Foram mais de duas horas de espera. Os jogadores da Seleção Brasileira despontaram na zona mista mais de 120 minutos depois da vitória sobre a Costa Rica. Em grupo, cruzaram diante dos jornalistas pelo corredor que ziguezagueia o imenso hall do Estádio de São Petersburgo. Pareciam flanar. Estava estampado no rosto deles o alívio pela vitória e o peso de uma tonelada tirado das costas depois de uma hora e meia de um aflitivo 0 a 0.
Neymar passou pelo lado de fora. Logo os jornalistas arrastaram mochilas e notebooks atrás do craque. Que mal olhou para o lado e só disse um breve "hoje, não, pessoal". Para frustração de dois jornalistas de Bangladesh. A dupla parecia exausta, mas fincou pé à espera do astro com estoicismo. Quando ele surgiu, eles suplicaram em coro: "Ney-Má, Ney-Má, Ney-Má". Mas Neymar não se comoveu com o apelo dos bengaleses e se foi.
Deixou para trás também um batalhão de jornalistas brasileiros, franceses e espanhóis decepcionados. Thiago Silva e Alisson, no entanto, pararam. O zagueiro primeiro atendeu à imprensa parisiense, em um francês fluente de quem atua há cinco anos no PSG. Depois, em bom português, admitiu que o resultado no Estádio de São Petersburgo desviou a rota de um furacão que se avizinhava de forma catastrófica.
— Saímos daqui (de São Petersburgo) com o dever cumprido, com o sentimento de ter feito uma grande partida. Se tivesse sido 0 a 0, as pessoas falariam muito mais. Acho que, com o 2 a 0, alivia um pouco nossa pressão para o terceiro jogo. Creio que tiramos um grande peso das costas — disse o capitão desta sexta-feira.
Thiago seguiu falando. Revelou uma ponta de aborrecimento com Neymar. Por devolver a bola, em um ato de fair play, ele foi repreendido com rigor pelo companheiro de time e de Seleção. Deixou clara sua mágoa quando foi questionado se as críticas ao companheiro também o faziam sofrer, como em um ato de solidariedade.
— Cara, sofro da mesma forma que você sofre por um irmão seu, é o mesmo sentimento. Tenho o Neymar como irmão mais novo, procuro cuidar dele dando conselhos. Hoje, fiquei muito triste com ele. No momento em que devolvi a bola, ele me xingou muito, mas acho que ele estava certo, eles estavam fazendo muita cera. Devolvi porque não seria por aquela bola que eles nos ganhariam. Mas fiquei triste pelo ato dele – disse Thiago.
Assim como o zagueiro, Alisson também variou idiomas na zona mista. Primeiro, ele atendeu aos italianos de Roma. Eles queriam saber do goleiro do clube da cidade as razões para tanta dificuldade da Seleção. Alisson explicou, paciente e procurando as palavras exatas em italiano. Depois, fez o mesmo em português. Como de costume, suas entrevistas são equilibradas e sem a mínima brecha para dupla interpretação.
Assim como Thiago, Alisson admitiu voltar para Sochi com algumas toneladas a menos na bagagem. Mas destinou esse mérito ao time, por refletir e saber as razões do empate na estreia:
— Precisávamos dessa vitória pelo nosso objetivo, que é classificar. Mas ela também foi importante para mostrar que o que temos feito realmente dá resultado e que o futebol é assim, difícil mesmo. Foram dois gols no fim, suados, mas Copa do Mundo é assim — disse, antes de se posicionar diante das câmeras de TV.
Logo depois, o segurança Fernandão se aproximou de Thiago Silva, que havia ficado para trás concedendo entrevistas para rádios. Seus 119 quilos distribuídos em 1m95cm eram a senha de que as entrevistas haviam se encerrado. Era hora de entrar no ônibus e iniciar o deslocamento para o hotel, onde um animado jantar esperava a delegação. Um prêmio merecido depois de uma tarde de muito trabalho em São Petersburgo.