Mônica evita acompanhar aquilo que considera o auge do seu nervosismo, mas na quinta (16) não escapou: ao lado da mãe e com uma equipe de uma emissora de TV tomando a sala do apartamento onde mora, em São Paulo, foi obrigada a assistir ao técnico Vadão listar as 23 chamadas para a Copa.
— Normalmente não vejo, não vi na Olimpíada, mas hoje tive que ficar sentadinha. Escutar o meu nome teve um sabor especial, fiquei bem feliz. Minha mãe deu tranquilidade, ela me traz harmonia. Quando ouvi a confirmação, dei um abração nela — descreveu a zagueira.
A mãe foi uma figura determinante na carreira de Mônica. Amante de Esportes, incentivou a filha e a irmã desde pequenas. Enquanto ia trabalhar, deixava as duas brincando na rua com os vizinhos do Bairro Navegantes, na Zona Norte de Porto Alegre.
— Eu chegava em casa e o pessoal vinha reclamar para mim, dizendo que minhas filhas estavam largadas na rua. Quando perguntava o que elas faziam de errado, respondiam que elas passavam a tarde jogando bola com os guris. Eu não entendia nada e retrucava: "O que tem de errado em jogar futebol?" — relembrou Ana Lúcia Hickmann, 65 anos, aposentada.
Quando Mônica tinha 14 anos, dona Ana acordava cedo para atravessar a cidade com a filha, que havia passado no teste da escolinha do Inter. A rotina era dura: a mãe preparava o almoço, pegava dois ônibus com a filha, esperava o fim do treino, e a menina fazia o caminho de volta almoçando, pois já ia direto para o colégio à tarde. Dois meses depois, o bolso ficou apertado:
— Na época, a gente sempre contava o dinheiro para sobreviver. Aí falei para que não ia mais conseguir pagar a mensalidade da escolinha.
Hoje, a guria ri quando lembra da história, mas não esquece do aperto que quase a tirou do futebol em 2002. Dias depois de ouvir aquilo da mãe, ela foi promovida para o time principal e não precisou mais pagar para treinar. E a partir daí, as coisas começaram a dar certo. Em 2006, Mônica conquistou o Sul-Americano sub-20 no Chile e foi bronze no Mundial da Rússia na mesma categoria.
Na Áustria, conquistou 10 títulos entre 2007 e 2012 — cinco ligas e cinco copas nacionais. De volta ao Brasil, na Ferroviária, foi campeã estadual em 2013 e da Copa do Brasil e do Brasileirão em 2014. Pela seleção, levantou dois canecos de Copa América — em 2014, no Equador, e em 2018, no Chile —, um de Pan-Americano, em 2015, e um da Liga Espanhola, pelo Atlético de Madrid, na temporada 2017/2018. Atualmente, joga pelo Corinthians, vice líder do Brasileirão feminino A1 e vai para sua segunda Copa:
— De uma coisa o torcedor pode ter certeza: mesmo com essa série negativa, não vai faltar garra e luta na nossa Seleção.