Há pouco menos de 20 dias, além de assuntos envolvendo Nico Rosberg e Lewis Hamilton no GP da Inglaterra, a Fórmula-1 esteve em pauta por outro motivo. Refiro-me ao eventual cancelamento de contrato entre a prefeitura paulistana – responsável pelo autódromo de Interlagos – e a agência promotora da categoria no Brasil.
Agora, passada a temporada das notas oficiais emitidas por ambas as partes, verifica-se que o quase cancelamento da corrida foi recebido pelos aficionados com angústia, sentimento que durou na mesma medida em que fizeram parte do noticiário: dois dias.
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Particularmente, confesso que esperava o cancelamento. E explico o motivo. Minha oposição à promoção de uma corrida da Fórmula-1 em São Paulo – ou qualquer outra cidade de nosso país – estende-se às demais manifestações perdulárias de uma administração que enfrenta problemas. A prefeitura de capital paulista não dispõe de recursos para melhorar o sistema de transporte coletivo, aparelhar suas escolas, hospitais, creches e asilos, quase todos sendo monumentos de carências elementares – sem falar na falta de verba para atualizar o salário dos servidores públicos. Não deveria, por isso, bancar espetáculos de show business – principalmente um evento esportivo multinacional caríssimo.
A corrida vai ocorrer (aliás, devidamente confirmada para os dias 11, 12 e 13 de novembro). Alguma prata, em tudo isso, vai mudar de mão. Os salões da prefeitura se abrirão para um jantar de gala às estrelas da F-1 e aos profissionais nativos da boca livre. Bonito? Talvez. Mas e a eterna pergunta que não quer calar? O que esta corrida tem a ver com as pessoas desprovidas de orçamento fixo mensal – ou aquelas que sofrem nos lotados salões de emergência, fato quase que semanalmente noticiado?
Muitos alegarão que o comércio, o aeroporto e, claro, os hotéis farão um bom dinheiro com a vinda de turistas para a F-1 – esta, sem dúvida, a desculpa oficial. Sendo assim, que estas entidades, agregados e demais beneficiários da festa, se cotizem para bancar a fatura da F-1. Não o cidadão comum. Até porque, este não foi convidado (alias, nunca foi…).