Uma estudante do Ensino Médio do Colégio Farroupilha, escola particular de Porto Alegre, foi xingada por colegas ao comemorar a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no grupo do WhatsApp das turmas do terceiro ano. Os insultos foram feitos no domingo (30), logo após o resultado das urnas confirmarem a vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro. Nesta sexta-feira (4), a instituição de ensino emitiu nota afirmando que repudia qualquer tipo de intolerância ou discriminação.
A aluna, que tem 17 anos, mandou um áudio no grupo celebrando a eleição do petista. Em seguida, foi chamada de "chinela" e "nojenta", entre outros xingamentos. Bolsista há 10 anos do Farroupilha, também foi humilhada pelos colegas, que escreveram: "Vamos cortar tua bolsa", "Vai embora do Farroupilha, petista", "Aqui não é teu lugar" e "Quando tu não conseguir emprego, não vou ser eu que vou fazer caridade e ser tua patroa".
Em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente, GZH não divulga o nome da aluna.
O grupo do WhatsApp se chama "Bonde do Terceirão" e, segundo a assessoria do Colégio Farroupilha, não tem a participação de professores ou demais funcionários da escola.
Em contato com a reportagem, a mãe da estudante contou que tem conversado constantemente com a filha desde o episódio e que ela está bem emocionalmente. Também disse que a menina retornou à escola na quinta-feira (3), já que as aulas ocorreram de forma virtual nos primeiros dias após o segundo turno de eleições - uma decisão que a escola havia anunciado antes do resultado das urnas.
Para a mãe, o comportamento dos estudantes que xingaram sua filha extrapola a liberdade de expressão:
—Isso é falta de caráter, não (questão de) opinião. Eles acham que têm poder porque têm dinheiro. Eles acham que têm poder de dizer que a minha filha não vai na formatura dela só porque eles não querem que ela vá.
A GZH, a aluna afirmou que nenhum colega a agrediu fisicamente nem verbalmente quando retornaram à aula presencial. Afirmou que está decepcionada com as mensagens que leu no WhatsApp.
— Muitas pessoas que falaram aquilo são meus colegas. Nós estaremos juntos na foto de formatura. O que eles falaram me chocou. Eram pessoas por quem eu tinha carinho. Isso me fez repensar. Mas também recebi mensagens de colegas que pediram desculpa pela turma, dizendo que não concordavam com o que havia sido dito — diz.
Na quinta-feira (3) a mãe da aluna registrou boletim de ocorrência na Delegacia de Combate à Intolerância de Porto Alegre. A delegada Andrea Mattos informou que vai encaminhar o caso à 3ª Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente (3ª DPCA).
— Aqui, nós trabalhamos com crimes de raça, cor, etnia, religião, LGBTfobia e casos de deficiência. Esse caso da aluna não se enquadra nessas situações — justificou.
A reportagem também entrou em contato com alunos que xingaram a colega no WhatsApp, mas nenhum quis conversar. O Colégio Farroupilha informou que "aplicou penalidades" aos estudantes que tiveram "conduta inaceitável". Questionada, a instituição respondeu que não daria detalhes sobre estas penalidades.
O Ministério Público (MP) informou que recebeu denúncia e instaurou procedimento para investigar o caso. A promotora Regional da Educação de Porto Alegre, Ana Cristina Ferrareze, expediu ofício solicitando que a instituição informe, em 48 horas, se tem conhecimento dos fatos, quais eventuais providências adotadas e identificação dos adolescentes envolvidos. Além disso, a promotora encaminhou os casos ao Núcleo do Ato Infracional do MPRS – Ciaca, Promotoria de Justiça da Infância e Juventude – Núcleo Articulação/Proteção.
Veja na íntegra a nota do Colégio Farroupilha:
O Colégio Farroupilha repudia discursos ou ações que disseminem qualquer tipo de intolerância, violência ou discriminação e espera a mesma postura de todos que fazem parte da comunidade escolar. A conduta inaceitável de alguns estudantes não representa os valores da instituição e, por isso, houve a imediata aplicação das penalidades previstas no Código de Conduta e Convivência da escola.
Lamentamos que o atual momento de tensionamento vivenciado pela sociedade reflita no ambiente escolar. Nessa perspectiva, nos comprometemos a trabalhar fortemente para que a boa convivência, o respeito às diferenças e a ética sigam priorizados em nossa prática pedagógica.