Com 40 metros quadrados, a garagem da casa dos pais de Vagner Baldasso foi o primeiro escritório da Baltec Soluções Elétricas. No local, o estudante de Engenharia Elétrica da Unisinos guardava as ferramentas e os materiais que eram utilizados em seus serviços. Mas, naquela época, os equipamentos ficavam parados por até uma semana por causa da falta de clientes – uma das muitas dificuldades que surgiram e foram superadas no decorrer do negócio.
Sediada desde o início em Carlos Barbosa, na serra gaúcha, a Baltec atualmente funciona em um espaço quase sete vezes maior do que a garagem que ocupava em 2015, quando foi fundada. A empresa atua na área de automação industrial, presta serviços elétricos para indústrias e residências e neste ano passou a produzir e vender painéis elétricos prontos. Além de Baldasso, conta com outro sócio, Douglas Ribeiro, além de sete funcionários.
— No início, passei vários meses difíceis, porque tinha serviço para um dia, mas não tinha para três. Eu ficava um dia sem trabalhar, às vezes uma semana, e não entrava dinheiro, mas tinha que pagar as contas. Então, às vezes, fazia um empréstimo aqui, um ajuste ali e aí foi se ajustando. Depois de um tempo, não fiquei mais parado — relembra o estudante, que hoje tem 36 anos.
Técnico em mecânica e em automação industrial pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-RS), Baldasso trabalhou em empresas do setor até 2012, quando decidiu pedir demissão e oferecer serviços por conta própria. Nesse período, conseguia trabalhos pontuais de automação e de instalações elétricas em casas e prédios com a ajuda de um amigo, Marcelo Leal, que era microempreendedor.
Em dezembro de 2015, contrariando a opinião da família e seguindo conselhos dos amigos, ele fundou a Baltec. Essa vontade de empreender, explica, foi impulsionada principalmente pela dificuldade em conciliar oito horas diárias de trabalho com a rotina universitária e vida pessoal:
— Eu chegava em casa entre meia-noite e 1h, e às 6h já tinha que sair para ir até Bento Gonçalves, onde eu trabalhava. Percebi que esse era um caminho mais difícil e decidi facilitar minha vida, com aquela falsa ideia de poder trabalhar em qualquer horário na minha própria empresa.
Ele passou os anos seguintes trabalhando somente em parceria com o amigo, atendendo clientes pela região da Serra e do Vale dos Sinos, sem precisar contratar funcionários. Mas, a partir de 2019, a demanda de serviço começou a aumentar, até chegar a um ponto em que não conseguia mais tocar a empresa sozinho – foi então que Ribeiro, hoje com 29 anos, entrou na Baltec.
Com a chegada do novo sócio, o negócio começou a evoluir. Eles contrataram os primeiros funcionários, por meio de indicações do Senai, e, em fevereiro de 2020, já tinham quatro colaboradores. Também deixaram a garagem onde tudo começou e alugaram um pavilhão com mais espaço para montar os painéis. Já a mudança para a sede atual – uma estrutura com recepção, cozinha, escritório e área de trabalho, que também é alugada – ocorreu em janeiro deste ano.
Início turbulento devido à falta de experiência
Por não ter nenhuma experiência prévia no ramo dos negócios, Baldasso enfrentou muitos desafios no início de sua trajetória como empreendedor. O primeiro foi entender como cobrar pelos serviços prestados e quanto do valor recebido seria o seu lucro.
— Antes, eu ganhava só um salário e tinha que me manter com aquilo. Agora, tinha uma empresa, tinha que fazer nota, pagar impostos, comprar material e cobrar do cliente. Ainda tem deslocamento, ferramentas e o conhecimento investido, que tinha que encaixar no meio — enumera, relatando que demorou a entender que todos esses itens deveriam estar inclusos no preço e que perguntava para conhecidos quanto eles cobravam por seus trabalhos para então estabelecer um valor.
A falta de planejamento financeiro também foi um problema, especialmente nos períodos em que ficava até uma semana sem conseguir clientes. Diante desta situação, Baldasso também recorreu a pessoas com mais experiência: perguntava como administravam seus negócios e, assim, foi aprendendo. Buscou ainda dicas na internet, mas, na época, o leque de informações disponíveis era mais escasso. Então, em 2018, participou de cursos sobre finanças para empresários.
A Baltec começou apenas com um investimento de R$ 2 mil em ferramentas e um veículo de R$ 16 mil. Hoje, o sócio enxerga que o correto é ter dinheiro guardado ao deixar um emprego com remuneração fixa para empreender:
— Eu não fiz isso, não parei para analisar que tinha que ter uns R$ 15 mil em conta para ficar um ano tranquilo. Se a pessoa quer abrir um negócio, tem que ter uma certa grana guardada para poder se sustentar por um período, pois não sabe se o mercado vai te receber bem. Então, em um primeiro momento, tem que estar organizado financeiramente.
Além da possível falta de clientes, ele destaca que empresas que prestam serviços têm gastos com impostos, ferramentas e materiais. Por isso, indica que os novos empreendedores busquem ajuda com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) ou com consultores – o que também requer investimento.
— Tem que buscar conhecimento para saber como organizar tudo isso, e o dinheiro é uma ferramenta importante — opina.
Desde 2020, a Baltec conta com o apoio do Sebrae e do Sistema Integrado de Monitoramento Execução e Controle do Ministério da Educação (Simec), que oferecem cursos, mentorias e reuniões de negócios.
Investimento em comercial e equipe engajada
Outro desafio foi aprender a vender o serviço da Baltec. Baldasso comenta que, no começo, trabalhava muito por indicação: do pai, que era pedreiro, de contatos que adquiriu nas empresas onde atuou e de clientes antigos. Mas, fora as indicações, tinha dificuldade para conquistar mais clientes. Também faltava tempo e recurso para investir no setor comercial da empresa, já que ainda trabalhava sozinho. Por isso, a chegada do novo sócio foi bem importante.
Ribeiro conta que, antes de entrar na Baltec, foi sócio de uma empresa de materiais elétricos e trabalhou em outras companhias grandes, então já tinha certa experiência na parte estratégica e comercial, que o ajudou a melhorar muitos aspectos no novo negócio. Ele destaca que Baldasso é bem focado na execução do serviço, então, é complicado dividir essa dedicação com questões administrativas, financeiras e comerciais.
Em função disso, eles acabam dividindo as funções, mas conversam sobre tudo e têm uma comunicação que funciona e ajuda a empresa a crescer:
— O Vagner sempre foi o cara do conhecimento técnico, mas, ao mesmo tempo, tinha toda essa outra parte da empresa que tinha que ser feita, e eu já tinha um pouco de conhecimento nisso. Então, a gente administra as coisas dessa forma: técnico é com o Vagner e eu fico mais com a parte administrativa e comercial.
Hoje, a Baltec está em busca de um funcionário para a área comercial, mas já começou a dar mais atenção para a presença nas redes sociais, por exemplo. De acordo com Ribeiro, eles também escolheram investir em uma equipe jovem e qualificada, que comprou a ideia da empresa e vem dando um bom resultado para formar a identidade da empresa.
Empreendedorismo no RS
Com o objetivo de apresentar histórias inspiradoras, a série contará semanalmente as trajetórias de empreendedores que transformaram uma ideia ou um sonho em realidade. Fundadores e sócios de 10 empresas de diferentes cidades gaúchas compartilharão os desafios superados e darão dicas para quem deseja abrir seu próprio negócio nos ramos de tecnologia no campo, saúde, moda, cuidados com o corpo, entre outros.
— A gente parou e analisou: vamos querer correr o risco de crescer com rapidez com uma equipe mais preparada ou preferimos crescer mais sólidos, em uma velocidade mais lenta, com uma equipe que vai evoluir conosco? A gente preferiu trabalhar com uma equipe jovem, vender a nossa ideia e acho que funcionou. Uma empresa não é feita de negócios, mas sim de relacionamentos, e a Baltec conseguiu achar pessoas que compraram a ideia — diz Ribeiro.
A gestão dos colaboradores é outro tópico que está sendo desenvolvido pelos sócios. Mesmo com alto conhecimento técnico, alguns funcionários estão no primeiro emprego e não têm experiência no atendimento aos clientes. Portanto, Baldasso e Ribeiro ajudam nesse contato, fazendo um meio de campo. Ambos também participam dos cursos obrigatórios do setor, para dar o exemplo e incentivar a equipe.
Bom relacionamento com os clientes
Apesar do bom momento – impulsionado pelo crescimento de clientes durante a pandemia – Ribeiro aponta que uma empresa pequena tem muitas necessidades e que, hoje, a Baltec vem amadurecendo essas resoluções. Ele salienta que a presença de profissionais capacitados na equipe diminui o peso das demandas sobre os sócios, que podem se dedicar a fortalecer o relacionamento com os clientes e buscar novos mercados.
— Hoje, conseguimos manter nossa estrutura funcionando sem estarmos lá. Conseguimos ter tempo para dar mais atenção aos nossos clientes, a gente não vai até o local só para ver o serviço que foi feito, a gente vê como está, se existe algum problema, e os clientes confiam em nós — comenta Ribeiro.
Baldasso acrescenta que também fazem um forte trabalho para manter as parcerias antigas – muitos dos clientes que atendia antigamente, por exemplo, seguem com a Baltec:
— A gente tem um problema, que é buscar novos clientes, que estamos tentando resolver mexendo no Instagram, contratando alguém para o comercial. Mas, com a vinda do Douglas, um foco que criamos foi manter o que a gente tem. Visitar, tomar um café, criar essa relação mais forte, que antes não tinha.
Dicas para empreender e futuro do negócio
Ribeiro destaca que, para empreender, é necessário ter persistência e acreditar no desenvolvimento da empresa. Com isso, a pessoa não terá medo de dar o primeiro passo e conseguirá resolver as dificuldades que aparecerão pelo caminho.
— Tem dias ruins, às vezes tem feedback de clientes que você não gostaria de escutar, tua equipe está desanimada, você está cansado. Mas precisa ter a cabeça pronta para tomar uma decisão diferente quando não consegue enxergar mais nenhuma alternativa. Aqui, a gente sempre vê as possibilidades, se dá um aperto, vemos o que se pode explorar e conseguimos desenrolar outras frentes, investir em novos negócios — afirma.
Para Baldasso, o empreendedor precisa reconhecer seu potencial e ter a cabeça aberta para mudar junto com a estratégia, com a consciência de que vai tomar decisões certas e erradas:
— Eu era técnico, tinha um baita conhecimento e fiquei amarrado por muito tempo por medo, pensando: “será que eu consigo?”. Eu não sabia se eu era capaz de fazer até realmente pegar e fazer. E, com isso, evoluí muito como pessoa.
Neste ano, ao notar uma queda no faturamento, os sócios decidiram iniciar a produção de painéis próprios para controlar bombas de água e estão desenvolvendo um projeto de automação residencial acessível.
No total, eles já investiram cerca de R$ 200 mil na empresa, que hoje fatura de R$ 80 mil a R$ 100 mil mensais – muito acima dos R$ 50 mil anuais que atingia nos primeiros anos. As principais metas de Baldasso e Ribeiro envolvem tornar a empresa mais sólida e ampliar o crescimento. Quando isso acontecer, poderão pensar em aspectos mais estratégicos e expandir o negócio, abrindo uma filial em São Paulo.