Um carnaval fora de época tomou conta de Paris tão logo o árbitro uruguaio Andrés Cunha apitou o final do jogo em São Petersburgo, decretando a vitória da França sobre a Bélgica por 1 a 0, na noite desta terça-feira (10). Milhares de pessoas foram às ruas da capital francesa comemorar a classificação para a terceira final de Copa do Mundo da história dos azuis.
A festa não teve constrangimentos. Torcedores subiram no teto das paradas de ônibus, de caminhões e em tendas de lojas. Automóveis eram obrigados a parar e a buzinar para participar da comemoração. As buzinas, aliás, somavam-se ao canto da Marselhesa, o hino francês, e ao tradicional grito de "Allez les Bleus" (Vamos azuis!) como trilha sonora da celebração.
Agora, o time do técnico Didier Deschamps aguarda o vencedor de Croácia e Inglaterra, que se enfrentam às 15h (horário de Brasília) desta quarta-feira (11). E está muito clara a preferência do torcedor francês: por razões esportivas e históricas, eles querem enfrentar os ingleses.
— Claro que queremos pegar a Inglaterra. Eles sempre nos derrotam no rúgbi. Chegou a hora de nós derrotarmos eles no futebol. É como uma revanche — disse o torcedor Louis Metais.
Já a torcedora Lea Misso evocou razões históricas para preferir o enfrentamento com os ingleses.
— A Inglaterra é a Inglaterra. Ingleses e franceses sempre estiveram em lados opostos na história. São como nossos inimigos. Quero ganhar deles — declarou.
Pela primeira vez na Copa 2018, os parisienses puderam assistir a uma partida em clima de jogo. Foi organizada uma espécie de fan fest em frente ao histórico edifício Hôtel de Ville, sede da prefeitura de Paris, na região central da cidade, onde foi instalado um telão gigante para 20 mil franceses torcerem pela seleção de Mbappé, Griezmann e Pogba. Até então, concentrações de torcedores a céu aberto eram proibidas pelas autoridades por receio de atentados.
Desta vez, o evento foi liberado, mas com forte aparato de segurança, com a presença de 1,2 mil policiais, vários deles com fuzis e armamento pesado. As estações de metrô próximas da região foram fechadas durante a partida. Na entrada, uma revista minuciosa atrasou a entrada de torcedores.
Apesar das medidas, o clima foi de paz. Dois torcedores belgas assistiram ao jogo uniformizados, em meio aos milhares de franceses.
— O clima é pacífico. Talvez pelo resultado, mas foi tranquilo — disse Emile Kint, 23 anos, belga que estuda administração e negócios em Paris e foi a fan fest acompanhada do amigo, também belga, Pieter Temmermann. Apesar de fardados com as cores dos Diabos Vermelhos, não ouviram qualquer tipo de provocação.
A primeira manifestação mais intensa dos torcedores franceses foi justamente para ovacionar um adversário. Quando, antes do jogo, o telão mostrou o astro francês Thierry Henry, atual auxiliar-técnico belga, cumprimentando o técnico Didier Deschamps, os aplausos foram intensos.
Logo após, ocorreu um dos momentos mais emocionantes da noite de solidariedade em Paris, quando a Marselhesa foi cantada no estádio, em São Petersburgo, e entoada em sincronia na fan fest pelos 20 mil franceses.
Durante o jogo, suspiros, vibrações, gritos, "Allez les Bleus" e Marselhesa marcaram o evento. O goleiro Hugo Lloris, quando fazia defesas espetaculares, e o atacante Kyalian Mbappé, quando partia em velocidade, eram os jogadores mais exaltados pelo público.
O ápice das comemorações veio no gol de Umtiti, aos 6 minutos do segundo tempo. A praça do Hôtel de Ville veio abaixo. A festa foi reforçada por sinalizadores vermelhos, que davam clima de jogo para a fan fest. Eram os franceses sentindo a proximidade da final.
Do gol até o apito final, os torcedores se comportaram como se estivessem em São Petersburgo: em clima de estádio.
— Entenda. Estamos há 20 anos esperando por isso — disse à reportagem o torcedor Vautin Le Goam, que também prefere enfrentar a Inglaterra à Croácia na final: — Acho que a Croácia é mais time do que a Inglaterra. Os ingleses não são bons — completou. — A Inglaterra seria muito fácil. A Croácia é muito mais forte — emendou outro torcedor.
Logo depois, a reflexão sobre o adversário deu lugar ao buzinaço, aos cantos e aos gritos. Um carnaval que só terminou na madrugada parisiense. Afinal, pela terceira vez, a França está na final da Copa do Mundo.