A tragédia de Heysel, na Bélgica, teve um efeito devastador sobre o futebol inglês. Em 1985, durante a final da Liga dos Campeões da Europa, os poucos policiais, além das grades que separavam seguidores de Liverpool e Juventus, não foram suficientes para evitar um confronto entre as duas torcidas. Foram 38 mortos e 454 feridos (270 hospitalizados). Os torcedores dos Reds levaram a culpa pelo massacre. Como consequência, os clubes do país foram suspensos de competições internacionais durante cinco anos. O Liverpool acabou pagando seis. A primeira-ministra Margaret Thatcher apoiou a decisão da Uefa.
Assim como na partida entre Atlético-PR e Vasco - no último domingo, em Joinville, pela última rodada do Campeonato Brasileiro -, consumado o desastre, a bola rolou. A única diferença foi que, no estádio belga, os times ainda não haviam dado o pontapé inicial.
- Foram três causas: a vontade de brigar, sobretudo por parte da torcida do Liverpool. A escolha do estádio, que estava em péssimas condições e seria demolido em seguida. E a desastrosa operação policial, que não soube lidar com o público. Insistiram muito no hooliganismo, mas esqueceram dos outros dois pontos. Sobre o castigo aos ingleses, acho que não foi uma medida paliativa para o momento - indica o jornalista inglês Tim Vickery, correspondente da emissora inglesa BBC no Brasil.
A barbárie colocou o futebol inglês no limbo. Além da violência, o futebol carecia de estrutura para as divisões inferiores. 18 antes de Heysel, um incêndio destruiu, em poucos minutos, parte do estádio Valley Parade, local onde jogavam Bradford City x Lincon City, pela Terceira Divisão do Campeonato Inglês. O saldo foi de 56 mortos e 265 feridos.
Como resposta ao acontecimento na Bélgica, os inventores do futebol elaboraram o Football Licensing Authority (FLA), cujos preceitos eram claros: clubes ficavam responsáveis pela segurança dos estádios, que deveriam oferecer o máximo de conforto em solo inglês.
Apesar do desastre e da punição, a onda de violência permaneceu na Terra da Rainha até 1989, quando 96 torcedores do Liverpool morreram esmagados ou asfixiados, antes e durante o jogo entre os Reds e o Nottingham Forest pela semifinal da Copa da Inglaterra daquele ano. O episódio - que desta vez não foi causado pela barbárie do púbico -, ficou conhecido como a "Tragédia de Hillsborough". Foi a gota d'água para o "basta".
- Hillsborough só aconteceu por causa de Heysel. Foi o momento chave. Colocar pessoas juntas num espaço reduzido é um risco. Claro que a violência existe e não acabou. Mas a Inglaterra soube combatê-la - completou Tim Vickery.
Em janeiro de 1990, o Relatório Taylor dá sinal verde para o Football Licensing Authority e uma mudança radical que trouxe: redução da capacidade dos estádios, aumento dos preços dos ingressos, instalação de assentos para que todos os torcedores fiquem sentados, retirada dos alambrados para evitar esmagamentos, distribuição de tarefas entre autoridades na organização dos jogos e câmeras monitorando os passos dos torcedores, desde a parte externa dos estádios até as tribunas.