Quatro meses após os testes da pré-temporada, o Mundial de Fórmula-1 enfim terá início neste final de semana. O campeonato será aberto pelo GP da Áustria, marcado inicialmente para ser apenas a 11ª prova do ano e que teve nesta sexta-feira (3) os primeiros treinos livres. A RBS TV transmite a prova no domingo (5), às 10h. A drástica mudança escancara o que foram os últimos meses para a principal categoria de automobilismo do mundo, com impasses, dúvidas e seguidas alterações no calendário.
Dentro da pista, nada de “novo” normal. A velha ordem foi mantida, com a Mercedes na frente nas duas sessões de treinos livres no veloz circuito localizado em Zeltweg, entre as montanhas e pequenas fazendas do interior austríaco. Lewis Hamilton ficou na frente em ambas atividades, e quem surpreendeu foi a Racing Point, com o mexicano Sergio Pérez em terceiro.
Nos bastidores, a pandemia do coronavírus tornou a temporada de 2020 uma das mais tumultuadas da história de 70 anos da F-1. A indefinição teve início com o cancelamento de última hora do GP da Austrália, que deveria abrir o campeonato no dia 15 de março. Os pilotos nem chegaram a participar do primeiro treino livre. Ou seja, não entram na pista desde os testes da pré-temporada em Barcelona, no final de fevereiro.
— Isso nunca aconteceu. Na verdade, nosso mundo nunca viveu da forma como está hoje. A FIA (Federação Internacional de Automobilismo) está fazendo passo a passo. Até agora confirmou só a fase europeia, enquanto está organizando as outras corridas fora da Europa — afirma Luciano Burti, ex-piloto de F-1 e comentarista da TV Globo.
Nestes quatro meses longe do asfalto, os pilotos viram o calendário sofrer um brusco encolhimento. As 22 etapas, que seriam um recorde da categoria, se tornaram apenas oito até agora. Ficaram pelo caminho provas tradicionais, como as de Mônaco e do Japão. O GP da Holanda precisou adiar a sua reestreia na categoria para 2021.
— Eu nunca tinha visto isso desde que acompanho F-1. Sempre havia aquela imagem de que não muda nunca, de que (a categoria) faz de tudo para evitar mudanças. O que está acontecendo é uma exceção, como com tudo no mundo — diz Tarso Marques, também com passagem pela categoria.
Preocupada com as indefinições causadas pela pandemia, a direção da F-1 fez algo incomum ao promover rodadas duplas no mesmo circuito, tanto na Áustria (também no próximo dia 12) quanto na Inglaterra (nos dias 2 e 9 de agosto). As outras corridas confirmadas serão na Hungria (19/7), Espanha (16/8), Bélgica (30/8) e Itália (6/9).
— A logística não é simples, mas as rodadas duplas, como nos dois primeiros fins de semana, na Áustria, facilitam essa questão — avalia Burti.
A F-1 elaborou um extenso protocolo para a realização das corridas. Além da ausência de torcida, também está limitada a presença de pessoas no paddock. Cada equipe terá apenas 80 integrantes, e nem mesmo os motor homes que servem como base para cada time estarão nas pistas. Toda movimentação será feita na estrutura existente de boxes.
Incógnita
Depois da prova italiana, o calendário é uma incógnita. Adiados, os GPs do Bahrein, Vietnã, Canadá e China ainda têm chance de serem disputados neste ano. Já as corridas na Rússia, Estados Unidos, México, Abu Dhabi e até no Brasil seguem em aberto. Circuitos conhecidos, como os de Mugello (Itália), Ímola (San Marino) e Algarve (Portugal), podem reaparecer no campeonato deste ano. Estes traçados foram alvos de intensos rumores nos últimos meses.
O clima de indefinição atingiu também o mercado de pilotos. O alemão Sebastian Vettel foi o protagonista ao anunciar que deixará a Ferrari no final do ano. Ele não definiu o seu futuro, o que dá combustível para novas especulações.
A saída de Vettel causou um efeito dominó. Para o seu lugar, o time italiano contratou Carlos Sainz Jr.. A vaga do espanhol na McLaren será preenchida pelo australiano Daniel Ricciardo. E, para o lugar vago na Renault, Fernando Alonso passou a ser cogitado, em um eventual retorno à F-1.
Hamilton lidera combate ao racismo
Uma das novidades da temporada 2020 está na Mercedes. Historicamente conhecida por correr sempre com carros prateados, a equipe alemã mudou a pintura dos bólidos e dos macacões de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas para o preto. A mudança faz parte das iniciativas de combate ao racismo — movimento liderado justamente por Hamilton, único piloto negro na história da categoria e principal nome do esporte na atualidade.
Além da nova pintura, os carros terão a mensagem "End Racism" (acabe com o racismo, em inglês) no protetor de cockpit. Segundo a Mercedes, o movimento Black Lives Matter (vidas negras importam, em inglês) acendeu a luz sobre a necessidade de se posicionar a favor do combate ao racismo.
Recentemente, Hamilton foi às ruas de Londres e participou de manifestação contra o racismo, uma entre tantas que surgiram ao redor do mundo desde a morte de George Floyd. Hamilton, que levou um cartaz com a inscrição "Black Lives Matter", também cobrou que seus colegas de F-1 se posicionem mais no combate às questões raciais.
Ontem, o hexacampeão falou sobre as críticas. Segundo Lewis, seus comentários também pretendiam mexer com toda comunidade da F-1.
— No fim das contas, a percepção das pessoas foi de ser um ataque aos pilotos, mas não era. Eu estava falando sobre a F-1 inteira. É algo que sei há muito, muito tempo e que ninguém fez nada contra. No mundo atual, nós todos temos uma plataforma para usar nossas vozes. Todos temos seguidores, nossas vozes são poderosas. Se você não tenta encorajar as pessoas a entender a situação e o motivo para estarmos nela, isso é frustrante — afirmou o britânico em vídeo.
— Este não é o momento de ficar em silêncio. É o momento de espalhar uma mensagem, de se unir. Eu queria chamar todos na nossa indústria. O esporte precisa fazer mais, a FIA precisa fazer mais. Nós todos precisamos fazer mais — completou Hamilton.
Programação
GP da Áustria
Red Bull Ring — 71 voltas
SÁBADO
7h — Treino livre 3 (SporTV)
10h — Classificação (SporTV)
DOMINGO
10h — Corrida (RBS TV)