Foram duas horas de absoluta incerteza. O pai de Andressinha viveu a expectativa pela convocação da filha em uma viagem entre Roque Gonzales, na fronteira com a Argentina, e Santa Rosa, onde participaria da parte local do Globo Esporte. Ao sair de casa, Elizeu Machry, 55 anos, ainda não sabia se a filha estava na lista de Vadão.
— Eu peguei um trecho da estrada muito ruim de sinal. Dirigi numa angústia, que coisa horrível. Só quando cheguei na RBS é que me falaram. Aí o coração bateu bem forte de felicidade — recordou o comerciante.
A dúvida era por conta da lesão que tirou Andressinha do torneio She Believes, disputado entre 25 de fevereiro e 3 de março nos Estados Unidos. Como parte de sua recuperação, a meia voltou ao Brasil para jogar pelo Iranduba, do Amazonas, já que a temporada americana dura apenas sete meses, e o seu time, o Portland Thorns, só voltaria a jogar no fim de março.
Ela divide atenção entre os dois clubes desde o ano passado para que esteja sempre atuando. Aos 24 anos, ela só tem idade de novata: em 2019, completa 10 anos da primeira convocação para a seleção sub-17. E a guria ainda disputou dois Mundiais da categoria, em 2010 e 2012 — nas duas, o Brasil caiu nas quartas. Não demorou muito para que chegasse ao time principal, com 17 anos. O sucesso repentino surpreendeu o pai:
— A gente comentava muito sobre Esporte. Quando ela tinha uns 8 anos, jogava muito. Vendo a Marta e a Formiga jogando, eu disse que com 18 anos procuraria um time pra ela fazer uma avaliação. Mas ela participou de uma seletiva e foi chamada. Imaginei ela saindo de casa com 18, mas com 14 já estava no Mundo.
Andressinha disputou a Copa de 2015, no Canadá, na campanha em que o Brasil foi eliminado nas oitavas pela Austrália e ganhou a medalha de ouro no Pan-Americano de Toronto no mesmo ano. Também participou das Olimpíadas de 2016, no Rio, quando as brasileiras perderam para a Suécia, nos pênaltis e num Maracanã lotado, a vaga para a final. A cobrança de Andressinha parou nas mãos da goleira Lindahl.
— No começo, eu sofria muito assistindo aos jogos. Nas Olimpíadas, quando a goleira defendeu o pênalti dela, o chão desapareceu debaixo dos meus pés — contou Elizeu.
Hoje em dia, ele e a mãe de Andressinha, Adriana, de 51 anos, conseguem acompanhar a meia pela internet. O pai, orgulhoso por ter mostrado o caminho do futebol à filha em campos de várzea — ela sempre entrava no gramado durante o intervalo para trocar passes com ele —, gabou-se do último gol da jovem: um chutaço de fora da área numa falta que estufou as redes do Orlando Pride no domingo (11) na vitória do Portland por 3 a 1. A bomba foi eleita o gol mais bonito da quinta rodada da Liga Americana em voto popular.
Os 10 anos de carreira tranquilizaram Elizeu, que nem fica mais tão nervoso ao ver a filha jogar, embora nunca tenha viajado aos Estados Unidos para presenciar uma dessas atuações. Mas ele já prometeu:
— Quando é jogo valendo, muda a história. Estou confiante. Se o Brasil chegar na final, vou à França ver a Andressinha numa decisão de Copa do Mundo.