Existe um mundo paralelo na capital do Catar. É sério! Descobri isso e trago em detalhes para vocês. Os torcedores que entram nesse território podem viver, curtir e experimentar uma realidade completamente diferente do que se está acostumado no dia a dia do país árabe. Nesse local, há demonstrações de carinho — o que não é permitido por aqui.
As pessoas podem deixar os ombros e joelhos à mostra. Vi gurias usando short, saia e blusa de alcinha, e guris com regata e bermuda curta.
Ah, a cerveja rola solta. Cada pessoa chega a comprar quatro copos de 500 ml de uma só vez para ter de sobra, até entrar na fila de novo, pegar mais quatro copos, e assim por diante.
O torcedor mexicano gritou já com bastante alegria, para aqueles mais desavisados:
— Hay cerveza por aqui!
Como se dissesse: "dá para beber sim, gente!".
Quatro torcedoras da Holanda, vestindo a camiseta da seleção do Catar, brindaram esse momento:
— Cheers! — desejaram, o mesmo que "saúde!".
Esse lugar pode receber uma multidão: até 40 mil pessoas. Fica no parque Al Bidda, um dos mais populares e antigos de Doha. Mas durante a Copa do Mundo ele abriga a bolha do Catar: a Fifa Fan Festival. E nesse lugar, o Oriente Médio parece ficar um pouco mais ocidental, para encher de encantamento o olhar catari.
Só quem vai sente
Só quem vai sente. Essa é a frase que descreve o nosso Planeta Atlântida, aí no Sul. E porque eu estou falando disso aqui? Por que a estrutura da Fan Festival é muito parecida com aquela dos grandes shows.
Um espaço com música, apresentações, entretenimento, comidas do mundo inteiro e a transmissão dos jogos. Quando torcedores do mesmo país se encontram é uma festa. No jogo de abertura da Copa, no domingo (20), na entrada de campo, os cantos de torcedores do Catar e do Equador se misturavam. Eles não eram muitos, mas estavam empolgados.
Cada um fala na sua língua, mas se esforça para entender e interagir com os povos que vão habitar este lugar durante um mês. Volta e meia um pergunta para o outro coisas como: "De onde você é?" ou "O que está achando da Copa?".
Encontrei uma brasileira que já está aqui há um mês com a família. A jornalista carioca Priscila Piffer não veio a trabalho. Veio para acompanhar a Copa e disse que viu a cidade de Doha se transformar no último mês e ficou com a cara do mundial:
— A gente viu essa transformação e viu os turistas chegando. Parecia uma cidade fantasma, sabe? Tipo: "Nossa que incrível esse lugar, mas não tem ninguém". E agora vendo os torcedores está sendo muito legal.
Priscila tem toda a razão. Ela estava na Fan Festival e conheceu pessoas de diversas nacionalidades ao lado do filho, Bernardo, de seis anos.
É a primeira Copa do Mundo dele. Assim como a minha. A diferença é que tenho 26 anos a mais que ele. Mas eu também me sinto um pouco criança desbravando cada coisinha desse super evento. E também furando algumas bolhas, como aquelas de sabão da nossa infância.