O gol ocorre, os jogadores comemoram e os torcedores vibram nas arquibancadas. Imediatamente, todos olham para o árbitro. Ele está pressionando o ouvido com uma das mãos e com a outra faz gesto com o braço esticado. É o sinal que começa a virar rotina no Brasileirão: vai ter VAR.
O recurso eletrônico é o novo protagonista na vida dos torcedores nas primeiras cinco rodadas da competição. A interferência não é só em lances decisivos e o impacto não se resume apenas ao resultado das partidas.
Tomando como base os jogos de Grêmio e Inter, a presença do VAR já foi responsável por marcação, desmarcação e até um possível pênalti que acabou não sendo apitado após a revisão no monitor à beira do gramado. Houve também gols anulados e validados graças ao árbitro de vídeo tanto em jogos do Inter quanto do Grêmio.
A CBF considera que a fase ainda seja de ajustes no processo de implementação do VAR. Internamente, a entidade avalia e contabiliza mais pontos positivos do que negativos com relação aos primeiros passos da maior revolução nas regras do futebol. Embora o balanço até aqui seja do agrado dos responsáveis pela implementação do recurso, qualquer pronunciamento oficial é evitado neste momento.
A promessa do chefe de arbitragem Leonardo Gaciba é de se manifestar em entrevista coletiva para fazer um balanço somente após a 9ª rodada, momento em que haverá a parada do Brasileirão para a Copa América. Para que você não precise esperar até junho, GaúchaZH analisou as interferências do VAR em todos os jogos da Dupla até aqui no Brasileirão.
1ª RODADA
Chapecoense 2 a 0 Inter
A partida foi marcada pela primeira interferência do VAR na história do Brasileirão. O jogo estava 0 a 0 e o árbitro Raphael Claus não viu um toque de mão na bola de Emerson Santos dentro da área. A decisão tomada no campo foi de marcar escanteio. Ao ser alertado pelo VAR, Claus voltou atrás e marcou o pênalti que resultou no primeiro gol da Chape. A participação do VAR representou um acerto com impacto direto no resultado do jogo.
Interferência (s) do VAR: 1. Acerto: 1.
Grêmio 1 a 2 Santos
O Santos vencia por 2 a 0 quando o Grêmio teve um gol bem anulado. André marcou depois de passe de Cortez, que estava impedido no momento do passe de Jean Pyerre. O procedimento adotado pela arbitragem foi perfeito. O bandeira Rodrigo Henrique Correa esperou o desfecho da jogada para sinalizar a infração. O VAR confirmou o acerto do campo. Cortez estava com o tronco inclinado à frente. Esse lance exemplifica o trabalho correto da arbitragem para situações de impedimento ajustado.
Interferência (s) do VAR: 1. Acerto: 1 (VAR confirmou decisão do campo).
2ª RODADA
Inter 2 a 1 Flamengo
Mais uma vez o VAR foi decisivo e ajudou a arbitragem a corrigir um erro grave. A bola bateu no braço de Rhodolfo na origem do gol marcado pelo zagueiro, que representaria o empate do Flamengo. O árbitro Flávio de Souza foi avisado sobre a irregularidade e anulou a jogada corretamente. Sem o VAR, seria praticamente impossível perceber o toque de mão no lance.
Interferência (s) do VAR: 1. Acerto: 1.
Avaí 1 a 1 Grêmio
Houve polêmica nesta partida. Depois da cobrança de falta de Montoya, o goleiro Vladimir deu um soco e a bola bateu no braço do volante André Moritz dentro da área de maneira acidental. A proximidade entre os dois jogadores do time catarinense e o fato de que o braço está em posição natural são elementos que precisam ser considerados. Não há tempo para que Moritz possa reagir, tirar o braço e evitar o contato, embora ele tenha tentado. Além disso, o goleiro deu um soco na bola para fora da grande área. Ele tinha o objetivo de afastar a jogada para uma zona distante do gol. Qual seria a vantagem do volante do Avaí ao "colocar" o braço na bola? Nenhuma. O Grêmio reclamou pênalti, mas o VAR acertou ao não interferir na decisão do campo porque a interpretação do juiz principal foi correta. Não houve a penalidade.
Interferência (s) do VAR: 0. Erro: 0.
3ª RODADA
Palmeiras 1 a 0 Inter
Entendo que houve um pênalti não marcado para o Inter neste jogo. Em uma disputa na grande área, Felipe Melo ignorou a bola, observou a posição de Rodrigo Moledo, mirou o corpo e deu um tranco ilegal para impedir que o adversário pudesse jogar. Felipe Melo em nenhum momento disputou espaço, pois não pode haver isso quando um dos atletas não tem a condição de alcançar a bola. Moledo até esboçou reclamação, mas levantou rapidamente para voltar a disputar a sequência da jogada. Foi uma situação rápida no contexto do jogo e passou despercebida pelo VAR. Entretanto, era um lance em que o árbitro de vídeo poderia ter solicitado a revisão do juiz principal no monitor à beira do gramado.
Interferência (s) do VAR: 0. Erro: 1 (ao não recomendar revisão).
Grêmio 4 x 5 Fluminense
Houve um acerto decisivo do VAR. O bandeira marcou impedimento depois do gol marcado por André. Viu irregularidade no momento do passe de Jean Pyerre para Cortez na origem da jogada. Na checagem, o árbitro de vídeo percebeu que a condição era legal e a decisão do campo foi alterada sem a necessidade de revisão do árbitro principal no monitor. O árbitro Raphael Claus revisou um lance de possível pênalti para o Grêmio aos 50 minutos depois de ser chamado pelo VAR. O árbitro Raphael Claus acertou na decisão de não marcar a infração. O lance foi acidental.
Interferência (s) do VAR: 2. Acerto: 2 (VAR modificou decisão do campo no primeiro lance e, no segundo, recomendou a revisão, mas o árbitro acertou ao manter a decisão de campo). *O pênalti cometido por Kannemann é um lance de interpretação e que divide opiniões. Por isso, a falta de interferência do VAR não pode ser considerada um erro.
4ª RODADA
Inter 3 a 1 Cruzeiro
O árbitro Raphael Claus não tinha o que fazer no primeiro gol do Cruzeiro. No entanto, o VAR deveria ter solicitado que o árbitro revisasse a jogada no monitor à beira do gramado. Embora Dedé estivesse em posição legal para marcar o gol, o centroavante Fred estava em posição de impedimento e disputou a bola com Rodrigo Moledo na origem da jogada. Isso caracteriza a irregularidade por impedimento. O lance foi apenas checado pela equipe de vídeo na cabine, mas não houve interferência.
Interferência (s) do VAR: 0. Erro: 1 (ao não recomendar revisão).
Corinthians 0 a 0 Grêmio
O VAR foi utilizado pelo árbitro Marcelo de Lima Henrique para anular um pênalti. O juiz havia apitado a infração depois que o chute de Everton desviou no braço de Fagner dentro da área. O árbitro de vídeo recomentou que a jogada fosse revisada no monitor à beira do gramado. Depois de conferir a imagem, Marcelo de Lima Henrique voltou atrás. A decisão final foi correta. Não houve o pênalti e o VAR ajudou a corrigir um erro grave.
Interferência (s) do VAR: 1. Acerto: 1.
5ª RODADA
Inter 2 a 0 CSA
O gol marcado por Víctor Cuesta na vitória do Inter sobre o CSA foi bem anulado com o auxílio do VAR. Embora a posição do zagueiro argentino fosse legal, há outro elemento a ser considerado. Emerson Santos estava em posição de impedimento e acabou interferindo ao disputar a jogada com o defensor adversário. Isso caracteriza a irregularidade por impedimento e o VAR agiu decisivamente ao solicitar a revisão do juiz principal no monitor à beira do gramado. É um caso bastante semelhante ao gol do Cruzeiro na rodada anterior em que a arbitragem de vídeo agiu de forma diferente.
Interferência (s) do VAR: 1. Acerto: 1.
Ceará 2 x 1 Grêmio
Não houve qualquer incidência para o VAR.
Outros lances que chamaram atenção
1ª RODADA
Fluminense 0 a 1 Goiás
O Fluminense teve gol anulado com o auxílio do VAR quando o jogo estava 0 a 0. Everaldo chutou de fora da área, mas a arbitragem consultou o monitor à beira do gramado e considerou que Luciano interferiu claramente no campo visual do goleiro do Goiás. O gol seria validado no campo e foi mal anulado no vídeo. Foi um caso em que o VAR acabou interferindo de maneira indevida e fez com que o juiz principal fosse induzido ao erro. O jogo ainda teve um pênalti desmarcado e outro marcado com o auxílio do VAR, ambos corretamente.
3ª RODADA
Botafogo 1 a 0 Fortaleza
Houve pênalti não marcado para o Fortaleza. Wellington Paulista foi empurrado por Gilson dentro da área. Wagner Reway não havia marcado e foi alertado pelo VAR, que era Leandro Vuaden. Mesmo depois de conferir a imagem no monitor à beira do gramado, Reway não voltou atrás. Mandou o jogo seguir. Apesar da interferência decisiva do VAR para tentar corrigir um erro, Reway errou ao manter a ideia de não marcar nada. Vale lembrar que a decisão final sempre será do árbitro.
4ª RODADA
Goiás 2 a 1 Ceará
O VAR evitou a anulação de um gol legal do Goiás. O bandeira viu impedimento de Marlone e sinalizou a infração depois que a jogada foi concluída. Só que Marlone estava em condição legal na origem. Caio Max esperou a avaliação de Héber Roberto Lopes, que estava no VAR. Esse lance é um bom exemplo para mostrar a relação entre acerto e demora. Foram necessários quatro minutos entre o momento em que o gol foi marcado e a decisão final de validar a jogada. Esse é um ponto de ajuste necessário no VAR. Com o tempo, as coisas tendem a andar mais rapidamente. Ainda assim, é melhor demorar e acertar do que cometer erros rápidos.
Como estão as mudanças nas regras do futebol
Deu confusão
- Jogadores, treinadores, dirigentes e torcedores ainda não entenderam que há diferença entre toques de mão ou braço na bola para situações de ataque e defesa. Nem toda bola que bate no braço ou na mão do zagueiro dentro da área será pênalti. Essas jogadas seguem sendo interpretativas. Por outro lado, sempre será infração quando a bola toca no braço ou na mão de um jogador atacante que está marcando ou criando uma jogada de gol.
- A mudança com relação ao procedimento de bola ao chão gerou dúvidas. Não há mais disputa de bola nesses casos. O bola ao chão sempre é dado para o jogador do time que tocou a bola por último e no local onde isso ocorreu. Os adversários precisam ficar a quatro metros de distância. Quando isso ocorre dentro da área, a bola deve ser jogada ao chão para o goleiro.
- A tentativa de diminuir o empurra-empurra na barreira durante as cobranças de faltas ainda precisa ser ajustada. Uma medida judicial impede que os árbitros utilizem o spray e isso causa mais dificuldades na hora de posicionar a barreira de jogadores atacantes a um metro de distância. Isso gera demora para a cobrança da falta. Chegou a hora de ser mais rigoroso e punir os infratores com cartões.
Deu certo
- A possibilidade de aplicação de cartões amarelos e vermelhos para treinadores e integrantes de comissões técnicas melhorou o comportamento nos bancos de reservas. Além disso, a forma de punição ficou mais clara quando há alguma advertência.
- A obrigação de que jogadores substituídos deixem o campo pela linha mais próxima deu mais agilidade nas substituições. Além disso, acabou com as recorrentes tentativas de atrasar o jogo por parte dos times que estão em vantagem no placar.