Apesar de ter sido escrita nos primórdios da narrativa romântica no país, a obra rompe com os padrões sentimentais do período. Manuel Antonio de Almeida institui um realismo miúdo, quase trivial, em que as paixões desmedidas e os truques melodramáticos - tão valorizados na época - cedem lugar ao humor e ao registro do cotidiano das classes médias e das camadas populares (os "pobres livres").
O que observar
1) Embora a descrição dos costumes do "tempo do rei" (João VI), seja um dos alvos do romancista, é a parte menos significativa do texto. Este só se transforma em obra interessante pela fixação de um mundo em que imperam o relativismo moral, os deslizes éticos e certo cinismo generalizado.
2) Quase todos os personagens agem movidos por interesses pessoais, transitando da ordem (o sistema social e suas regras) para uma realidade sem normas rígidas, em que quase tudo é permitido. Leonardo Pataca, Maria da Hortaliça, Leonardo, o major Vidigal, o compadre e tantos outros desejam apenas aproveitar ao máximo a existência. Se, para isso, precisarem romper com os escrúpulos, o fazem naturalmente, sem muitos dramas de consciência.
3) A revelação dos interesses ocultos dos personagens encontra sua melhor síntese no capítulo IX, O "arranjei-me" do compadre. Releia-o para perceber a falta de ética do barbeiro e a visão humorística do escritor, que em vez de tratar o fato como problema, o trata como anedota.
4) Não esquecer que, neste romance, ocorre a emergência literária da malandragem brasileira, por meio da figura hilária de Leonardo. Vadio, divertido, sempre metido em confusões, acaba sendo alvo da perseguição por parte do major Vidigal, disso resultando parte considerável da ação do texto.
Dica do professor
> Leia outra vez o capítulo I, Origem, nascimento e batizado, pois no vulgar nascimento de Leonardo, "filho de uma pisadela e de um beliscão", já se desenha seu destino futuro.
> Lembre as duas jovens entre as quais se move Leonardo: Luisinha (a moça para o casamento) e Vidinha (a moça para a diversão).
> Não se esqueça também de retomar o capítulo XXIII, Declaração, o mais engraçado do livro. Através dele, o romancista mostra sua ótica demolidora a respeito dos cacoetes românticos e de sua falsa sentimentalidade.