Tite já foi informado pelos seus auxiliares e observadores. Uma seleção com tamanho de time de rúgbi, pegada forte, muita jogada aérea e que baseia seu jogo no contato físico está entre o Brasil e as oitavas de final. As observações feita pela comissão técnica dos dois jogos da Sérvia na Copa e dos amistosos contra Bolívia e Chile esquadrinharam um adversário com o perfil daqueles velhos rivais com os quais Tite se acostumou a enfrentar nos Gauchões das antigas.
– Será um jogo de disputa mesmo – disse um dos integrantes da comissão técnica de Tite em conversa informal com GaúchaZH.
A projeção no ambiente interno da Seleção Brasileira é de que será um jogo concentrado no meio-campo, com espaço de menos e disposição de sobra. Como os sérvios têm tamanho de armário de seis portas (o mais baixo é o meia-atacante Tadic, de 1m81cm), é possível até projetar o Brasil mais robusto e com o setor central mais recheado. Assim, não seria fora da curva especular a entrada de Renato Augusto no lugar de Willian. A equipe retomaria a primeira formação de Tite, usada até a partida contra o Equador, na Arena. Nela Coutinho era meia aberto pela direita, mas com liberdade de movimentação e trocas com Neymar. Com Willian, o meio para a frente fica mais posicionado e se torna presa mais fácil contra retrancas – como de ser a postura do rival desta quarta-feira em Moscou.
Depois de rever as duas partidas da Sérvia nesta Copa, posso dizer que trocar passes e costurar o jogo está fora do escopo dela. A obediência tática, com linhas quase retilíneas, e a energia empregada em cada lance norteiam o futebol da próxima adversária do Brasil. Será preciso paciência e controle emocional. A comissão técnica já alertou os jogadores de que, como se diz no jargão do futebol, o couro vai comer em Moscou. O que faz soar o alerta em relação aos pendurados. Casemiro levou cartão contra a Suíça, e Neymar e Coutinho, por reclamação, contra a Costa Rica. Como a ficha só ficará limpa nas quartas para a semifinal, todo o cuidado é pouco.
A seguir, em sete toques, delineio o possível cenário da decisão brasileira no Spartak Stadium, nesta quarta-feira, numa Sessão da Tarde que, esperamos todos, seja sem tensão de angústia.
Gigantes por natureza
Os eslavos são sujeitos de biotipo privilegiado. Geralmente, são altos e fortes. Aqui mesmo na Russia, onde peregrinamos atrás da Copa, é difícil ver locais franzinos. Quase todos são do tamanho de zagueiros. A Sérvia não foge à sua natureza. Trouxe uma seleção que, pelo tamanho, também pode representar o país na Copa do Mundo de Rúgbi. O titular mais baixo da Sérvia é o meia-atacante Tadic, com 1m81cm e 80 quilos. Depois dele, o volante Kostic, 1m84cm e 82 quilos. Os outros nove jogadores têm mais de 1m85cm. A média de estatura dos titulares é de 1m88,4cm. Para comparar, a média da Seleção Brasileira é de 1m78,8cm, quase 10cm a menos. Só Alisson, Miranda e Thiago Silva têm mais de 1m85cm.
Bola no Mitrovic
Alexsandar Mitrovic, 23 anos e 1m89cm, é centroavante daqueles de carteirinha. É para ele que, geralmente, desembocam a maioria das jogadas dos Sérvios. Thiago Silva e Miranda terão trabalho. Mitrovic ou recebe os lançamentos pelo alto, para pentear a bola ou escorá-la, ou faz o pivô e a segura para o meia Sergej Milinkovic-Savic. Contra a Costa Rica, mostrou pouca precisão nas boas chances que teve. Contra a Suíça, fez o gol sérvio. Nas Eliminatórias, no entanto, sob o comando de Mladen Krstajic, fez seis gols. O esquema o ajudava, um 4-5-1 que o abastecia o tempo inteiro. Krstajic, no entanto, perdeu o emprego depois de garantir lugar na Copa, justamente pelo pouco apetite ofensivo. Destaque da Euro Sub-19 em 2013, Mitrovic pintou como grande promessa na Europa. Rodou por Anderlecht e Newcastle e, em janeiro, chegou ao Fulham. Fwez nove gols em 12 jogos e ajudou o clube a subir à Premier League.
Sergej 1x0 Jesus
A Fifa o registra como Milinkovic-Savic, mas logo você ouvirá falar dele como Sergej. É o nome que usa sobre o número 20 da camisa. O meia de 1m92cm e estilo clássico de jogar despontou no Mundial Sub-20 de 2015, no qual a Sérvia venceu o Brasil na final por 2 a 1 (o centroavante da nossa seleção era Gabriel Jesus). Na ocasião, Sergej acabou com a chuteira de bronze. Dois anos antes, ele havia conquistado a Euro Sub-19 ao lado do centroavante Mitrovic. Seu futebol provoca uma disputa na base dos milhões entre Juventus e Manchester United neste verão europeu. A Lazio só aceita vendê-lo por 90 milhões de euros (cerca de R$ 390 milhões). Na seleção, Sergej é o meia central e, geralmente, recebe a bola às costas dos volantes para entrar área adentro.
Amarelados
Os sérvios foram protagonistas dos conflitos sangrentos nos Bálcãs, entre 1991 e 1995, que tranquilamente podem ser posicionados entre os mais cruéis da história recente. Historicamente, aliás, os sérvios estiveram envolvidos em guerras. Para ser mais preciso, desde a derrota para os turcos otomanos, no final do século 12. Portanto, fica fácil imaginar que esse DNA aguerrido foi transmitido também para o futebol. A seleção sérvia está longe de ser sutil em campo. Joga firme e pesado. Contra a Costa Rica, foram dois amarelos. Contra a Suíça, foram quatro. Vale registar que o jogo foi aquecido pelas comemorações de Shaqiri e Xhaka, em alusão a Kosovo, cuja independência é ignorada pela Sérvia. É bom Neymar controlar os nervos, porque vai apanhar bastante nesta quarta-feira. Coutinho, outro pendurado, também deve se cuidar.
O ponteiro camisa 10
Talvez Marcelo precise cuidar mais de suas saídas. Dusan Tadic, meia canhoto, joga aberto pela direita. Isso também fortalece a ideia de que Renato Augusto no lugar de Wilian e recheie o meio, empurrando Coutinho para a frente. Tadic, 29 anos, faz o corredor inteiro e nos dois jogos da Copa foi possível vê-lo em perseguição ao lateral na defesa. Sua principal virtude, no entanto, está em dominar a bola no flanco e partir para o meio, em busca do espaço para chutar ou do passe para o centroavante Mitrovic. Eleito jogador sérvio de 2016, Tadic ajudou o Southampton a escapar do rebaixamento na Inglaterra.
Espaços entre as linhas
A Sérvia adota um modelo muito claro de jogo. São duas linhas de zagueiros, mais uma linha de meio-campistas à frente deles, o meia Sergej flutuando livre e o centroavante Mitrovic batendo de frente com os zagueiros lá na frente. Quando o time é atacado, Sergej recua e faz com que nove jogadores se posicionem diante da área. Mesmo com esse congestionamento de sérvios espigados na intermediária, a marcação deixa brechas. A Costa Rica só não teve mais sucesso pela falta de qualidade. A Suíça, por sua vez, soube aproveitar os espaços que ficam entre as linhas. Se Coutinho for adiantado, pode aproveitar esses espaços em triangulações rápidas com Neymar e Gabriel Jesus.
O organizador e o lateral
Alisson e Willian conhecem bem os três nomes nomes mais famosos desta Sérvia. O goleiro é companheiro de Kolarov na Roma desde o ano passado. Atual capitão da seleção, Kolarov, 32 anos, é um lateral-esquerdo ofensivo. Algumas das boas jogadas saem dos seus pés. Antes de chegar à Roma, ele havia atuado por seis temporadas no City, com Ederson, Fernandinho e Gabriel Jesus – quando Danilo chegou, ele já havia saído. Willian também pode dar dicas para Tite. O lateral Ivanovic e o volante Nemanja Matic atuaram com ele no Chelsea. Matic, 29 anos e 1m94cm, será companheiro de Fred no Manchester United. O volante laranja é quem dita o ritmo do time. Todas as jogadas passam pelo carimbo de suas chuteiras laranjas. Milijovevic é o volante que fica mais, liberando-o para armar o time.