
— Estou muito feliz!
Outro completou:
— Onde está o Messi?
Um terceiro respondeu:
— Ele está no meu bolso.
Mas se ele conhecesse essa expressão, com certeza diria ao Messi: "Ah, vai te Catar ".